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Entenda como o seu time ganha dinheiro da Globo no Brasileirão

Globo é a detentora exclusiva de quase todos os direitos do Brasileirão - PPV do Athletico é exceção - Fernando Moreno/AGIF
Globo é a detentora exclusiva de quase todos os direitos do Brasileirão - PPV do Athletico é exceção Imagem: Fernando Moreno/AGIF

Allan Simon

Do UOL, em São Paulo

01/08/2022 04h00

A Globo é responsável anualmente pelo pagamento de mais de R$ 1 bilhão aos clubes da Série A do Brasileirão. Dona dos direitos exclusivos de TV aberta, a empresa só não possui o domínio total da competição porque não tem sob contrato o Athletico nas mídias de pay-per-view e TV por assinatura. Mas muitos torcedores ainda têm dúvidas sobre como seus times ganham dinheiro da maior emissora do país no Campeonato Brasileiro.

Após o fim do primeiro turno do torneio, o UOL publicou uma série de balanços com os números de jogos transmitidos pela Globo em TV aberta, TV por assinatura, e exclusividades em PPV. Esses dados ainda parciais, já que o Brasileirão acaba de entrar na metade final das disputas, são importantes para entender como funciona a distribuição do dinheiro da TV. Confira abaixo, ponto a ponto, como o seu time entra nesse bolo.

- Quanto a Globo paga pelos direitos do Brasileirão?

Em valores de 2019, quando o atual contrato entrou em vigor, a Globo pagava R$ 600 milhões pelo pacote de TV aberta com todos os 20 clubes integrantes da Série A. Na TV por assinatura, o SporTV tinha feito uma proposta de R$ 500 milhões também pela competição completa,

Mas, na época, alguns times, como Athletico, Bahia, Ceará, Fortaleza, Internacional, Palmeiras e Santos tinham optado por fechar com a Warner os direitos dessa mídia, e alguns de seus jogos foram transmitidos pela TNT. Com a saída da empresa no fim de 2021, a Globo assumiu quase todos os clubes que antes estavam sob contrato com a rival, com exceção do Athletico.

Em termos proporcionais, a Globo pagaria, portanto, R$ 475 milhões pelos 19 times que hoje estão na Série A e assinaram com o SporTV. Além disso, o grupo ainda possui contratos com os mesmos clubes pelos direitos de PPV, no qual existe o repasse de 38% da receita bruta nas vendas por operadoras de TV paga e 50% do total líquido arrecadado em vendas diretas no streaming, como informou a coluna de Rodrigo Mattos no ano passado.

- Quais são as formas de um time ganhar dinheiro da TV no Brasileirão?

Os contratos de TV aberta e TV por assinatura possuem a mesma forma de distribuição do dinheiro que a Globo paga. Em ambos, 40% do valor total é dividido de forma igualitária entre os clubes que assinaram os acordos, 30% vai para a distribuição de acordo com o número de jogos transmitidos de cada time, e outra parcela de 30% serve como premiação de acordo com a classificação final do torneio.

No PPV, a Globo tem em contrato um mínimo garantido a Flamengo e Corinthians, como também de acordo com informação do colunista Rodrigo Mattos em 2021. O time rubro-negro, por exemplo, parte sempre de R$ 120 milhões anuais no acordo com o Premiere, podendo aumentar o valor a receber se bater as metas de assinaturas. Os valores desta mídia são divididos de forma diferente (leia mais abaixo neste texto) entre os clubes e não fazem parte do bolo de divisão da TV aberta e TV paga.

- Como funciona a divisão do dinheiro na fatia igualitária?

Na TV aberta, esse bolo em 2019 era equivalente a R$ 240 milhões (o total dessa mídia, lembrando, é R$ 600 milhões). Como todos os times da Série A assinaram com a emissora nesta mídia, o valor é integralmente dividido entre os 20, resultando em R$ 12 milhões fixos para cada um.

Na conta da TV paga, o Athletico fica fora por não ter assinado com o SporTV, o que derruba o valor total do acordo. Portanto, simulando um cenário com 19 times, o valor ofertado cai de R$ 500 milhões para R$ 475 milhões. A parcela a ser dividida igualmente entre os clubes é de R$ 190 milhões, que garante R$ 10 milhões a cada um. Ou seja, quem assina com Globo e SporTV já parte de R$ 22 milhões por ano.

- Como os clubes ganham por jogo transmitido na Globo e no SporTV?

Outros bolos de 30% (R$ 180 milhões na TV aberta e R$ 142,5 milhões na TV paga) são distribuídos de acordo com o número de jogos transmitidos de cada clube na Globo e no SporTV. O valor final que cada partida representa para os clubes depende do total de duelos exibidos por cada emissora, mas em média o canal pago mostra 76 jogos por ano, enquanto a Globo pode passar de 90 partidas.

Em um cenário no qual a TV Globo exibe esses 90 jogos em sinal aberto, os R$ 180 milhões do bolo de transmissões são divididos entre as partidas, dando R$ 2 mi para cada uma, dinheiro que é repartido igualmente entre os dois clubes que atuaram em campo. Ou seja, cada clube levaria R$ 1 milhão por jogo transmitido na TV aberta.

Só que nos últimos tempos, a Globo tem reduzido as transmissões em TV aberta e optado por dividir a rede com partidas da Série B, cujos times participantes não têm direito a esses valores e estão sob outro contrato com a emissora. Isso significa que com menos jogos transmitidos, o valor individual por partida sobe, pois a quantia de R$ 180 milhões a ser dividida é sempre a mesma.

No SporTV, cada jogo valeria algo em torno de R$ 1,9 milhão. Ou seja, uma aparição no canal de TV por assinatura da Globo engordaria os cofres de cada time em quase R$ 1 milhão também.

- Como os clubes ganham de acordo com a classificação do Brasileirão?

Embora a CBF sempre anuncie com muita pompa os valores das premiações do Brasileirão ao fim de cada temporada, é dos contratos que a Globo fechou individualmente com os clubes que sai o dinheiro usado para o pagamento de acordo com a classificação obtida no campo.

O dinheiro sai dos bolos restantes de 30% dos acordos de TV aberta e TV paga com a emissora carioca, passando dos R$ 320 milhões. O campeão em 2021 teve direito a um prêmio de R$ 33 milhões, enquanto o vice levou R$ 31,3 milhões. Os valores são repassados até o 16º colocado. Os quatro rebaixados não recebem quantia alguma sobre essa fatia dos direitos de transmissão.

Quem não tem contrato com a Globo nas duas mídias recebe apenas parte do valor referente à colocação no campeonato. O Athletico, por exemplo, em caso de título brasileiro não receberia R$ 33 milhões, mas apenas a quantia proporcional ao contrato de TV aberta.

- Como é feita a divisão do dinheiro do PPV?

Atualmente, na Série A apenas Flamengo e Corinthians possuem mínimos garantidos em contrato para o PPV. O Grêmio, na Série B, também possui essa garantia com a Globo. No geral, a emissora repassa 38% do total bruto arrecadado com as vendas do Premiere por meio de operadoras de TV paga, e 50% da receita líquida obtida em vendas diretas por streaming, seja no Globoplay ou na Amazon.

O pay-per-view, portanto, não segue a lógica do bolo 40/30/30 que explicamos acima. Até 2019, a Globo levou em consideração pesquisas de torcidas pelo país para fazer os percentuais de divisão do dinheiro arrecadado com o Premiere entre os clubes. A partir de 2020, passou a valer o cadastro que os clientes do canal fazem ao assinar o serviço e indicar o clube do coração.

- E com os times que estão na Série B, como funciona?

A Série B tem um regime diferente de contratos na televisão. Todos os participantes têm direito a uma cota fixa sem distinção, valor que fica entre R$ 6 mi e R$ 8 milhões por temporada, contando ajuda de custos com viagens e hospedagens. É possível abrir mão desta cota para receber apenas o que o time arrecadar com o pay-per-view.

Ou seja, se o clube entender que sua torcida tem potencial para assinar pacotes de PPV em quantidade suficiente para que o valor arrecadado fique maior que a cota fixa da Série B, a melhor opção é ficar apenas com o dinheiro do Premiere. É o que clubes como Grêmio, Vasco e Cruzeiro fazem.