Santo Paulo, o velho louco: as histórias da mascote que quase foi presa
O Flamengo vencia o São Paulo por 1 a 0 nas oitavas de final da Copa São Paulo de 2011, em Limeira, no interior paulista, quando dois policiais deram voz de prisão a uma mascote. No caso, o Santo Paulo, a mascote tricolor. Dentro da fantasia estava Severino Bianchi, 55. "O pau estava comendo na torcida do Flamengo e jogaram uma bandeira do São Paulo na minha direção Eu, meio sem noção, peguei a bandeira e comecei a balançar. Quando eu vi, o pau estava comendo para cima de mim. Só lembro de estar sendo preso",
A mascote foi detida porque brigou com um dos policiais que tentava tirar a bandeira de suas mãos. Acabou sendo levado para a mesma sala onde estavam os flamenguistas envolvidos na confusão inicial, também presos. "O quartinho estava lotado de flamenguistas. O policial me mandou entrar, virei as costas e saí andando".
Eles começaram a pedir documento, eu só respondi: 'e boneco lá tem documento?'. A minha sorte foi que a diretoria já estava descendo e livrou a minha cara, senão, o negócio ficaria feio. Pô, boneco não tem documento, não. Depois disso, fizeram uma identidade para mim. Tenho até cartão de banco agora".
O episódio serve para traçar o perfil do homem que anima o Morumbi há 20 anos. Desde que o Santo Paulo foi criado, Severino é o responsável por dar personalidade à mascote tricolor. Antes de encarnar o personagem, ele trabalhava como motoboy para o São Paulo. Na nova área, optou por criar um perfil "velho louco" para o boneco tricolor.
"Quando eu contei para a minha filha que seria a mascote do São Paulo, ela disse que era a minha cara, que eu era o maior palhaço. Na primeira vez, contra o Santos, em 2002, eu enlouqueci em campo. Olhei a torcida gritando e fiquei maluco. Acabei aprontando mais do que de costume. Todo mundo fala que o Santo Paulo é o velho louco".
O boneco maluco do São Paulo sofreu nas mãos de Rigoni na semifinal do Paulistão deste ano. O argentino não se controlou quando o time marcou o segundo gol contra o Corinthians e disparou tapas no cabeção do Santo Paulo. "Desculpa aí, Santo, foi a adrenalina do gol", escreveu Rigoni depois, com emojis dando risada.
A perseguição ao Santo Paulo nos momentos de euforia vem de longe. Severino conta que seu maior algoz sempre foi Rogério Ceni, ex-goleiro e atual técnico tricolor. Quando o São Paulo levantava uma taça, a vida da mascote virava um terror.
"Toda vez que a gente era campeão — e a gente era muito naquela época —, na hora da volta olímpica, ele ficava me procurando para arrancar a minha cabeça e jogar para a torcida. Ele me deixava maluco. Mas eu corria tanto dele. Uma vez, eu coloquei cinco mascotes na final do jogo. Aí, ele começou a procurar e arrancava as cabeças, 'não é você'. Quando ele me pegou, já tinha jogado medalha, camisa... Ele pegou a minha cabeça e fingiu que ia jogar, nossa... Eu fiquei pedindo para ele não jogar. Ele se divertia muito. A minha relação com o Rogério sempre foi muito legal. Eu o conheço desde a base", relembra.
Além da boa relação com os jogadores, Severino afirma sempre ter se dado muito bem com os torcedores. Nem mesmo os períodos de dificuldades do São Paulo, que ficou oito anos sem conquistar um título, abalou a relação. "Quando o boneco chega, parece que o adulto vira criança, mesmo estando bravo. Eles mudam totalmente. Fico pensando no quanto isso é bacana, porque isso traz alegria", diz.
A relação com outras mascotes
Os 20 anos de profissão fizeram de Severino um dos veteranos na área entre os clubes brasileiros. Ele diz que o contato com os rivais é constante e acabou virando até brincadeira. No início deste ano, o "Esporte Espetacular" organizou uma competição das mascotes. Ele passou longe de ser o campeão.
"A baleia [mascote do Santos] me roubou", brinca ele. "Eu dei tanta risada. Quando ela começou a me roubar, eu ria tanto que não conseguia jogar o dardo para furar as bolas da competição", relembra.
As mascotes possuem um grupo de WhatsApp e costumam se encontrar. "Eles se espelham muito em mim, por eu ser o mais velho. Isso é muito bacana. A gente se dá muito bem. Eles já vieram aqui fazer visita. Mas, na hora de tirar sarro, a gente tira mesmo".
Em 2019, as mascotes se reuniram para uma ação mais séria. Guilherme, filho de Severino, foi diagnosticado com leucemia e precisou de doação de sangue. Corinthians, Inter e Santos se juntaram na divulgação da campanha para ajudar a família do responsável pelo Santo Paulo.
"Foi uma fase muito difícil da nossa vida. Mas eu confio muito em Deus e não me desesperei. Sabia que era somente uma batalha e iríamos vencer. Hoje, ele está bem. Tem mais dois meses de tratamento e a expectativa é de receber a confirmação de estar curado", explicou.
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