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Depois de apostar corrida com pônei, Carlinhos Bala pensa em ser deputado

Carlinhos Bala, atacante com passagens pelo Sport, Santa Cruz e Náutico - Reprodução
Carlinhos Bala, atacante com passagens pelo Sport, Santa Cruz e Náutico Imagem: Reprodução

Adriano Wilkson e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

11/07/2022 04h00

Num dia você está apostando corrida com um pônei no Jóquei Clube do Recife — e perdendo. Em outro, está concorrendo a vereador da cidade — e perdendo também. Poderia ser o roteiro de uma comédia pastelão, mas são apenas alguns lances da carreira vitoriosa e um tanto surreal de Carlinhos Bala, ex-jogador do Sport, do Santa Cruz e do Náutico, e por isso mesmo, autoapelidado de o "Rei de Pernambuco".

Em entrevista ao UOL Esporte, o carismático jogador jura que, aos 42 anos, ainda pretende jogar profissionalmente: diz ter propostas da segunda divisão do Pernambucano. O atacante de 1,62 metro relembrou do dia em que, a pedido da Globo, disputou uma corrida de 100 metros rasos contra um pônei e revelou que ainda sonha com uma revanche no fim deste ano: "O pônei ganhou uma, mas foi meio trapaceado. Faltou um VAR. Agora vai ser uma disputa sem falhas."

Campeão da Copa do Brasil com o Sport em 2008, Bala também mostrou ser possível falar sério ao comentar suas preferências políticas, já que nas eleições passadas concorreu ao cargo de vereador de Recife pelo Progressistas. Teve 1.884 votos e não se elegeu. Embora admita não entender muito do assunto, já anunciou sua pré-candidatura a deputado estadual pelo mesmo partido, que faz parte da base do governo Bolsonaro.

"Eu não acompanho muito política. Eu só ligo quando está mais perto. Não entendo o que é direita, esquerda, centro. Só sei que meu partido é muito forte, mas não sei quem ele apoia", afirmou.

Veja alguns momentos da entrevista:

Bala quer ajudar os pobres e diz não ter decidido voto para presidente

O convite para se filiar ao Progressistas partiu do deputado federal Eduardo da Fonte, presidente estadual da sigla. Em 2020, Carlinhos Bala foi jogar uma pelada em uma cidade do interior quando foi convencido a concorrer. "O Eduardo é como um pai pra mim. Eu relutei, mas me filiei. Faltava muito pouco para a eleição e saí candidato a vereador. É um meio muito difícil. É mais fácil para quem já está lá", afirma o jogador e político.

Bala - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução
Carlinhos Bala e Eduardo da Fonte, líder do Progressistas em Pernambuco
Imagem: Instagram/Reprodução

"Agora ele pediu para eu ser deputado estadual. Achei que era mais difícil, mas eles explicaram que é mais fácil. Vereador tem muito voto pingado porque tem muito candidato. Para deputado estadual pode ser que eu tire uma casquinha, já que eu sou o 'Rei de Pernambuco'. Mas não é nada sério ainda. Apenas manifestei o interesse de ser candidato."

Ele disse que, caso eleito, sua principal aspiração será ajudar a população mais pobre do estado. Mesmo filiado a um partido que faz parte da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro em Brasília, Bala afirma que ainda não decidiu se votará nele ou no ex-presidente Lula. "Até agora, as propostas dos dois não me convenceram. Nem a mim nem a minha família. Gasolina, inflação, alimento, tudo subiu. Nas prateleiras, o preço está sempre alto. O brasileiro está sofrendo."

Criança corintiana, ganhou maior título sobre o Corinthians

Carlinhos Bala viveu o que muitas crianças do Norte e do Nordeste viveram nos anos 1990. Como a TVs não transmitiam o futebol local, o garoto acabou se afeiçoando ao Corinthians, que colecionava títulos naquela época. "Eu era doido pelo Corinthians e peguei a fase com Rincón, Vampeta e Marcelinho Carioca, meu ídolo. Todo sábado eu pedia R$1 para juntar e poder comprar um calção do Corinthians oficial. Levei 50 semanas pra comprar."

Por uma grande coincidência, Bala acabou vencendo o maior título de sua carreira, a Copa do Brasil de 2008, justamente contra o time da infância. "Mas eu tinha que defender meu pão. Entre passar fome e comer, melhor comer. Eu tinha que ganhar. Na hora, o torcedor ficou fora."

Contra o Vasco, chorou antes de cobrança decisiva

A campanha do único título nordestino da Copa do Brasil teve um momento muito marcante para Carlinhos Bala. Na semifinal contra o Vasco, em São Januário, o atacante desmoronou em lágrimas antes das cobranças decisivas. Bala sabia que bateria o primeiro pênalti, mas não aguentou a pressão do momento: "Eu estava chorando de raiva mesmo e tinha medo de perder a classificação nos pênaltis. A gente estava com a classificação praticamente garantida, e teve um lance em que eu estava aberto para receber, livre, e não me deram o passe para fazer mais um gol. E dali saiu o contra-ataque e o gol do Vasco. Na sequência, acabou o jogo."

Quando o time do Sport se reuniu pros pênaltis, Bala foi para trás do banco de reservas e ficou chorando. "O [treinador] Nelsinho [Baptista] veio falar comigo: 'Bala, esfria a cabeça. Em vez de bater o primeiro, você vai bater o último'. Isso já tirou um São Januário das minhas costas." O vascaíno Edmundo perdeu o primeiro pênalti, o que aliviou ainda mais a pressão sobre o atacante pernambucano.

"Eu torci para que outro jogador do Vasco perdesse, assim eu não precisaria bater o meu. Mas Deus preparou o momento para mim. Eu tinha que bater o pênalti da classificação. Quando eu saio do meio-campo até a marca do pênalti, o estádio estava lotado, a torcida me vaiando, e eu não escutava. Meu pensamento era: 'A cobrança é minha responsabilidade. Se eu perder, não volto para Pernambuco'. Você começa a pensar muita coisa. E eu esqueci de pensar no pênalti. Eu não costumava bater pênalti onde eu bati, mas escolhi aquele canto porque o goleiro ficava mexendo no meio e achou que eu ia bater no meio. Eu não sou louco de bater de cavadinha. Coloquei no canto esquerdo."

Pelo Santa Cruz, "nocauteou" torcedor do Sport

Às vezes até o Rei de Pernambuco pode perder sua majestade. Foi o que aconteceu na final do Estadual de 2012, quando Carlinhos Bala foi expulso do banco de reservas da Ilha do Retiro. Ao sair de campo, o atacante do Santa Cruz foi surpreendido por um torcedor rival, que invadiu o gramado e lhe aplicou uma rasteira por trás.

O reativo atleta não esperou nem um segundo para retribuir a agressão: virou de pronto e acertou um cruzado de direita no invasor: "Quando eu estou saindo de campo, eu achei que ia ser vaiado ou que ia acontecer algo. Não teve vaia. Tinha carinho da torcida do Sport. Quando eu olho para trás, um cara estava passando o pé em mim. Eu estava com tanta raiva, tinha acabado de ser expulso em uma final, que dei um soco. A sorte foi que eu não parti a cara dele. Caiu ele e quem estava segurando."

Depois de anos, o jogador reencontrou o torcedor do Sport, que morava no bairro de San Martin, o mesmo onde Carlinhos Bala passou a infância. "Passou um tempo, eu estava tomando um guaraná na praça de San Martin. Um amigo meu apontou para um cara e disse que era esse rapaz. A mulher dele, que vendia o guaraná disse: 'Era bom que você partisse a cara desse cabra safado. Não tinha nada que pular a arquibancada e entrar em campo'. Mas eu nem reconheci, ele já estava mais homem. Quando ele entrou no campo, era mais criança."