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Futebol Sem Fronteiras

O jogo por trás do jogo. Com Jamil Chade e Julio Gomes


OPINIÃO

Casagrande: 'Seleção brasileira pulou etapas, por isso vive jejum na Copa'

Do UOL, em São Paulo

06/08/2022 04h00

Há vinte anos, Cafu exaltava o orgulho de suas origens no Jardim Irene ao erguer o troféu da Copa do Mundo. A icônica cena que marcou a conquista do pentacampeonato do Brasil também simboliza o início de um longo jejum, permeado por erros na preparação, vexames dentro de campo e questionamentos sobre a real força da seleção diante de seus adversários.

No podcast Futebol sem Fronteiras #55, o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade conversaram com Walter Casagrande Jr., novo integrante do time de colunistas do UOL Esporte. O ex-jogador mostrou algumas das falhas que ajudam a entender como o Brasil deixou escapar os últimos Mundiais.

"Perdemos uma etapa de continuação, que foi a Copa de 2006. Aquela seleção tinha Kaká, Adriano, Ronaldinho e Ronaldo. O time era forte e chegou como favorito. E era mesmo: se eles jogassem o que sabiam, o Brasil seria campeão. Naquela Copa, era para o Brasil ter chegado pelo menos à final, pelo time que tinha", opinou Casão.

Para o colunista do UOL, o Mundial da Alemanha foi a primeira ruptura que atrapalhou os planos da seleção para as Copas seguintes. "Por isso falo que pulou etapas. Era praticamente a última Copa da maioria deles ali, como Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. Se eles tivessem colocado na cabeça que seria a última Copa deles e jogassem a vida para ser campeões, o Brasil seria hexa em 2006 e não pularia etapas. Chegaria em 2010 ainda como uma seleção super respeitada, com jogadores com moral e força. Em vez disso, a seleção se desmantelou por ter perdido e porque o comportamento não foi legal. Acharam que houve muita abertura, tanto que chamaram o Dunga para fechar a porta", disse.

Na África do Sul, o estilo 'linha dura' de Dunga e um ambiente mais fechado em torno da seleção também prejudicaram a equipe, na visão de Casagrande. "O Dunga foi chamado para fazer uma reformulação, inclusive de comportamento. Chegamos com uma estrutura e uma ideologia completamente diferentes. Fomos da liberdade para um conservadorismo muito forte. A seleção não foi muito bem preparada. Ele convocou alguns jogadores possivelmente porque não lhe dariam trabalho", comentou.

Casão citou o exemplo de Adriano. Dunga revelou que não chamou o Imperador para o Mundial de 2010 por faltar aos treinos do Flamengo. "Eu faria diferente e o convocaria. Ficaria concentrado com os outros jogadores e não faria nada de errado. O Adriano decidiria qualquer jogo da Copa. Em forma, como centroavante junto com o Luis Fabiano, o Brasil iria mais longe. Poderia ter chegado à final. Só que eles foram retalhando quem se comportasse mal. Mas, naturalmente no futebol, aqueles que se comportam mal são sempre os melhores", destacou Casão.

As seguidas mudanças de estilos de comando na seleção também ajudam a entender os resultados nas Copas seguintes, como ressaltou Casão. "Em 2014, mudou tudo novamente, com Felipão e Parreira, e foi aquele vexame do 7 a 1. Mudou tudo novamente: veio o Dunga novamente e o Brasil estava mal nas eliminatórias. Todo mundo ficou com medo de não se classificar e veio o Tite. A primeira etapa dele foi espetacular. Dava gosto de fazer jogo da seleção, que ganhava jogando bem. Todos estavam confiantes em 2018 e foi um fiasco. Perdemos outra etapa", lamentou.

Para 2022, Casão se mostrou preocupado por Tite não dar sinais de que aproveitará jogadores que estão em boa fase, mas com pouca experiência na seleção. "O Brasil, quando perde título, sempre quebra etapa. O Tite continuou, mas rompeu a estrutura. Ele está dando chance a muitos que estiveram em 2018 e não foram bem, mas tem confiança neles. Em Copa do Mundo, jogador que tem confiança é aquele que decide. Na época de Copa, você precisa convocar pelo menos uns cinco, seis jogadores que estão bem naquele momento. Se você aproveitar o momento de jogadores que estão acima da média, mesmo que não tenham jogado muito na seleção, vale a pena", finalizou.

Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também o debate sobre as razões de o bolsonarismo ser forte no meio do futebol e a estranha relação entre a CBF e os bastidores do poder. Casagrande, Jamil e Julio ainda discutiram as razões de a seleção brasileira estar há tanto tempo sem ganhar uma Copa do Mundo.

Não perca! Acompanhe os episódios do podcast Futebol sem Fronteiras todas as quintas-feiras às 15h no Canal UOL.

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