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Jogador homossexual diz que jogaria na Copa do Qatar: 'Honrar a comunidade'

O meio-campista Martin Collin, do San Diego Loyal (MLS), assumiu-se gay em 2018 - Reprodução/Instagram
O meio-campista Martin Collin, do San Diego Loyal (MLS), assumiu-se gay em 2018 Imagem: Reprodução/Instagram

Colaboração para o UOL, em São Paulo (SP)

26/07/2022 11h37

Classificação e Jogos

Um jogador declaradamente gay afirmou que disputaria a Copa do Mundo do Qatar, caso seja convocado pelos Estados Unidos, para "honrar a comunidade". A menos de quatro meses do início do torneio, que começa em 21 de novembro, a realização do evento no país gera preocupação em torcedores e jogadores.

Além das acusações sobre violação de direitos humanos na construção de estádios no país, a presença da comunidade LGBTQIA+ na Copa também está em discussão, já que a homossexualidade é considerada ilegal no Qatar e punível com até sete anos de prisão. Para o meio-campista Collin Martin, participar do torneio sendo publicamente assumido seria uma forma de se posicionar.

"Eu definitivamente iria para a Copa do Mundo [do Qatar] se fosse convocado. Obviamente, isso é uma hipótese extrema, mas seria uma honra. Acho que tentaria honrar a comunidade de uma certa maneira e faria isso com respeito", afirmou, em entrevista ao 'The Sun'.

"E iria garantir que todos saibam que um jogador gay está participando da Copa do Mundo. Que não há problema nenhum com isso e que preciso ser respeitado", acrescentou.

Ele pondera que não é somente a comunidade LGBTQIA+ que possui receios com as condições de direitos e liberdades no país. "Acho que não é apenas a comunidade gay que está preocupada com a aceitação do país anfitrião. Houve uma tonelada de problemas diferentes que surgiu com a realização da Copa do Mundo no Catar", opinou.

"Há questões de direitos humanos em vários níveis e direitos das mulheres, como o país vê e aceita as mulheres. Obviamente, no meu caso, há uma preocupação genuína de segurança", complementou Martin.

"Como: 'Serei autorizado a jogar neste país se estivesse na Copa do Mundo?'; "'Eu seria aceito?'; 'Que tipo de abuso eu receberia dos torcedores nos estádios?'. Acho que definitivamente há algum trabalho a ser feito e há preocupação, mas se as pessoas não podem ir aos estádios e sentem que não podem ir com seus parceiros, isso é um problema", ressaltou o jogador.

"O foco deve ser apoiar o seu país, divertir-se e poder desfrutar do jogo de futebol. É um esporte para todos e é algo que deve ser apreciado por todos", encerrou.

Aos 27 anos, Martin atua pelo San Diego Loyal, na segunda divisão dos Estados Unidos. Quando se assumiu publicamente, ele atuava na MLS e era o único homem gay nas principais ligas esportivas do país, segundo o 'The Sun'. Ele chegou a atuar pela seleção Sub-20.

Os EUA estão no Grupo B do torneio, junto de Inglaterra, Irã e País de Gales.

Presença LGBTQIA+ no Qatar

No final do ano passado, o presidente do comitê organizador da Copa, Nasser Al-Khater, afirmou que torcedores LGBTQIA+ terão direito de viajar ao país e assistir aos jogos. No entanto, a entidade pediu para que a comunidade gay não demonstre carinho em público, justificando que demonstração de afeto entre o público hétero também é "mal vista".

"O Qatar e seus países vizinhos são muito mais conservadores e pedimos aos torcedores que o respeitem. Temos certeza que o farão, assim como respeitamos as diferentes culturas, esperamos que a nossa também seja", afirmou.

Em junho, o australiano Josh Cavallo, de 22 anos, desabafou que sente medo de sofrer represálias ou preconceitos se for convocado para disputar a Copa.

"Estou dando tudo para representar a Austrália no Mundial, seria uma honra, mas ao mesmo tempo as leis chocam. Quero fazer algo realmente bom na minha carreira, sempre sonhei jogar com o meu país na Copa do Mundo, mas quero que a minha vida fique em perigo?", questionou, à 'Sky Sports'.

Apesar da legislação e da cultura local, os representantes do evento garantem que a comunidade gay será "bem-vinda" durante a realização da Copa do Mundo. No começo do ano, o major-general Abdulaziz Abdullah Al Ansari, chefe de segurança do governo do Qatar, revelou que as bandeiras representativas nas cores do arco-íris poderão ser confiscadas.

Segundo ele, essa é uma forma de proteção aos possíveis ataques que homossexuais podem sofrer. "Se [um torcedor] levantou a bandeira do arco-íris e eu a peguei dele, não é porque eu realmente quero insultá-lo, mas para protegê-lo. Porque se não for eu, alguém ao redor dele pode atacá-lo. Não posso garantir o comportamento de todo o povo", justificou.

O torneio será realizado no país entre os dias 21 de novembro e 18 de dezembro.