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CBF fala em "erros inaceitáveis". Mas como é a formação dos árbitros?

Árbitro Rodolpho Toski Marques em jogo entre Vasco e Ituano pela Série B - Thiago Ribeiro/AGIF
Árbitro Rodolpho Toski Marques em jogo entre Vasco e Ituano pela Série B Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

30/07/2022 04h00

O presidente da comissão de arbitragem, Wilson Seneme, admitiu a existência de erros "inaceitáveis", nas palavras dele, ao longo do primeiro turno do Brasileirão e na Copa do Brasil. "Ocorreram erros absurdos, sim. Muitos que ocorrem, inclusive, são inaceitáveis para vocês, para nós e para o futebol".

A declaração aconteceu durante uma reunião com os clubes das séries A e B do Brasileirão, na sede da CBF, em 26 de julho. O encontro aconteceu após situações que geraram polêmicas e protestos por parte dos dirigentes, como o fato de o VAR não ter traçado as linhas em Palmeiras x São Paulo, pela Copa do Brasil, para saber se Calleri estava em condições legais na jogada que resultou em pênalti para o Tricolor.

Em um momento em que os árbitros viraram alvo dos holofotes, a maneira como a formação deles é feita desperta curiosidade. O Brasileirão conta com árbitros que pertencem ao quadro da Fifa e outros não, como os aspirantes à Fifa, os da CBF-1 e CBF-2. Todos eles, contudo, têm o mesmo ponto de partida.

Antes de almejar ser um árbitro Fifa, primeiro é preciso formar-se na área, por meio de um curso específico. Para isso, exige-se o ensino médio completo, capacidade de realizar atividades e exercícios de alto rendimento e não possuir restrições físicas e/ou cardiológicas.

Pegando São Paulo como exemplo, a Escola de Árbitros Flávio Iazzetti foi a primeira do tipo no país. Fundada na década de 1940 e mantida pela FPF (Federação Paulista de Futebol), a entidade abriu em 1953 o seu primeiro curso regular, com a formatura da turma inaugural em 1954. A partir de então, anualmente, a FPF abre edital do seu curso de árbitros e árbitros auxiliares.

Para ingressar na escola, o candidato a árbitro passa por um processo seletivo, com avaliação classificatória de conhecimentos gerais de futebol, língua portuguesa, inglês e espanhol. Ao longo das aulas, os estudantes também passam por testes teóricos e físicos.

Qual o valor do investimento?

O curso da Escola de Árbitros Flávio Iazzetti dura de 18 a 24 meses. O valor da formação varia de uma turma para outra. De acordo com a FPF, em 2021, o custo total do curso era de R$ 6,8 mil.

Após concluir a formação, os árbitros precisam seguir regras previstas em um regulamento interno, com regras de condutas ética e profissional, e recebem um manual para árbitros assistentes de vídeo (VAR).

No início, só competições de base

Após o curso, o árbitro faz a solicitação do ingresso no quadro de arbitragem da FPF. A realização da formação, no entanto, não garante que ele será aceito automaticamente. Seu ingresso nos quadros da entidade estadual depende das necessidades do momento e do desempenho do aluno no curso.

Caso consiga a vaga, ele começará a apitar competições de categorias de base (infantil, juvenil). A atuação pode ser no futebol amador ou estar ligada a uma federação estadual.

Entre o ingresso na escola e a possibilidade de apitar as principais competições do estado, o tempo médio é de 6 a 8 anos. Posteriormente, o árbitro pode ser indicado para ingressar no quadro da CBF, em competições nacionais, e, depois, da Fifa, em torneios internacionais.

Plano de carreira

De acordo com os critérios estabelecidos pela Comissão Estadual de Arbitragem, o plano de carreira de árbitros e assistentes são classificados em seis categorias:

Categoria Especial

Integrada pelos árbitros e assistentes com mais de cinco anos, ininterruptos, de prestação de serviço na FPF. Atuarão em todas as competições organizadas pela FPF.

Categoria 1

Integrada pelos árbitros e assistentes com mais de cinco anos, ininterruptos, de prestação de serviço na FPF. De acordo com os critérios e observações da Comissão de Arbitragem, poderão atuar no Campeonato Paulista da Série A1 e em competições de categorias equivalentes e amadoras.

Categoria 2

Integrada pelos árbitros e assistentes com mais de cinco anos, ininterruptos, de prestação de serviço na FPF. Atuarão, preferencialmente, nos campeonatos Paulista das Séries A2 e A3 e em competições de categorias equivalentes e amadoras.

Categoria 3

Integrada pelos árbitros e assistentes com mais de três anos, ininterruptos, de prestação de serviço na FPF. Atuarão, preferencialmente, nos campeonatos Paulista da Segunda Divisão e Copa Paulista e em competições amadoras.

Categoria 4

Integrada pelos árbitros e assistentes com mais de dois anos, ininterruptos, de prestação de serviço na FPF. Atuarão, preferencialmente, nas competições amadoras.

Categoria 5

Integrada pelos alunos aprovados na terceira fase do Curso de Arbitragem da Escola de Árbitros Flávio Iazzetti, os quais cumprirão estágio probatório de um ano em competições amadoras, exclusivamente.

A mudança de categoria deverá ocorrer de forma progressiva, não sendo admitida em nenhuma hipótese a ascensão para uma categoria superior sem que o árbitro ou assistente tenha passado pela categoria imediatamente inferior.

Quanto ganha um árbitro de futebol no Brasil?

Em geral, os árbitros e os profissionais do apito são remunerados por jogo, e os valores variam conforme a competição (regional, nacional ou internacional). Numa partida da Série A do Brasileirão, por exemplo, um árbitro da CBF pode ganhar cerca de R$ 3 mil e um árbitro assistente, R$ 1,8 mil.

Se o árbitro estiver relacionado no quadro da Fifa, o valor na mesma competição chega a cerca de R$ 4 mil — enquanto um auxiliar embolsa R$ 3 mil.

Levantamento feito pela plataforma FIIBrasil mostra que Santos é a cidade do país com o melhor salário médio ofertado para um árbitro de futebol: R$ 10.060,82.

Como ingressar no quadro da CBF?

O quadro de árbitros da CBF é formado por meio de indicações das comissões estaduais de arbitragem. Mesmo que o árbitro passe no teste estadual, ele somente ingressará na CBF se houver vaga para a sua federação.

As vagas no quadro nacional são oferecidas quando um árbitro deixa o quadro por atingir a idade-limite de 45 anos ou por deficiência técnica, reprovação em teste físico ou teórico. Para ser admitido na CBF, além de ser indicado por sua federação, é cobrada experiência mínima de dois anos na divisão principal do seu campeonato estadual e não ter mais de 35 anos de idade.

Atualmente, existem mais de 269 árbitros e árbitras de futebol relacionados no site oficial da CBF.

Como chegar ao quadro da Fifa?

Para entrar no quadro da Fifa, o árbitro deve ser indicado pela Comissão Nacional de Arbitragem de seu país e ter a idade entre 25 e 35 anos. O juiz, no entanto, poderá ser retirado do quadro a qualquer momento, inclusive por meio de comunicado oficial da comissão.

Numa situação normal, uma vez indicado, o árbitro atuará até ser obrigado a abandonar o escudo da Fifa no ano seguinte ao seu 45º aniversário. Se deseja integrar as fileiras da Fifa, falar bem inglês e espanhol é imprescindível.

Tanto a CBF quanto a Fifa passaram a aumentar suas exigências e a frequência de avaliações teóricas e físicas. A Fifa divulga, no início de cada ano, a relação dos árbitros que fazem parte do quadro internacional. Para cada país-membro da entidade, são destinadas 28 vagas para o futebol, dentre as quais 20 homens e oito, para mulheres.

Quais os critérios para apitar uma Copa do Mundo

Em maio, a Fifa divulgou os nomes dos árbitros e assistentes que estarão presentes no Mundial do Qatar. Os brasileiros Raphael Claus e Wilton Pereira Sampaio irão representar o Brasil na competição.

"Como sempre, o critério que usamos é 'qualidade em primeiro lugar' e os árbitros selecionados representam o mais alto nível de arbitragem em todo o mundo", afirmou à época o ex-árbitro italiano Pierluigi Collina, atual presidente do Comitê de Arbitragem da Fifa.

Ao todo, 46 árbitros brasileiros fazem parte do quadro internacional da Fifa — 17 árbitros e árbitras, 17 assistentes e 12 VAR. Veja a relação abaixo:

*Estreante
**Estreante como VAR

Árbitros e Árbitras
Anderson Daronco (RS)
Andreza Helena Siqueira (MG)*
Bráulio da Silva Machado (SC)
Bruno Arleu de Araújo (RJ)
Charly Wendy Straud Deretti (SC)
Daiane Caroline Muniz dos Santos (SP)
Deborah Cecília Cruz Correia (PE)
Edina Alves Batista (SP)
Flavio Rodrigues de Souza (SP)
Luiz Flavio de Oliveira (SP)
Raphael Claus (SP)
Rejane Caetano da Silva (RJ)
Rodolpho Toski Marques (PR)
Savio Pereira Sampaio (DF)*
Thayslane de Melo Costa (SE)
Wagner do Nascimento Magalhães (RJ)
Wilton Pereira Sampaio (GO)

Árbitros Assistentes
Alessandro Rocha Matos (BA)
Anne Kesy Gomes de Sá (AM)*
Bárbara Roberta da Costa Loiola (PA)
Brigida Cirilo Ferreira (AL)
Bruno Boschilia (PR)
Bruno Raphael Pires (GO)
Danilo Ricardo Simon Manis (SP)
Fabricio Vilarinho da Silva (GO)
Fabrini Bevilaqua Costa (SP)
Fernanda Nândrea Gomes Antunes (MG)
Guilherme Dias Camilo (MG)
Kleber Lucio Gil (SC)
Leila Naiara Moreira da Cruz (DF)
Marcelo Carvalho Van Gasse (SP)
Neuza Ines Back (SP)
Rafael da Silva Alves (RS)
Rodrigo Henrique Correia (RJ)

Árbitros Assistentes de Vídeo (VAR)
Daiane Caroline Muniz dos Santos (SP)**
Daniel Nobre Bins (RS)**
Igor Junio Benevenuto de Oliveira (MG)
José Claudio Rocha Filho (SP)
Pablo Ramon Gonçalves Filho (RN)**
Péricles Bassols Pegado Cortez (SP)**
Rafael Traci (SC)
Rejane Caetano da Silva (RJ)**
Rodrigo D'Alonso Ferreira (SC)
Rodrigo Guarizo Ferreira do Amaral (SP)
Rodrigo Nunes de Sá (RJ)
Wagner Reway (PB)