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Brasileiros fazem 'rapa' no mercado, e argentinos veem duelo desigual

Flaco López, ex-Lanús, estava no radar do River Plate, mas Palmeiras chegou antes e com maior poder financeiro - Cesar Greco/Palmeiras
Flaco López, ex-Lanús, estava no radar do River Plate, mas Palmeiras chegou antes e com maior poder financeiro Imagem: Cesar Greco/Palmeiras

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

02/08/2022 04h00

As quartas de final da Copa Libertadores começam hoje (2) com duelo restrito a brasileiros e argentinos, mas a disputa está ficando cada vez mais desigual. Quem define assim são os próprios vizinhos, que ao longo de julho viram sete jogadores trocarem o futebol portenho pelo Brasileirão. A moeda desvalorizada lá e o poderia financeiro aqui fizeram até jovens no radar dos gigantes Boca Juniors e River Plate chegarem mais cedo ao outro lado da fronteira.

Giuliano Galoppo (São Paulo), José López (Palmeiras), Fausto Vera (Corinthians), Braian Romero (Inter), Emanuel Brítez (Fortaleza) e Christian Pavón (Atlético-MG) formam a lista de negócios que ilustra bem o cenário atual.

Além das transações já concretizadas, pelo menos mais cinco tratativas podem ocorrer nos próximos dias. Um êxodo que acentua a distância financeira entre os clubes.

"A competição entre brasileiros e argentinos vai ser cada vez mais desigual", avaliou Diego Borinsky, jornalista argentino da rádio "Cadena 3" e autor das biografias das biografias de D'Alessandro e Marcelo Gallardo, treinador do River Plate.

O fato de o Palmeiras ter contratado José López, assim como a negociação de São Paulo por Giuliano Galoppo, e o acerto de Vera com o Corinthians chamam a atenção dos argentinos. É como se uma etapa da cadeia produtiva fosse extinta na Argentina.

"Os bons valores do nosso futebol, não as super estrelas jovens, não, mas bons valores vão para o Brasil. Fica muito difícil assim", reiterou Borinsky, que acrescentou:

"As pessoas no River e no Boca são conscientes da distância. Antes, era contra a realidade econômica da Europa. Agora é também contra o Brasil".

As super estrelas em questão são Julian Alvarez e Enzo Fernández, negociados pelo River Plate com Manchester City e Benfica, respectivamente. Fora eles, a lista de nomes é vasta e parte rumo ao lado brasileiro por um motivo: a moeda.

"O Brasil é uma solução intermediária para os próprios jogadores e para os clubes argentinos. São operações que nem sempre são fáceis, mas saem convenientes para todos os envolvidos", explica Cesar Merlo, repórter da TyC especializado em transferências.

Na Argentina, o peso argentino tem sofrido desvalorização constante. Atualmente, a moeda perdeu ainda mais força e jogou os clubes contra a parede por conta de contratos baseados em cotações anteriores. Para os jogadores, o dólar sai mais caro e o salário se torna menor.

"O jogador também vai jogar em uma liga competitiva e pode dar um salto à Europa no futuro. E em alguns casos em que os clubes argentinos também torcem por isso, por manterem percentual dos direitos", pontuou Merlo.

Agustín Rossi, goleiro do Boca Juniors, é um dos possíveis negócios em um futuro breve. O jogador não gostou da oferta de renovação e atualmente a especulação é de que ele receba um sexto do que recebeu antes da desvalorização do câmbio.

"Neste contexto econômico, qualquer oferta de contrato em dólares é muito dinheiro. O Brasil é muito atrativo mesmo", se resignou Diego Borinsky.

Rossi, em rota de colisão com o Boca, interessa ao Flamengo. O Botafogo tenta acordo com o Godoy Cruz por Martín Ojeda, enquanto o Santos sonha com Juanfer Quintero, do River, Franco Cristaldo, do Huracán, e Lucas Blondel, do Tigre.

"Fora da Libertadores, e com uma Copa Argentina que joga uma única partida por mês, Boca e River fazem campanhas pífias no Campeonato Argentino, escancarando esta dificuldade técnica mesmo com um calendário favorável", lembra Tales Toraga, blogueiro do UOL.

Depois de 11 rodadas, o River Plate é o 12º colocado e o Boca Juniors aparece logo atrás, de um total de 28 equipes. Adversários com times parelhos e arbitragem em xeque jogam os gigantes em um cenário raro.

"A dupla tem diante de si um desafio inédito nos últimos 40 anos. Desde o domínio de Independiente e Estudiantes no começo dos anos 1980", ressalta Toraga.

Na Libertadores, Vélez Sarsfield, Talleres e Estudiantes representam o futebol argentino. Corinthians, Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras e Athletico levam a bandeira do Brasil. As últimas três edições da competição foram vencidas por clubes brasileiros, enquanto a última conquista dos "hermanos" foi em 2018, quando o River bateu o arquirrival Boca e ficou com o caneco.