Topo

Ceni vai rodar o elenco do São Paulo, mas sem abrir mão de competições

Do UOL, em São Paulo

21/07/2022 00h31

O São Paulo sai de Porto Alegre feliz por ter buscado a igualdade após estar três vezes atrás no placar no duelo contra o Internacional pelo Brasileirão. Para o técnico Rogério Ceni, o ponto conquistado contra o Colorado precisa ser valorizado por causa da quantidade de desfalques que o time teve nesta quarta-feira (20).

"As peças que faltam, a gente sabe. Se o Alisson estivesse pronto, ajudaria bastante. Se o Arboleda estivesse, nossa, seria importante para nós. Só que nós não temos esses jogadores ainda e temos de tomar cuidado. É essa escolha que temos de fazer. Se quer brigar por três competições, tem de ter elenco para três. E nós não vamos abrir mão. Não classificamos contra o Palmeiras para abrir mão da Copa do Brasil. Não 'nos matamos' contra a Universidad Católica para abrir mão da Sul-Americana. Só que os adversários são fortes", disse o treinador, já projetando os próximos confrontos. "O Ceará fisicamente é um monstro de força física. Temos de estar descansados e para isso temos de abrir mão em algumas rodadas no Brasileiro, no sentido de não colocar todo time, não abrir mão do resultado", afirmou o treinador após o empate em 3 a 3, pela 18ª rodada do Brasileiro.

Com o resultado, o São Paulo segue distante do G4. Com 25 pontos, está na 10ª posição na tabela.

Além dos problemas recorrentes, Ceni tem novas dificuldades pontuais. Léo tem um edema muscular na coxa direita, enquanto Miranda sofre com dores musculares desde o confronto com o Palmeiras, na semana passada. Jandrei levou uma pancada nas costas diante do Fluminense e também ficou fora.

Outros desfalques da equipe seguem trabalhando na recuperação. Este é o caso de Arboleda, Reinaldo, Luan, Caio, André Anderson e Alisson. Calleri e Patrick, suspensos pelo terceiro cartão amarelo, também não enfrentaram o Colorado.

Surpresa positiva

Rogério elogiou bastante Nikão, autor de dois gols diante do Inter, e que foi uma surpresa na escalação inicial devido ao tempo de inatividade que passou recentemente.

"O Nikão não é um 9 de área. A gente perde em referência, mas ganha em mobilidade. Fazendo com que a gente tenha melhor toque de bola, ele protege bem a bola. Uma das principais virtudes dele é fazer a parede. Se faz necessário que os meias encostem. O Talles fez muito bem isso, o Nestor tentou fazer isso no primeiro tempo. E com dois alas bem ofensivos, a gente conseguiu colocar a bola no chão, fazer jogadas, ele conseguiu fazer os gols", analisou o treinador. Ceni destacou a importância de Nikão no confronto dentro de sua própria particularidade. "Foi importante, foi até o limite, onde dava. Mas acho que ajudou bastante, em uma característica que é diferente, normalmente tem o Calleri ali. Ele e o Luciano rodaram bem, atrás dos volantes, deixando os zagueiros sem função, rodando entrelinhas", completou.

Agora o São Paulo volta a campo no próximo sábado (23), quando recebe o Goiás, no Morumbi, às 19h (de Brasília), na partida que fecha o primeiro turno do Brasileirão para a equipe.

Confira outros trechos da coletiva do técnico Rogério Ceni

Avaliação da entrada do goleiro Thiago Couto

O Thiago, eu converso sempre com ele. É natural, ele é um garoto, poucos jogos no profissional. É um menino que trabalha muito, todos os dias. Acho que, no segundo tempo, ele foi mais seguro. Participou um pouco mais, saiu um pouco mais do gol. Um dos pontos fortes do Jandrei é a saída de gol, e ele já foi melhor. É um processo natural que você vai adquirindo experiência, vai ganhando confiança no jogo. Não vejo culpa dele em nenhum dos gols. Agora, toma um gol, toma outro, vai gerando insegurança. Acho que fez um ótimo segundo tempo. Ajudou bastante, lançamentos precisos, bola longa para o Wellington, ajudou distribuindo bolas... um goleiro que trabalha bem com os pés.

Crias de Cotia dando conta do recado

Hoje, o gramado favoreceu muito. No mesmo nível ou melhor que o do Morumbi esse gramado do Inter, um dos melhores do Brasil. Dá gosto vir jogar em um lugar assim. Mesmo com o time com desentrosamento, com jogadores jovens —metade do time é das categorias de base. E a gente conseguiu fazer boas combinações de passe, chegar ao gol do Inter. Perdemos muito na bola aérea porque nosso time era muito baixo. Só os garotos da zaga tinham cabeceio. As demais eram tentativas de bloqueio. E pode ver que perdemos quase todos os duelos aéreos. Era uma coisa prevista. Só que dentro do que nós tínhamos hoje —perdi o Miranda na quinta-feira por lesão, o Léo no domingo por lesão. Se eu perder mais o Diego, eu abro mão de todos os campeonatos. Perco tudo que eu tenho pela frente. Então é o dia que tem de tentar segurar alguns jogadores e aí sofre um pouco mais. Mais uma boa partida do Rafinha nesta posição. E o Luizão e o Beraldo, junto com alguém mais experiente, como Miranda ou Diego Costa, têm um rendimento maior. Os dois juntos ainda sofrem, são calados, introvertidos, jovens ainda. No segundo tempo, o Beraldo melhorou bastante, arriscou bastante o passe por dentro, cara construtor. Às vezes ocorrem erros, e o Inter é uma equipe rápida.

Sobre contratações e volta de lesionados

Depende do tamanho das nossas aspirações. Nós temos esses jogadores, nós tínhamos esses jogadores. É que muitos se lesionaram. Arboleda, Sara, Nikão. A defesa se desgastou demais, enquanto todo mundo revezava, os três jogadores, mais o Reinaldo, jogaram. Por isso, se não recolhemos alguns caras para o banco de reservas... temos agora um jogo em casa no sábado. Saiu a tabela da Copa do Brasil, e vamos jogar quinta-feira. Vai ficar apertado para o jogo contra o Athletico-PR, mas nós temos agora, com alguns jogadores que nós seguramos e com outros que estavam suspensos, nós temos de fazer um time forte para ganhar este jogo de qualquer maneira. Contando com o apoio do torcedor para dar uma subida no Campeonato Brasileiro. E depois nós temos tempo de recuperar para a Copa do Brasil, que é um jogo importante para a gente fazer uma vantagem no Morumbi. E aí, a gente vai analisar novamente como montar o time. Posições de Miranda e Léo... tenho esperança de contar com os dois para quinta, talvez com o Miranda para este sábado. Para a gente poder montar um time que continue sendo competitivo como este vem sendo.

Nós sobrevivemos até o dia 18, mas já estamos caindo um pouco no Campeonato Brasileiro. Se você quer os resultados nas Copas, automaticamente quando você não tem um elenco que é farto, com muitas opções. Em alguns setores, porque no ataque temos bons jogadores para fazer a dupla de ataque, para fazer as substituições. Agora, sofremos muito na defesa, e uma peça no meio-campo para fazer trocas. Ninguém passa impune jogando a cada três dias se não tem as trocas. O que falta em alguns setores? Faltam trocas. Em outros sobram jogadores, fica difícil colocar. Tento adaptar algumas posições, como foi com o Marcos Guilherme na ala. Preciso de bastante energia. Hoje, um time bem técnico, com Neves, Nestor e Talles Costa, conseguiu construir bastante.

Jogo de muitos erros

O Inter teve seus méritos. Nossa linha de três zagueiros foi um pouco falha no primeiro tempo. Afastou demais, tomamos muitas bolas entrelinhas. O pênalti foi assim. O segundo gol que a bola é cavada, o Pedro Henrique faz de cabeça. Nós tivemos falhas, temos de combater mais o homem da bola, fechar mais e combater o homem da bola.

Nós treinamos por 15 minutos. Foi exatamente o tempo que conseguimos treinar, 15 minutos. Tem toda a parte teórica envolvida nisso, mostrar o vídeo de como eu quero, gostaria que fosse. Mas de treino no campo, este time fez 15 minutos de treinamento no dia de ontem (dia 19). Entre aquecimento, primeira atividade, percorreu um total de 2.500 metros que é o que dava para fazer para chegar aqui com energia. E aí seguramos Igor, Wellington, Diego, que foram as três trocas que fiz no minuto 60, porque eu queria que eles não tivessem desgaste para estarem prontos para jogar.

Fizemos nosso melhor. Um primeiro tempo com bastante falhas, e um segundo tempo já corrigimos. Algumas correções no intervalo, mais os 45 minutos jogando juntos. E não seria injusto se naqueles contra-ataques no fim do segundo tempo, uma finalização um pouco mais caprichada, poderíamos sair daqui com um 4 a 3 que não seria nada absurdo no dia de hoje.

Espelho para os mais jovens

Primeiro que eu gosto muito dos caras que trabalham comigo. Eles deixam tudo dentro de campo. Acho que eles aprenderam, porque eu, na minha vida, deixava tudo em campo. Não importava se era Paulista, Mundial ou Libertadores. Tem de fazer o melhor. A única coisa que peço para eles, se estiver com cansaço, alguma coisa, fica fora. Os que entram em campo têm de fazer o melhor. O gramado ajudou bastante, trabalho de passe, triangulações. Acho que a gente usou bastante isso. O time do Inter também poderia fazer mais gols. Um time de muita transição, velocidade. No final, ele pôs o David, que tem muita força. Pedro Henrique, que é um jogador que está vivendo um momento muito especial. O Alemão, muito forte, protege a bola. De Peña. Gostei de alguns jogos que vi na TV e hoje fiquei impressionado. Então é um time que não está à toa nesta posição.

A gente vem trocando demais, e são muitos garotos. É um time que tem cinco, seis garotos de 19 anos. Mas têm desejo, alma, uma visão da vida um pouco diferente, de alguém que quando entrava em campo era para deixar o meu melhor. E é isso que eu peço a eles. E acho que eles estão jogando muito bem. Pelo chão foram muito bem, pelo alto deixaram a desejar, o que era esperado por mim.

Atuação do São Paulo

No primeiro tempo, marcamos bem pior. No segundo tempo, melhoramos o conceito de marcação e velocidade no contra-ataque. O time amadureceu um pouco quando entraram Igor, Diego e Wellington. O time cresceu e teve três ou quatro oportunidades bem claras de fazer a vantagem. Infelizmente, não saímos com a vitória.

Se eu tomasse o gol do 4 a 2 que foi anulado por impedimento, eu não gastaria as minhas substituições. Na minha cabeça, eu tentaria botar os três jogadores que coloquei (Diego Costa, Wellington e Igor Gomes). Quando eu vi que tinha condições de vencer o jogo, resolvi arriscar o desgaste deles. Como vi que era possível vencer o jogo, resolvi arriscar nos últimos 30 minutos mais acréscimos com esses jogadores. Era o que era possível fazer. Se eu boto esses caras os 90 minutos hoje, eles estão mortos e não aguentam jogar no sábado, um jogo em casa em que nós temos obrigação de vencer. E também pode ser que eles não rendessem hoje, porque já vinham de jogos contra Palmeiras, Fluminense, mais hoje, mais sábado, não há quem resista. Então as trocas são necessárias.

Time todo formado em casa

Gerações distintas e diferentes de Cotia. O Igor tem 23 anos. Se você pegar o Talles Costa tem 19 anos. Ainda bem que o clube conseguiu manter os garotos. O interessante, o Juvenal [Juvêncio, ex-presidente do São Paulo] sempre falava que queria ter um time inteiro de Cotia. É possível, desde que você preserve os melhores jogadores de cada geração. Você vai ter como no Barcelona. O Messi com 30 anos, e o cara de 20 que o tem como espelho. Só que no futebol brasileiro isso é impossível. Devido, principalmente, às dívidas que o clube tem. Então você vai perdendo jogadores. Bom seria se a gente pudesse ter Lucas, Antony, Militão, que subiu comigo em 2017. Às vezes, a gente queima algumas etapas com alguns jogadores, tem jogadores que precisam de um amadurecimento maior. Rodriguinho, Patrick são jogadores que precisam de minutagem de treinamento. Tem jogador que fez uma semana de treino comigo. É muito pouco para entender o conceito e a ideia de jogo. É pouco, principalmente em um momento em que a gente não consegue ter treinos longos e específicos.

Reestreia e polivalência de Marcos Guilherme

É um cara que tem boa vontade e pode exercer várias funções. Sei que não é a função em que eu melhor vou aproveitá-lo, na ala esquerda. Mas ele foi útil no jogo de hoje. Mas eu não posso desgastar o grupo todo para fazer um treinamento com ele. Então isso requer tempo. Sobre contratações, não é só chegar, contratar botar ali que vai sair fazendo tudo. Tem uma série de sequências que você tem de fazer e isso só com treinamento. Por isso é legal montar um elenco em janeiro e ir até dezembro. Aí você vê a evolução do trabalho do treinador e da equipe.

Enfrentar o Internacional na final da Sul-Americana

Para nós, seria especial, acho que para o Inter também. O problema é que temos adversários pelo caminho. O Ceará é um time muito competitivo. Vivi três anos em Fortaleza e é um confronto muito difícil. O Inter está com uma vida mais tranquila do que a gente, pode ter o Independiente del Valle no futuro, que é um jogo mais pesado. Mas acho que o Inter tem um caminho bem trilhado para chegar à final. Do nosso lado, é bem mais pesado do que o lado do Inter, que está mais bem encaminhado para esta decisão. Nós vamos ter de trabalhar muito para poder chegar na final, porque são times muito físicos, Atlético-GO, Ceará, temos um caminho longo pela frente.