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Libertadores - 2022

Corinthians tenta igualar Fla sem passar por anos de perrengue do rival

Corinthians freia descontrole das dívidas mas evita encarar sacrifício que Flamengo fez antes da boa fase - Divulgação/Corinthians
Corinthians freia descontrole das dívidas mas evita encarar sacrifício que Flamengo fez antes da boa fase Imagem: Divulgação/Corinthians

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

01/08/2022 04h00

O duelo de amanhã (2) pelas quartas de final da Libertadores opõe não só dois dos maiores clubes do Brasil, mas também duas formas diferentes de administração. De um lado, um Flamengo que aceitou passar anos de perrengue até aliviar as contas; de outro, um Corinthians que tenta evitar o sacrifício muito grande nas finanças e tomar um atalho para alcançar o rival nacional.

Quando o Flamengo apertou os cintos em suas finanças, em 2013, o Corinthians era o então campeão do mundo. Eduardo Bandeira de Mello tomou posse no Rubro-Negro, implementou uma rígida política de austeridade e enfrentou muita resistência interna e na torcida, afinal, o costume até então era gastar muito —e muitas vezes mal. Com a nova diretoria, a norma virou gastar somente o que dava para gastar.

Na época, a dívida do Flamengo era de R$ 750 milhões. O Corinthians devia apenas 25% disso, em torno de R$ 194 milhões, e enxergou margem para fazer o movimento contrário: gastar cada vez mais. Enquanto o Fla buscava acordos com a Fazenda e pagava suas parcelas religiosamente, o Alvinegro investia pesado para tentar seguir disputando títulos.

Curiosamente, os dois clubes venceram títulos em 2013: o Flamengo levantou uma inesperada Copa do Brasil sob a batuta de Hernane Brocador e Elias; enquanto o Corinthians venceu Paulistão e Recopa na esteira do histórico ano anterior. A diferença de um para o outro foi o custo de cada taça.

Mesmo com times limitados, Bandeira não cedeu à pressão por reforços. O Flamengo só sentiu segurança para voltar a "ousar" nas contratações em 2015, com Paolo Guerrero, mas nem assim abandonou a toada da austeridade. Já o Corinthians segurou seu ímpeto na gestão Roberto de Andrade e manteve a dívida estável por quatro anos. Em 2017, por exemplo, ambos os clubes chegaram a ter dívidas bem próximas, entre R$ 400 e 450 milhões.

Em 2019, Rodolfo Landim assumiu a presidência do Flamengo para saborear o "filé" depois do "osso roído" pelo antecessor, e o clube viveu um ano mágico, com Brasileirão e Libertadores. Foi nesta mesmíssima temporada que o Corinthians de Andrés Sanchez perdeu o controle das finanças, depois foi atropelado pela pandemia e em dois anos praticamente dobrou sua dívida.

O último balanço anual flamenguista informou uma dívida total de R$ 604 milhões, cerca de 60% do impressionante faturamento do clube em 2021 (R$ 1 bilhão). No Corinthians, as contas são o contrário: é a dívida que já passou de um bilhão, enquanto o faturamento do ano passado foi de R$ 500 milhões.

O Alvinegro vem de três semestres seguidos no azul e com um importante acordo firmado com a Caixa para pagar seu estádio, dois pontos positivos, mas o esforço da gestão de Duílio Monteiro Alves não chega a ser uma revolução à lá Bandeira de Mello. No campo, onde as cifras importam pouco ou quase nada, Corinthians e Flamengo jogam às 21h30 (de Brasília) de amanhã, na Neo Química Arena.

Vagner Love, de corte de gastos a reforço de luxo

Um episódio marcante da austeridade de Bandeira e que impactou torcedores, dirigentes e imprensa em 2013 foi a decisão de não renovar com Vagner Love, o principal jogador do Flamengo na época, mas que custava R$ 1 milhão por mês. A repercussão foi ruim, mas a decisão acabou sendo simbólica da mentalidade daquela nova diretoria.

Depois de duas temporadas no exterior, Love voltou ao Brasil para ser o camisa 9 justamente do Corinthians e foi fundamental para a conquista do Brasileirão de 2015. O atacante ainda voltaria ao Alvinegro para uma segunda passagem de um ano e meio, entre 2019 e 2020.