Indianos criam torcida organizada para apoiar Brasil na Copa do Qatar
Você provavelmente não se lembra do dia 21 de dezembro de 1997. Naquele dia, na Arábia Saudita, a seleção brasileira venceu a australiana por 6 a 0. Romário fez três gols, Ronaldo outros três. Era a final da hoje extinta Copa das Confederações. Mas você provavelmente esqueceu. O indiano Ummer Kutty não: "Aquele dia mudou minha vida."
Ele tinha 13 anos e vivia na cidade de Tirur, às margens do Índico. Não costumava ver muitos jogos de futebol, mas quando soube que os brasileiros podiam jogar daquela forma, o futebol virou seu esporte favorito. "Eu me tornei fã do Ronaldo. Depois do Roberto Carlos", afirma ele. "Agora é o Neymar."
Quando se mudou pra Doha para trabalhar como "especialista em controle de documentos" na consultoria Qatar Design Consortium, Ummer descobriu que não estava sozinho em seu estranho amor por um país distante. Juntou-se a outros asiáticos que também compartilham com ele a paixão pela seleção brasileira.
Criou uma página do Facebook (15.092 curtidas), uma página no Instagram (2.350 seguidores) e dois grupos no WhatsApp (513 participantes cada) - todos cheios de fotos e vídeos de pessoas que dizem amar o futebol brasileiro, mesmo sem nunca ter pisado no Brasil. E mesmo sem conhecer muitas palavras em português, a não ser "bola", "Fenômeno", "jogo bonito" e "futebol arte".
"Meu momento mais feliz torcendo pelo Brasil foi na final da Copa de 2002. Eu estudava em um internato, e nós não podíamos ver o jogo. Eu e um amigo pulamos o muro do internato e fomos até a casa de outro amigo pra ver o jogo. Quando voltamos, pegamos três dias de suspensão", conta Ummer. Agora, aos 38 anos, ele pretende organizar uma grande festa para receber a seleção na Copa do Qatar, que começa em novembro.
A comunidade de torcedores da seleção brasileira no Qatar conta principalmente com indianos (entre eles, destacam-se os nascidos na região de Goa, que teve colonização portuguesa), mas também com pessoas de países como Bangladesh, Nepal e Paquistão. Nos últimos meses, eles têm feito vários eventos para estreitar os laços entre si e se preparar para o Mundial. São o que mais perto de uma "torcida organizada" o Brasil terá no Qatar.
Há duas semanas, lançaram sua logomarca oficial com a presença do lateral Marcelo. Semana passada, organizaram um torneio amistoso entre torcedores. O engenheiro Reji Varghese, de 47 anos, vive no Qatar há mais de dez. "Sou fanático pelo Brasil desde os 12 anos. A maioria das pessoas do estado de onde eu venho conhece o Zico, Sócrates, Cafu, Dunga, Ronaldo, Rivaldo... Nós vemos várias ligas de futebol, mas nenhuma se compara ao estilo samba do Brasil. Nós amamos esse jogo."
Cerca de 90% dos 2,6 milhões de habitantes do Qatar são estrangeiros, e muitos vêm de países onde o futebol não tem muita tradição. Essa situação incomum tem levado os organizadores a se preocupar com o engajamento da torcida durante o Mundial. Mas se depender dos torcedores da seleção que vivem em Doha, engajamento não será problema.
Veja o caso de Mohammed Basheer Jaffer, conhecido pelos amigos como JMB. Ele trabalha como vendedor na empresa de importação Al Sad Trading e se fascinou pelo Brasil estudando a história de Pelé e Garrincha. Pela TV, virou fã da geração tetracampeã em 1994. Batizou um de seus filhos em homenagem ao ex-meia Raí. Quando construiu uma casa para família, não hesitou ao escolher um nome para ela: "Brasília".
Eles conhecem a delícia de torcer pela única seleção pentacampeã do mundo. E também a dor. "Nós celebramos todas as vitórias do Brasil e choramos quando Belo Horizonte chorou", disse Shamzeer Musthafa, em referência ao 7 a 1 no Mineirão em 2014. No último dia 16, o indiano postou no Facebook uma foto de sua filha vestida com a camiseta brasileira brincando com uma bola e escreveu: "A futura Marta".
Eles prometem se juntar aos brasileiros que forem ao país para encher a parte verde e amarela dos estádios que receberem o time de Tite. Apesar de estarem a centenas de milhares de quilômetros da América do Sul, os torcedores asiáticos da seleção não escapam de certas rivalidades latinas. "Meus amigos me apoiam quando sabem que eu torço pro Brasil, mas minha mulher não. Ela torce pra Argentina", diz Ummer.
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