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OPINIÃO

Série sobre Adriano promete: 'o que ele faz na Vila Cruzeiro? Vamos contar'

"Adriano, Imperador" foi gravada no Brasil e na Itália e estreia pelo serviço de streaming Paramount+ - Divulgação
"Adriano, Imperador" foi gravada no Brasil e na Itália e estreia pelo serviço de streaming Paramount+ Imagem: Divulgação

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

20/07/2022 04h00

Adriano Imperador está longe do futebol desde 2016, odeia dar entrevista, marca presença em eventos públicos muito selecionados e não parece ligar muito para as opiniões que têm sobre ele. Pode soar irônico, mas amanhã (21) estreia uma série protagonizada pelo ex-jogador que promete falar sobre tudo que gravita em torno de seu "universo polêmico". Tentativa, diz a diretora da obra Susanna Lira, de "desvendar e traduzir" o homem por trás do ídolo.

O lançamento é do serviço de streaming Paramount+, o mesmo que transmitirá a Libertadores a partir de 2023 e que aposta forte no futebol. A série sobre Adriano é uma das apostas e estreia no primeiro minuto da quinta-feira.

São três episódios. O primeiro tem 45 minutos de duração e começa a cumprir a promessa mencionada pela diretora ao focar não no Adriano, mas na Vila Cruzeiro. Esse é o nome da favela localizada no bairro da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, onde o ex-jogador nasceu, foi criado, viveu a infância e a juventude e voltou depois de adulto para se curar da depressão e reencontrar o propósito.

"As pessoas perguntam: 'O que o Adriano tanto vai fazer na Vila Cruzeiro?'. Elas vão descobrir na série", adianta Susanna Lira.

O fato de Adriano ter largado a carreira ainda em alta e contratos milionários na Europa e no Brasil para passar mais tempo na Vila Cruzeiro gerou polêmica e incompreensão por anos. Ainda gera, de certa forma. Mas nos primeiros momentos do episódio inicial de "Adriano, Imperador", dois recados já estão na mesa.

É onde eu nasci, onde eu fui criado, onde me sinto à vontade para ser o Adriano."

Eu gosto de rir, brincar, estar com meus amigos, fazer churrasco. Eu sou complicado? Você que tá complicando."

Adriano - Divulgação - Divulgação
Adriano, de costas, em gravação da série "Adriano, Imperador" na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro
Imagem: Divulgação

"O império está onde ele quer"

A série apresenta um acervo de imagens inédito da infância e da juventude de Adriano. Foi a primeira vez que um tio do ex-jogador chamado Pedro Paulo, apelidado de Papau, liberou filmagens caseiras em VHS para serem exibidas.

"Eu tenho um relicário na minha casa para o Tio Papau. Viva às famílias que investiram no VHS", brinca a diretora Susanna Lira, que usou as imagens à profusão. Além deste recurso, a série tem várias entrevistas com Adriano e outras com Ronaldo, Zanetti, Petkovic, Léo Moura, Aloísio Chulapa, Massimo Moratti (ex-presidente da Inter de Milão) e amigos e familiares.

Claro que os papos com os grandes craques são valiosos, mas os retratos da infância é que arrebatam em "Adriano, Imperador". As imagens falam, jogam na cara, o que prende Adriano àquele lugar. O que tem lá que ele gosta tanto.

Uma das cenas icônicas mostra cinco amigos e Thiago, irmão do Imperador, resenhando à beira da quadrinha na Vila Cruzeiro onde o ídolo da Inter de Milão deu os primeiros chutes. Ali, eles contam em clima descontraído que o pai de Adriano era meio pai de todos os meninos da favela, porque era envolvido com tudo que dizia respeito ao futebol por lá. Em Almir, o Mirim, técnico do time da comunidade, as mães confiavam os filhos para que fugissem da "vida errada".

Um amigo conta que foi barrado de um jogo amador porque chegou com um copo de cerveja na quadrinha. Outro, porque arrumou confusão na escola na semana anterior. Todos naquele encontro mostram estar muito unidos, entrosados, cúmplices e saudosos de Mirim.

Susanna - Cleiby Trevisan/Paramount - Cleiby Trevisan/Paramount
Susanna Lira e Adriano em evento de divulgação da série "Adriano, Imperador"
Imagem: Cleiby Trevisan/Paramount

"A imprensa gosta de falar questões superficiais sobre a vida dele, então ter tempo de aprofundar e conhecer a pessoa e sua história foi muito importante. Julgam muito quando na verdade as pessoas precisam ser compreendidas. Não no sentido de passar pano, porque tive toda a liberdade de fazer a série da maneira como tinha que ser. Para mim, a morte do pai é um ponto de virada na vida do Adriano. É quando tudo mudou e fez o império dele estar onde ele queria que estivesse", conta a diretoria da série.

O pai de Adriano morreu em 11 de agosto de 2004 aos 44 anos. Isso foi logo depois do título da Copa América pela seleção brasileira e desencadeou no jogador que vivia o auge pela Inter de Milão os efeitos que lhe acompanharam até o fim da carreira, em 2016.

"Eu não consegui mais parar de pensar. Se eu fosse para o treino, se eu fosse para puta que o pariu, eu não conseguia esquecer", desabafa Adriano ao longo da série documental, antes de revelar que foi nessa época em que começou a "entrar na cachaça" e notar uma queda de desempenho. Os demônios também estão presentes em "Adriano, Imperador".

Por exemplo: o episódio de abertura da série já menciona de cara a denúncia contra o ex-atacante, em 2014, por associação para o tráfico de drogas na Vila Cruzeiro. A promessa é de que o assunto será explorado na sequência. Adriano foi absolvido pela Justiça do Rio de Janeiro dois anos depois. O material de divulgação da obra também diz que ela fala de "conflitos, fama, dinheiro, escândalos, carros, mulheres e depressão". Nada de passar pano.

Adriano - Ben Radford/Getty Images - Ben Radford/Getty Images
Adriano venceu a Copa América de 2004 e a Copa das Confederações de 2005 pela seleção brasileira
Imagem: Ben Radford/Getty Images

Assim define Susanna Lira: "A vulnerabilidade é a força dele. Essa força se mostrou quando ele aprendeu a fingir menos, a ser mais real, mesmo que perdesse algumas coisas no caminho. Num mundo em que todos têm que ganhar o tempo todo, ele tomou a decisão certa antes que sucumbisse."

Adriano parou cedo. Jogou só a Copa do Mundo de 2006 pela seleção e não atingiu o patamar esperado. Mas se tudo tivesse dado tão certo e seguido o roteiro calculado das histórias dos grandes craques, talvez não tivesse a emoção e os tombos e imperfeições que motivam a assistir.