Por que Klopp considera Firmino crucial para o Liverpool mesmo na reserva
Os rumores no mercado da bola fizeram com que Jürgen Klopp respondesse, na última quinta-feira (28), perguntas sobre o futuro de Roberto Firmino no Liverpool. À imprensa, o técnico alemão rasgou elogios ao brasileiro, disse que ele é a alma do clube inglês e deu indícios de que não irá liberar tão fácil o atacante.
"Bobby [Firmino] é crucial para nós. Bobby é o coração e a alma da equipe. A maneira como jogamos nos últimos anos só foi possível por causa de Bobby".
Esta foi a declaração do treinador na última quinta, que chamou a atenção justamente pelo fato de o brasileiro estar em baixa e com pouco espaço no Liverpool. Firmino fez 35 jogos na última temporada - 17 como titular -, menor número de partidas desde que ele chegou ao clube inglês, em 2015.
O que o brasileiro tem de tão especial para ser indispensável, mesmo na condição de reserva?
A resposta não passa exclusivamente por um único fator, mas pode começar a ser contada lá na formação de carreira do jogador. Roberto Firmino era meio-campista quando foi lançado no Figueirense e só avançou ao ataque ao chegar na Europa. Por causa disso, ele tem noção de espaço de um jogador mais central e consegue fazer funções que poucos camisas 9 desempenham no futebol mundial.
"Ele não é aquele 9 de ficar parado na área, fixo entre os zagueiros. Ele flutua nas costas dos volantes e é um dos melhores 'falsos 9' do futebol mundial. Não é simplesmente você se movimentar dali [área], e sim entender o momento certo disso. O momento que o volante adversário faz a menção de subir a marcação, de adiantar um pouco o posicionamento, e você lê e ataca a linha de passe que surgir nas costas dele", explicou Rodrigo Coutinho, analista de desempenho e colunista do UOL Esporte.
A inteligência para atuar como falso 9 não só faz com que Firmino participe da criação ofensiva — e o brasileiro tem um passe refinado —, como abre espaço para os pontas.
Talvez, por isso, Klopp não abra mão do atacante, que funcionou perfeitamente ao lado de Mohamed Salah e Sadio Mané — os velocistas exploravam com frequência os espaços criados por Bobby.
"Firmino não chega a ser um jogador único, mas é quase. Talvez com exceção de Messi, ninguém entendeu tão bem a ideia do que é um falso 9. Durante anos, a dinâmica do ataque do Liverpool passava por Firmino sair da posição de centroavante para a de armador e permitir a entrada em diagonal de Salah e Mané", pontuou Rafael Reis, colunista do UOL e especialista em futebol internacional.
Ainda que seja especial e tenha uma característica rara, Firmino não é insubstituível. Não à toa, perdeu a titularidade e era visto como um 'reserva de luxo' na última temporada europeia. Acontece que o estilo de jogo do atacante brasileiro, que encaixa muito bem às características de Salah e Mané, foi decifrado pelos adversários e ficou batido.
Por isso, Jürgen Klopp e o Liverpool precisaram ir ao mercado e contratar jogadores com outros perfis. A chegada do uruguaio Darwin Núñez, que desembarcou na Inglaterra com status de titular após brilhar no Benfica, é a prova de que os ingleses não querem ficar preso a um modelo.
Por outro lado, ter Firmino no elenco traz variações ofensivas e faz com que o repertório da equipe aumente. "Com o tempo, esse jogo do Liverpool ficou manjado, Klopp foi buscar outras opções e passou a jogar com um 9 de verdade [Diogo Jota, agora Darwin]. Mas Firmino ainda é importante porque permite ao Liverpool resgatar o Liverpool das antigas, ainda que não exista mais Mané [reforço do Bayern de Munique]", destacou Rafael Reis, que fez duas ressalvas:
Com Firmino, o Liverpool pode variar a formação e sair do tradicional 4-3-3 para atuar no 4-2-3-1. Além disso, o elenco carece de um camisa 10 (armador) de ofício.
Por fim, Rodrigo Coutinho ressaltou que a fala de Klopp, acima de tudo, tem por objetivo recuperar um jogador que terminou a última temporada em baixa.
"Tem a ver [a declaração] com uma aposta do treinador em recuperar o jogador. Ele não deixou de acreditar que o Firmino possa ter o desempenho de duas, três temporadas atrás. Por isso ele valoriza tanto o jogador nesta declaração. Ele teve uma queda física, técnica também, mas tem uma característica única no grupo", concluiu Coutinho.
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