Marca estabelecida ou meme passageiro: quanto vale o Luva de Pedreiro?
Quantas vezes você já ouviu o bordão "receba" por aí? Já faz cinco meses que Iran Santana Alves, o influencer conhecido como Luva de Pedreiro, estourou na internet. Se memes, bordões e fenômenos da rede não trazem consigo uma etiqueta com a data de validade, algumas questões surgem: até quando ele continuará tendo alcance nacional e, sobretudo, quanto ele pode gerar de negócios para si e quem conduz sua carreira?
O novo contrato de Iran com a Adidas é de 18 meses e traz alguma perspectiva para além de 2022, mesmo que o conteúdo produzido pelo Luva majoritariamente ainda seja o clássico chute no ângulo e a comemoração com "graças a Deus, Pai" e "os brasileiros são os melhores do mundo".
A diferença é que a lista de camisas usadas pelo influenciador para gravar seus tradicionais gols ficará restrita às que a Adidas produzir — nada da seleção brasileira com a Nike, por exemplo, ou do Vasco, time para o qual ele torce, que é parceiro da Kappa. Iran pode até visitar clubes que não são patrocinados pela Adidas, mas não haverá mais vídeo no perfil dele com marcas concorrentes.
O acerto com a fornecedora de material esportivo foi anunciado como o "maior" por parte do Luva de Pedreiro e seu novo staff. O UOL Esporte apurou que o vínculo com a empresa alemã não é o maior em termos financeiros, mas é considerado o mais relevante pelo "valor agregado". Isso envolve o tempo de duração e as participações previstas nos eventos, por exemplo.
A cada viagem ao exterior, quem trabalha com Iran se convence mais de que ele não é um fenômeno que se restringe ao Brasil — os perfis dele nas redes sociais já ultrapassaram 30 milhões de seguidores. Até pelas viagens ao Marrocos e a Portugal, há elementos de contornos globais no jovem de 20 anos, nativo de Quijingue, no interior da Bahia. O acordo com a Adidas, inclusive, prevê ações que envolvem a Copa do Mundo, em novembro, e a Liga dos Campeões. Iran já esteve na final da Champions passada por causa de um contrato com a Pepsi. Para especialistas, entretanto, a longevidade depende de outros fatores.
"O 'receba' do Luva vai cansar em algum momento. Cabe ao Luva e ao time dele entenderem de que forma vão potencializar o conteúdo. Não existe um tempo médio para a vida de um meme. Isso vai depender das situações. Quando a gente fala de uma pessoa exposta, a tendência é que fique por mais tempo, ao contrário de pessoas que surgem, explodem e depois desaparecem", avalia Bernardo Pontes, sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo que tem o meia Diego Ribas como um dos clientes.
Qual o valor do Luva?
Os valores do contrato mais recente não foram revelados. Como o UOL já mostrou, o contrato do Luva de Pedreiro com a Amazon Prime Video prevê pagamento de R$ 1,5 milhão. Em contrapartida, o influenciador precisa participar da produção de vídeos pontuais. Já o acordo com Pepsi rendeu US$ 50 mil (R$ 263 mil, na cotação atual). Além de ir à final da Champions, Luva se comprometeu a gravar comercial para o período da Copa 2022.
No processo judicial que tramita na Justiça do Rio de Janeiro, Allan Jesus, ex-agente em litígio com Iran diz que estava "em estágio avançado de negociação com algumas empresas", como o Banco Inter. Segundo o ex-empresário, esse contrato seria de pelo menos R$ 2 milhões. Com a C&C, havia intenção de fechar por R$ 1,5 milhão, sem contar o acerto com a Leroy Merlin que daria como contrapartida a reforma da casa do influenciador, na Bahia.
Não há uma precificação fixa pela mão de obra do Luva de Pedreiro. Na "tropa" de Iran, a escalação original tinha o cruzador, responsável por lhe dar 'assistências' no vídeo, e o goleiro, que sofria seus gols. Agora, envolve também Fernando Veras, o videomaker que passou a ser inseparável, a partir da nova gestão da carreira de Iran.
Quanto isso custa às marcas que se associam a ele? No mercado de influenciadores, a quantia depende do escopo do serviço combinado. Quem conta isso é Taciana Veloso, co-CEO e co-fundadora da agência Index. A empresa trabalha com estratégias digitais e faz interface entre marcas e talentos. Um trabalho recente envolveu a cantora Anitta e a Cimed, no lançamento de um perfume íntimo. A farmacêutica é cliente da Index.
"Há diferentes formas de remuneração. Pode ter um valor fixo e mais um percentual de royalties, por exemplo. Isso acontece em alguns casos. Existe o valor que não é só pelo número de seguidores. Existe o valor atrelado ao engajamento, à performance do talento. Como ele vai repercutir e reverter em venda. Cada um é cada um. Não tenho como falar que há preço tabelado. Tem agência que tem. Mas dentro do que trabalhamos hoje, algo sob medida, pensado por projeto, o cálculo é dessa forma. E muitas vezes as entregas não são só digitais. Pode estar atrelada a eventos, presença e campanhas. Hoje, a comunicação é multiplataforma. Se estou trabalhando com influenciador digital, faz sentido incluí-lo na estratégia offline? Isso tudo impacta na precificação", diz Taciana.
E a comissão? O percentual de 50% estabelecido por Allan Jesus quando iniciou a parceria com Luva de Pedreiro, em fevereiro, gerou polêmica. O influenciador contesta o contrato na Justiça, sob alegação de que não tinha condição de compreender as cláusulas por si só. Quando assinou o documento, que tinha duração de quatro anos, Iran não tinha auxílio de advogado. Allan alega que leu as cláusulas para ele e que o rapaz é alfabetizado.
Enquanto a Justiça não define o mérito da questão, quem lida com contratos não enxerga tanta estranheza no percentual, embora haja casos no mercado de "mordida" menor do empresário - sobretudo se o trabalho vai além da mera intermediação de contratos.
"Não estou fazendo juízo de valor em relação ao ex-empresário e ao novo. Mas depende do momento em que você passa a agenciar o influenciador. Eu já vi 30%, 40%, 50%. Depende do investimento que você faz. Ele catapultou o Iran de alguma forma? Otimizou o personagem? Agregou valor financeiro? Percentual é muito relativo. Já fiz contrato de agenciador com 50%. E já fiz com 0% de comissão, mas com divisão de receita agregada", explica o advogado Marcos Motta, que atua na área esportiva e do entretenimento.
Para onde o Luva vai?
Depois da briga com o ex-empresário Allan Jesus, ele agora tem a carreira gerida por Falcão, ex-jogador de futsal, Marcelo Seiroz, o Batata, e Mozyr Sampaio. Assinar com a Adidas já mostra uma mudança de rota na condução da carreira do Luva, em relação ao período com Allan Jesus. O ex-empresário evitava contratos com fornecedoras de material porque queria desenvolver a marca própria do Luva de Pedreiro, com produção de roupas e, futuramente, chuteiras.
Em meio ao processo judicial no qual se discute uma indenização por causa do rompimento unilateral do contrato por parte de Iran, Allan tirou do ar o site que vendia os produtos da marca Luva de Pedreiro. Os novos gestores nem se mexeram para tentar manter essa parte do negócio em pé. Não há interesse no momento, até pela logística que vem acoplada. No futuro, há uma perspectiva de retomada, mas o presente é a Adidas. De repente, gerando uma linha de produtos do Luva em colaboração com a marca. Nas aparições mais recentes desde o anúncio, Iran estava vestindo a camisa da Juventus e modelos neutros da Adidas.
Em termos de discurso, Luva ainda não passou por uma mudança radical. E nada indica que vá abandonar o "Receba". O staff, inclusive, entende que o bordão ainda estará muito popular durante a Copa do Mundo. Iran quer que o caminho como influenciador siga sua rota natural.
"Cair na mesmice porque o formato deu certo e há confiança nele muitas vezes é uma armadilha. Tudo nas redes sociais cansa rápido. Pode ter um público que goste. A gente mexe, sim, em time que está ganhando. O que é muito importante nesse caso é que o influenciador seja bem orientado. A gente trabalha com dados de forma permanente. Esse é o lado bom da internet. Você tem o retorno muito rápido. Quando existe um problema, a mudança de rota tem que ser rápida e estratégica", avalia Taciana Veloso.
Por enquanto, Iran terá que prestar contas à Justiça de todo dinheiro que receber e precisa depositar 30% do total em juízo, até que atinja R$ 5,2 milhões. Esse é o valor mínimo da multa estipulada no contrato com Allan, da qual o Luva quer se desvencilhar definitivamente.
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