'Jogadores não falam nada que interesse à sociedade', critica Casagrande
Futebol e política caminham de mãos dadas. Em época de Copa do Mundo, tornou-se comum ver autoridades surfarem na popularidade do esporte, ainda mais quando a seleção volta para casa com a taça na bagagem. Em 2022, o país passa por um momento delicado às vésperas de uma eleição. O tema, porém, parece não despertar tanto interesse dos jogadores.
No podcast Futebol sem Fronteiras #55, o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade voltam das férias em grande estilo. Na abertura da segunda temporada, eles receberam um convidado especial: Walter Casagrande Jr., novo integrante do time de colunistas do UOL Esporte.
Casagrande defendeu a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1986, em um período no qual o país havia acabado de sair da ditadura militar e começava seu processo de redemocratização. Hoje, novamente em um ano de Mundial, os brasileiros convivem com o acirramento das tensões políticas, acirramento da polarização entre esquerda e direita e ameaças à democracia. Casão, uma das figuras centrais da Democracia Corintiana, criticou a atual falta de engajamento dos atletas.
"Estamos em agosto e a Copa começa em novembro. Agora, esses caras têm que pensar na Copa. Têm que jogar nos times deles, fazer a preparação, treinar sério, esquecer festinha e ter consciência de sua importância dentro de um grupo de seleção. Cobro muito o posicionamento de jogador de futebol. Como vim da Democracia Corintiana, não entendo como nenhum fala alguma coisa que interesse para a sociedade brasileira", opinou Casagrande.
O colunista do UOL relembrou como foi sua passagem pela seleção brasileira no Mundial do México, em 1986. Naquela época, o ambiente político do país era de uma frágil democracia que tentava se estabelecer após a ditadura militar.
"Na Copa de 86, foram dois caras que estavam desde o começo da Democracia Corintiana e que foram importantes para ela: Sócrates e eu. Chegamos para a preparação desde 85 pensando na Copa do Mundo e que nosso dever havia sido cumprido até a sobrevivência da Democracia Corintiana. Fizemos nosso papel direitinho. Cumprimos com nossa proposta. Quando chegamos à Copa de 86, nosso pensamento era a Copa", disse Casão.
Para Casagrande, passou da hora de o grupo de atletas da seleção manifestar seu posicionamento sobre temas relevantes. "No caso dos jogadores de hoje, eles tiveram três anos e meio para se posicionar sobre qualquer coisa: estupro de jogador de futebol, assédio moral e sexual de presidente da CBF, uma Copa América que não era nossa e a trouxeram no meio de uma pandemia... Eles fizeram um manifesto do qual ninguém se lembra de uma palavra hoje. Só vai ser lembrado por falta de atitude", comentou, referindo-se à carta aberta dos atletas sobre a realização da Copa América no Brasil em um dos momentos mais críticos da pandemia de covid-19.
Camisa 'só' da seleção
Em épocas recentes, a camisa da seleção brasileira foi usada como uma espécie de símbolo nas manifestações contra a corrupção. Esta simbologia causou estranheza a Casagrande. "A camisa da seleção e as cores verde e amarela do Brasil sempre estiveram do lado da democracia. Elas continuam desse lado, mas foram sequestradas por um grupo que se esconde atrás de defender a democracia e a liberdade, mas é falso. Eles sequestram para tentar mostrar à população mais distante que eles defendem o Brasil. Não é coerente esse grupo defender o Brasil e a Amazônia ser destruída, assassinato de indígenas, população passando fome, inflação lá em cima, não comprar vacina", opinou.
Casagrande acredita que esta visão negativa sobre o uso da camisa da seleção brasileira deve mudar em breve. "Virou uma hipocrisia. Pode ter enganado até um certo ponto. Mas hoje a grande maioria das pessoas olha e vê uma hipocrisia gigantesca atrás disso. Eles não defendem o verde e amarelo; eles usam essas cores. É diferente. Mas isso volta e o Brasil vai entrar em outro ritmo, onde a camisa verde e amarela voltará a ser o que era", concluiu.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também o debate sobre as razões de o bolsonarismo ser forte no meio do futebol e a estranha relação entre a CBF e os bastidores do poder. Casagrande, Jamil e Julio ainda discutiram as razões de a seleção brasileira estar há tanto tempo sem ganhar uma Copa do Mundo.
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