Batalhas contra Salas e Gallardo transformaram Lugano em ídolo do São Paulo
Brasil e Argentina dominam 100% das vagas nas quartas de final da Libertadores da América, que serão disputadas a partir do próximo dia 2. E já há a garantia de pelo menos um confronto entre as duas potências na semifinal, pois o ganhador de Corinthians x Flamengo encara o time que sair classificado do duelo Vélez Sarsfield x Talleres.
Quando o assunto são os confrontos entre Brasil e Argentina na Libertadores, é comum encontrar decisões apertadas, até mesmo nos pênaltis. Uma exceção, porém, rende muito até hoje. Ela ocorreu em 2005, quando o São Paulo bateu o River Plate tanto no Morumbi (por 2 a 0) quanto no Monumental de Núñez (por 3 a 2).
Para o são-paulino, os gols de Danilo, Rogério Ceni, Amoroso e Fabão naqueles clássicos estão bem frescos na memória. Mas é impossível resgatar o confronto sem citar um outro personagem que não nasceu nem no Brasil e nem na Argentina, e levou a campo a tão famosa garra uruguaia.
Estamos falando do zagueiro Diego Lugano, que travou verdadeiras batalhas com dois rivais badalados, destaques até em Copas do Mundo, casos do atacante chileno Marcelo Salas e do seu xará argentino Marcelo Gallardo, duas das estrelas daquele River.
De 'menudos' a 'cascudos'
Lugano tinha 24 anos naquela Libertadores e estava na terceira temporada no São Paulo (chegara em abril de 2003). Sua firmeza na zaga, então com Fabão e Alex, fez aquele time ser batizado de "cascudos" pelo ex-técnico Emerson Leão, em contraposição aos "menudos", de enorme sucesso nos anos 1980.
A nova filosofia contagiou a torcida, que esgotava a camisa 5 do uruguaio a cada nova remessa. No Morumbi, cada carrinho do uruguaio nos perdidos argentinos do River era comemorado como um gol.
Lugano comandou a matilha no jogo de ida daquela semifinal, no Morumbi. Contando com o sacrifício também de Fabão, Alex, Mineiro, Renan, Souza e Josué, o São Paulo devorou a saída de bola do River, com os volantes Lucho González e Javier Mascherano, com o armador Gallardo e os definidores Salas e Farías.
Deu certo. Com a meta intacta, o São Paulo se soltou e chegou a 2 a 0. Lugano deixou o Morumbi especialmente ovacionado. "A torcida entende nosso espírito em campo. Estamos ali defendendo e representando os torcedores", disse, ao sair do gramado.
A volta, no Monumental, teve um novo estoque de carrinhos, força na marcação e entradas duras do uruguaio.
"Ele é um grande profissional, como todo o elenco. Estou muito feliz em trabalhar com este grupo", comemorou o treinador, Paulo Autuori, que semanas depois daria a volta olímpica ao sagrar-se campeão contra o Athletico.
Com tamanho empenho, aquele São Paulo encerrou a Libertadores de 2005 com brilho. E nove vitórias, quatro empates e apenas uma derrota em toda a campanha.
Espelho para uns e outros
O caminho tricolor na Libertadores de 2006 também contou com uma atuação marcante de Lugano na semifinal. Desta vez, contra o Chivas, do México.
No primeiro jogo da semifinal, em Guadalajara, o jogo estava 0 a 0 quando o São Paulo teve um pênalti marcado a seu favor.
Rogério Ceni se preparou para a cobrança e ouviu as provocações do atacante Bofo Bautista. Lugano não deixou barato.
"Você sabe quem é esse aí?", perguntou o uruguaio. "Ele é o goleiro tricampeão da Libertadores e do mundo. Ele tem mais títulos do que a soma de todos os outros jogadores que estão em campo hoje."
Tal episódio desencadeou uma série de troca de ofensas e provocações, dentro e fora do gramado, entre Lugano e Bautista.
Antes do jogo de volta, no Morumbi, Bautista afirmou: "Zagueiros limitados são assim mesmo, costumam bater para intimidar o adversário. Lugano é um jogador forte e agressivo, mas suas qualidades são as faltas".
O São Paulo venceu por 3 a 0 e se classificou para a segunda final seguida de Libertadores. Lugano foi à desforra:
"O maior castigo do Bautista não é o resultado, é ter que acordar e se olhar no espelho todo dia e ter de conviver com sua personalidade."
O Internacional terminou aquela Libertadores como justo campeão, fazendo uma festa igualmente histórica no Beira-Rio.
Forte também no vestiário
A história de Lugano como exemplo da "garra libertadora" do São Paulo levaria uma década para voltar aos gramados.
Sua participação derradeira, em 2016, teria uma nova semifinal pelo caminho, contra o Atlético Nacional, adversário colombiano que seria também o campeão.
Os titulares da defesa são-paulina eram Rodrigo Caio e Maicon, e o técnico argentino Edgardo "Patón" Bauza contava com Lugano como referência no vestiário e zagueiro reserva —o uruguaio jogou, por exemplo, o confronto contra o Atlético-MG, nas quartas de final.
Lugano terminou sua participação naquela Libertadores sendo expulso por reclamação na partida de volta, vencida pelo Atlético Nacional, 2 a 1 em Medellín. Ele havia sido titular, por causa também da expulsão de Maicon no jogo de ida.
"Fizemos uma Libertadores guerreira", comentou à época, lamentando os erros de arbitragem que comprometeram o resultado são-paulino. "Mostramos que esta camisa tem peso e que este elenco tem um grande técnico. Saímos de cabeça erguida."
Lugano pendurou as chuteiras no São Paulo em dezembro de 2017, somando 213 partidas com a camisa do clube, sendo o quinto estrangeiro em número de jogos, atrás de Poy, Darío Pereyra, Pedro Rocha e Forlán.
"Tenho de ressaltar tudo que ele significa para o São Paulo. Ele é um símbolo que representa o que é honrar a camisa", disse o então presidente Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco.
Depois de um período como diretor de relações internacionais do São Paulo, Lugano hoje é comentarista dos canais ESPN.
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