Acabou o período de vacas magras no Barcelona. Na última temporada, o poderoso clube espanhol passou por uma grave crise financeira e foi obrigado a readequar seus gastos. Um dos maiores exemplos desta nova realidade foi a saída de Lionel Messi, já que o clube catalão precisava se enquadrar às regras de limite salarial da liga espanhola. Para 2022/23, porém, o Barça deu a volta por cima e voltou a fazer investimentos pesados no elenco, com as contratações de nomes como Raphinha, Jules Koundé e Robert Lewandowski.
No podcast Futebol sem Fronteiras #56 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade receberam Eduardo Álvarez, colaborador da BBC e especialista em mercado financeiro, para debater o que está por trás da reconstrução tão rápida do Barcelona - e como ela pode ser uma ilusão.
"A lógica geral é muito simples. O que o Barcelona está fazendo é o tradicional vender o jantar para pagar o almoço. O clube está pegando dinheiro que viria nas próximas décadas. Você não vende o jantar pelo mesmo preço do jantar e leva um desconto. O Barcelona está tomando uma estratégia muito arriscada. Quando entrou, Joan Laporta [presidente do clube] tinha duas opções: ou reconstruía o clube esportiva e financeiramente durante dois ou três anos, com redução de salários e confiança nos meninos da base, ou fazer o que fez. Foi uma opção 'laportiana', já que ele gosta de grandes emoções", explicou Álvarez.
A opção arriscada do Barcelona, como disse Álvarez, vem do acordo feito com o fundo de investimentos Sixth Street. O clube acertou a venda de 25% dos seus direitos televisivos dos próximos 25 anos. O valor total da negociação é de 519 milhões de euros (em torno de R$ 2,7 bilhões na cotação atual). O dinheiro será usado para equilibrar as finanças e na contratação de reforços, com a esperança de compensar esses gastos com um aumento de receitas por êxitos esportivos.
Para quem está disposto a pagar 158 milhões de euros para contratar Robert Lewandowski, Raphinhe e Jules Koundé, sonhar com títulos deveria ser uma consequência natural. A situação, porém, não é tão simples. Os três, além de Franck Kessié e Andreas Christensen, que chegaram sem custos, ainda não foram inscritos na Liga. O Barcelona precisa comprovar à entidade estar com as finanças equilibradas.
Álvarez vê uma conta difícil de ser fechada, com consequências imediatas para o clube catalão. "A liga espanhola colocou os pré-requisitos mais exigentes da Europa para poder registrar jogadores. O Barcelona contratou atletas sem se comportar bem financeiramente e agora precisa ver como registrá-los. A Liga começa em dois dias e, teoricamente, nenhum desses jogadores pode atuar. Kessié e Christensen têm uma cláusula pela qual ficam livres se não forem registrados. O Barcelona ainda está tentando vender outro pedaço do jantar", disse.
Há mais agravantes: jogadores com contratos renovados recentemente ou perto de uma renovação, como os casos de Sergi Roberto, Ousmane Dembélé e Gavi, são considerados como novas inscrições para La Liga. Ou seja: o Barcelona corre contra o tempo para ajustar suas contas, apresentar números melhores e, desta forma, contar com força máxima no campeonato.
Diante deste cenário, Álvarez criticou a estratégia do presidente do Barcelona para reestruturar a equipe. "Na visão de Laporta, o clube só vai se recuperar se tiver o dinheiro no gramado, com jogadores famosos e chamativos e se o time ganhar. Ele partiu para uma estratégia arriscada e começou a contratar antes de vender. Hoje, o Barcelona tem 30 jogadores e é muito importante que saiam alguns. O Braithwaite não pode ficar. Do jeito que estão as coisas, é muito difícil Frenkie de Jong ficar", apontou.
Com o modelo adotado por Laporta, Álvarez colocou em dúvida a saúde financeira do clube para as próximas temporadas. "Hoje, se não mudar nada, a folha salarial do Barcelona é de mais de 600 milhões de euros. Só para comparação, a do Bayern de Munique é de 300 milhões de euros. A do Real Madrid, 400 milhões de euros. Evidentemente, é uma situação que o Laporta precisa resolver. A grande questão é que, com uma folha dessas, o Barcelona não é sustentável", concluiu.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também como a Uefa encara as movimentações financeiras do Barcelona e as consequências de o clube catalão deixar de lado as categorias de base.
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