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Ex-presidente do Bota deixa odontologia e vira auxiliar na base do Boavista

Maurício Assumpção (terceiro da esq. para dir.) com a comissão técnica do sub-14 do Boavista - Alexandre Araújo / UOL Esporte
Maurício Assumpção (terceiro da esq. para dir.) com a comissão técnica do sub-14 do Boavista Imagem: Alexandre Araújo / UOL Esporte

Alexandre Araújo

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

05/08/2022 04h00

Há uns dias, Rafael Shalom, técnico do sub-14 do Boavista-RJ, foi chamado por pai de um jogador pouco após entrar em campo e foi questionado se quem havia visto era o que personagem que imaginava. Minutos antes, quem cumprimentou os presentes à arquibancada do CFZ foi Maurício Assumpção, ex-presidente do Botafogo e hoje auxiliar-técnico na equipe de Bacaxá.

Dentista de formação e professor universitário na área, o ex-dirigente se aposentou da odontologia após 32 anos e, agora, inicia trajetória profissional, com o objetivo de, futuramente, chegar a um cargo de gestão das categorias inferiores. E a primeira experiência em um jogo será no domingo (7).

Maurício Assumpção, de 59 anos, esteve à frente do Glorioso por dois mandatos, entre 2009 e 2014. Neste período, o Botafogo teve, por exemplo, a contratação de Seedorf, oficializada em 2012, mas também amargou o rebaixamento no Brasileiro em 2014. Um dos pontos que o ex-presidente fala com orgulho e que acredita que tenha deixado como grande legado foi, justamente, a restauração da base.

Em meio às dificuldades financeiras que o clube vivia, as categorias inferiores foram apontadas como um dos caminhos. Segundo Assumpção, foi ainda nos tempos de General Severiano que surgiu o desejo de trabalhar na área.

"Essa vontade surgiu da minha experiência como presidente, de 2009 a 2014. Acho que, talvez, o legado mais importante que eu tenha deixado no Botafogo tenha sido a reestruturação do futebol de base e os frutos que rendeu. Duas pessoas foram muito importantes neste processo, o Sidney Loureiro, primeiro gerente da base, e depois o Ney Souto. E me apaixonei por este processo de formação, entendia que era uma solução para o Botafogo. Participei muito deste processo. Assistia a mais jogos da base do que time principal (risos), à la Copinha, à excursão...", lembra, ao UOL Esporte.

"Entendi que se um dia eu tivesse de voltar para o futebol, seria para trabalhar com formação. Tem um pouco também do meu lado dentista, minha especialidade era odontopediatria e ortodontia, então, trabalhava muito com criança e adolescente. Era com esse público que eu lidava no meu dia a dia, tanto como prático na odontologia quanto como professor universitário", completou.

Maurício conta que, ainda no Botafogo, fez curso de gestão e marketing esportivo. Posteriormente, passou pela Licença C da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), além de pós-graduação em psicomotricidade, neurociência aplicada à aprendizagem e um curso de especialização em futebol.

Maurício Assumpção, presidente do Botafogo entre 2009 e 2014 - Satiro Sodre/AGIF - Satiro Sodre/AGIF
Imagem: Satiro Sodre/AGIF

"Compreendi que, para ser gestor de formação, precisa ter uma experiência de campo, como auxiliar ou treinador. Precisava entender um pouco essa dinâmica do dia a dia, de pensar o treino, até para poder entender as dores de um treinador quando eu tiver de conversar com ele", aponta.

Ao longo deste período, fez estágio de um mês no sub-20 do Vasco, após contato com Carlos Brazil, do Cruz-Maltino, hoje diretor de futebol e com quem trabalhou na base do Botafogo. Depois, através de um amigo em comum, retomou o contato com Maurício Oliveira, CEO Geral da base do Boavista.

"Como presidente, tive uma visão do todo. No Botafogo, pude acompanhar a base de forma intensa, vendo os coordenadores, gestores e treinadores. Tive a oportunidade de trabalhar com pessoas fantásticas como, por exemplo, Eduardo e Guilherme, irmãos que estavam no Fluminense e, no Botafogo, eram coordenadores técnico e metodológico, respectivamente. Eles criaram com o Ney, Sidney e [Eduardo] Freeland o caderno metodológico do Botafogo. Tive oportunidade de trabalhar com o Mauricio Souza, com o Felipe Leal, Eduardo Hungaro... O que eu preciso, agora, é estar imerso nas situações micros. Hoje, estou em um ambiente que vi, mas não vivi", indica.

"O mais importante é ver se as coisas que aprendi na teoria cabem no processo do dia a dia, e o quanto eu posso ser eficiente. Quanto tempo vou ficar? Não sei. Aprender o processo é importante. Ser o coordenador geral da base, é o meu desejo, mas sei que essa experiência que estou tendo aqui é fundamental", assegurou.

O status de ex-presidente do Alvinegro não foi obstáculo ao receber o convite do Boavista, clube que não está entre os de maiores investimentos do Rio de Janeiro.

"Quando entrei no Botafogo, a realidade era bem mais triste que a do Boavista há alguns anos. Isso não me assustou. O Boavista hoje treina em local único, no CFZ, com academia, tem bola, tem tudo. Quero ser um coordenador, mas estou me preparando para isso? Surgiu a chance de ser assistente, imagina não aceitar porque fui presidente do Botafogo? Não... Eu queria e vim. Está sendo uma vivência rica, fui super bem recebido pela comissão".

Seedorf e Maurício Assumpção, presidente do Botafogo entre 2009 e 2014 - Fernando Soutello/AGIF - Fernando Soutello/AGIF
Imagem: Fernando Soutello/AGIF

Grande contratação de sua gestão, Seedorf foi citado por Assumpção ao falar sobre a promoção de alguns jovens formados na base do Glorioso ao profissional:

"Há anos era aquele papo de que não tinha dinheiro. Passamos a apostar no corpo técnico, nas pessoas do processo, e isso fez diferença. Três anos e meio depois, veio uma safra com Vitinho, Doria, Gilberto, Jadson, Gegê, Sassá, Gabriel, Jean, depois Igor Rabelo, Matheus Fernandes, e mais alguns. Eu tenho de agradecer a um cara que foi fundamental: Seedorf. Tinham outros jogadores experientes elenco principal, como Jefferson, Bolívar, Renato, Marcelo, Andrezinho, mas o Seedorf personificou isso tudo na imagem dele quando a molecada subiu."

A estreia acontecerá no domingo, contra o São Cristóvão, pela Copa Rio do Campeonato Metropolitano, na casa do adversário, "onde nasceu o Fenômeno".

"Estou ansioso. Isso tudo me traz uma expectativa que eu não tinha. Imaginava em sala de aula e estou vivendo agora. Quando tiver de novo aqui atrás, com essa visão macro, já sei o que posso passar. Se vou ser elogiado, xingado... (risos), mas quem está na chuva é para se molhar. Se me xingarem, falarem coisas que não quero ouvir, tenho de ter controle emocional e saber que, naquele momento, quem precisa de mim são os garotos em campo e a comissão", ressalta.

Em 2016, após investigação levantada pela gestão que o sucedeu, encabeçada por Carlos Eduardo Pereira, e parecer de uma Comissão Julgadora, Assumpção acabou excluído do quadro do Botafogo e processado pelo clube. Em 2017, em entrevista ao UOL Esporte, afirmou que as denúncias e acusações beiravam a "inconsequência, o absurdo e a irresponsabilidade" e que eram "fruto de um ódio incontrolável e insano aliados à proximidade das eleições no clube".

"Já fui assistir jogos na base, os funcionários, que me veem, me tratam muito bem. Fui a alguns jogos no Nilton Santos. Vou de camarote porque sei que tem algumas pessoas que não gostam da minha presença, e tem todo o direito. Já passei na rua e torcedor falou: 'você foi um baita presidente, fez um bom trabalho na base, mas pecou porque foi rebaixado'. Beleza. Já passei na rua e torcedor falou: 'você é um fi... d. pu..., escroto',. Beleza, tem o direito de reclamar. Só saio de mim quando o cara fala que sou ladrão. Não sou ladrão e estou provando isso na Justiça. E isso hoje é o que mais me consome. Enquanto eu não conseguir provar na Justiça... Na hora que tudo isso acabar, vou chamar os canalhas e quero ver quem vai aparecer. A torcida sabe de quem estou falando. Alguns continuaram lá [após a saída] e fazendo muita m...".

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