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Gigante conselheiro: Cássio constrói dinastia sendo exemplo para reservas

História de Cássio se confunde com a do próprio Corinthians após dez anos de idolatria - Fotobairesarg/AGIF
História de Cássio se confunde com a do próprio Corinthians após dez anos de idolatria Imagem: Fotobairesarg/AGIF

Arthur Sandes

Do UOL, em São Paulo

29/07/2022 04h00

O jeito tranquilo e as respostas modestas podem não dar sinal, mas Cássio será lembrado por décadas pelo que faz no Corinthians. Suas defesas serão contadas dos avós para os netos, como hoje se faz com a Invasão ao Maracanã, em 1976, ou o título que encerrou o jejum de mais de duas décadas, em 1977. O camisa 12 parece não se cansar de quebrar recordes e nesta semana se tornou o goleiro que mais vezes defendeu o clube na história: 603 jogos.

O UOL Esporte foi atrás dos ex-companheiros de Cássio para saber como o goleiro construiu sua dinastia no Corinthians, e uma coisa parece certa: foi sempre com generosidade, apoio e exemplo aos reservas, fosse em fases boas ou ruins.

Cássio é um amigo que fiz no futebol, um cara que respeito, tenho carinho e sei que ele também tem isso por mim. Disputamos posição por muito tempo e nunca tivemos problema com isso: foi sempre com muita honestidade e transparência, cada um brigando por aquilo que é seu, fazendo o seu melhor e não diminuindo o outro."
Júlio César, companheiro de Cássio no Corinthians entre 2012 e 2014

De desconhecido a ídolo instantâneo

Cássio, Danilo Fernandes, Matheus Vidotto e Júlio César em treino do Corinthians em 2013 - Mauro Horita/AGIF - Mauro Horita/AGIF
Cássio, Danilo Fernandes, Matheus Vidotto e Júlio César em treino do Corinthians em 2013
Imagem: Mauro Horita/AGIF

Em 2011, Cássio estava sem clube e vinha de passagem sem brilho pelo futebol holandês quando foi contratado pelo Corinthians. Ele chegou ao clube para revezar com Danilo Fernandes na reserva de Júlio César, duas crias da base alvinegra, mas faria muito mais do que isso.

Cássio vinha de seis meses sem jogar, mas a falta de ritmo não pesou. Seu primeiro jogo pelo Corinthians foi no Paulistão de 2012, contra o XV de Piracicaba; ele virou titular contra o Emelec (EQU), na Libertadores, e daí em diante entrou para a história. Entre a estreia e o título continental tão sonhado pelo clube foram apenas 98 dias.

"Fico muito feliz com o que ele alcançou. Nós éramos muito próximos, chegamos ao profissional no mesmo ano, e fomos bons amigos. Para mim não foi surpresa nenhuma o que aconteceu. Quem estava nesta época pode confirmar, e falo isso até hoje: não me lembro de ter visto nenhum goleiro fazer o que o Cássio fazia nos treinos, lá em 2012. Fiquei totalmente impressionado, porque era uma fase inacreditável. Quando apareceu a oportunidade de ele jogar, eu tinha certeza do resultado.
Matheus Vidotto, companheiro no Corinthians entre 2012 e 2018

Titularidade não virou estrelismo

Todos os goleiros ouvidos pelo UOL foram elogiosos sobre a rotina com Cássio. Apesar da titularidade absoluta e do protagonismo nas conquistas, o camisa 12 manteve o mesmo trato com os companheiros, com os torcedores e com a imprensa. Ainda hoje se dispõe a descer do carro para atender os fãs que pedem fotos e autógrafos na porta do CT e, quando dá entrevistas, em suas respostas o sucesso é sempre coletivo.

Na noite mais recente como herói, por exemplo, Cássio pegou dois pênaltis para eliminar o Boca Juniors da Libertadores dentro da Bombonera e saiu dizendo que a classificação foi fruto do "comprometimento de todos com o trabalho". Nada mais Cássio do que isso.

"Cássio é um cara muito amigo, companheiro, que respeita a opinião de todos e não está conquistando tudo isso à toa. Sempre tivemos uma convivência muito boa, de companheirismo e sem vaidades. Ninguém queria passar por cima do outro, e sempre torcíamos para quem estivesse atuando. Às vezes ele é um pouco ranzinza, fala um pouco sem filtro, mas é um cara do bem, que quer vencer e jamais diminuir ou menosprezar alguém. É um vencedor, e a história dele prova isso."
Danilo Fernandes, companheiro no Corinthians entre 2012 e 2014

"Aprendi demais com ele, que sempre me ajudou com tudo o que estava ao alcance dele. Ele tem um coração enorme, é um pu*** cara. É uma alegria gigante que levo para minha vida, tudo o que aprendi com ele e ter passado por tantas conquistas juntos, observando de perto o goleiro espetacular que ele é. Para mim, um dos melhores do mundo nos últimos anos."
Matheus Vidotto, companheiro no Corinthians entre 2012 e 2018

Sucessores chegaram e foram embora

Cássio e Walter, companheiros de Corinthians por oito anos - Mauro Horita/AGIF - Mauro Horita/AGIF
Cássio e Walter, companheiros de Corinthians por oito anos
Imagem: Mauro Horita/AGIF

Dos goleiros vistos como possíveis sucessores de Cássio no Corinthians, Walter se destaca. Contratado em 2013, ele chegou perto de se consolidar no gol alvinegro em três oportunidades, mas deu azar em todas. A primeira, no início de 2016, foi o naufrágio da negociação do camisa 12 com o Besiktas, da Turquia; e outras duas, nos meses seguintes, terminaram em lesões que impediram Walter de agarrar a posição. A história parece ter escolhido Cássio.

Neste ano mesmo, Ivan foi contratado junto à Ponte Preta sob grande expectativa, mas ficou apenas seis meses e acabou negociado ao Zenit (RUS) na contratação de Yuri Alberto -o goleiro está na Rússia por empréstimo com opção de compra. Desta forma, os companheiros atuais de Cássio são Carlos Miguel e Matheus Donelli, que nos últimos jogos tiveram uma chance cada um por causa das dores lombares do titular.

Ele tem uma relação de paizão comigo. Aprendo bastante no dia a dia, porque ele me passa bastante informação e diversas experiências que ele já passou. Também pela diferença de idade, eu sou mais jovem, então procuro aproveitar isso ao máximo. Com certeza ajuda muito na evolução."
Matheus Donelli, 20 anos, atual companheiro no Corinthians

A experiência do Cássio, nem preciso falar: é um gigante, um grande ídolo do Corinthians. Ele sempre corrige alguma coisa na gente para ajudar o desempenho, alguma situação de jogo: às vezes dar uma passada a mais para fazer a queda, por exemplo, e ele fala como é mais fácil, ajuda. É uma felicidade acompanhar o Cássio no dia a dia e ver chegar nesta marca tão importante."
Carlos Miguel, 23 anos, atual companheiro no Corinthians

Ser reserva de Cássio é bom negócio

Goleiros chegaram e saíram nos dez anos da dinastia de Cássio, mas passar pelo Corinthians parece ter feito bem às carreiras dos reservas. Júlio César hoje joga menos, mas é um pilar da estruturação do Bragantino sob a gestão Red Bull; Matheus Vidotto é titular no futebol japonês; Danilo Fernandes é titular do Bahia; e mais recentemente Walter saiu para ser titular do Cuiabá.

Cássio ficou. Ele vive sua 11ª temporada no Corinthians e dez anos já passaram desde aquela campanha tão relembrada na Libertadores. Venceu nove títulos como titular, foi herói em clássicos, pegou pênaltis inesquecíveis e se tornou pilar do clube nas horas boas e nas ruins. Uma presença tão marcante e constante que o corintiano não quer nem pensar como será, em alguns anos, não ter mais Cássio como o primeiro nome da escalação de seu time.

O maior goleiro da história do clube?

O recorde de Cássio reacende o debate sobre quem é maior no Corinthians, ele ou Ronaldo Giovanelli. Sempre que perguntados, os dois trocam gentilezas, como em vídeo divulgado recentemente pelo clube (veja abaixo).

Ao ultrapassar o ídolo dos Anos 1990, Cássio se tornou o terceiro jogador que mais vezes defendeu o Alvinegro, e tem tudo para se tornar o segundo nas próximas semanas: Luizinho, o Pequeno Polegar, jogou 606 vezes.

Cássio não é só o maior goleiro da história do Corinthians, é o maior jogador da história do Corinthians. Não estou fazendo média, o cara é decisivo, ele pega a bola do jogo."
Ronaldo Giovanelli, ex-goleiro com 602 jogos pelo Corinthians

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que havia sido informado, Matheus Donelli é um dos goleiros atuais do Corinthians, e não Matheus Vidotto. O erro foi corrigido.

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