Renan admitiu bebedeira e tomou 2 litros de água após batida, diz motorista
O depoimento de duas testemunhas deve comprometer a situação do zagueiro Renan, investigado pela morte de um motociclista no interior de São Paulo no mês passado. Depois do acidente, o jogador de 20 anos teve o contrato rescindido por justa causa pelo Palmeiras e pelo Red Bull Bragantino e agora procura novo clube.
A Polícia Civil de Bragança Paulista ouviu dois motoristas que passavam pela rodovia Alkindar Monteiro Junqueira no momento do acidente, por volta das 6h40 do dia 22 de julho, uma sexta-feira. Segundo o relatório desses depoimentos, ao qual o UOL Esporte teve acesso, após atropelar e matar Eliezer Pena, o zagueiro foi visto chorando, admitindo que estava bêbado, vomitando, ingerindo dois litros de água trazidos por uma pessoa não identificada e urinando às margens da rodovia, que liga as cidades de Bragança e Itatiba.
Quando agentes da Polícia Rodoviária chegaram, o jogador se recusou a fazer o teste do bafômetro, por orientação de um advogado. Um exame clínico feito quatro horas depois do acidente atestou que o atleta não estava alcoolizado.
Uma das testemunhas informou à polícia que dirigia um caminhão a 70km/h quando foi ultrapassado pelo Honda Civic de Renan em uma curva com faixa contínua, onde ultrapassagens são proibidas. O caminhoneiro viu o jogador dirigir por cerca de 100 metros na contramão da pista antes de colidir com a moto de Eliezer, que vinha em sentido contrário. O caminhoneiro parou seu veículo, verificou que a vítima ainda respirava e ouviu Renan dizer que estava bêbado e tinha ido a uma festa em Campinas.
Diz o relatório policial: "Em seguida o condutor do veículo [Renan] entrou no carro e ficou deitado no banco de trás, saiu, sentou no chão, começou a chorar e vomitou. Após alguns instantes, chegou ao local uma moça conduzindo um veículo Ford Ka cor branca, placas não anotadas, a qual foi prestar assistência ao condutor do veículo e lhe deu bastante água para beber, cerca de dois litros, que estava armazenado em uma garrafa pet e logo em seguida o condutor do veículo começou a urinar."
A testemunha também afirma que depois chegou ao local do acidente outro homem, que retirou objetos do carro de Renan e os levou embora. Ele não soube dizer que tipo de objetos eram esses.
Um segundo motorista disse ter visto o carro de Renan trafegando pelo acostamento da rodovia minutos antes do acidente. Depois da colisão, essa testemunha perguntou ao zagueiro o que tinha acontecido e ouviu o jogador explicando que havia dormido ao volante. Segundo esse motorista, Renan estava com "os olhos arregalados e vermelhos".
O estado do jogador e as circunstâncias do acidente serão fundamentais para o Ministério Público formular sua denúncia à Justiça. Inicialmente, o caso de Renan foi tipificado como um homicídio culposo, no qual não há intenção de matar e que prevê pena de dois a quatro anos de prisão — a pena poderia aumentar já que ele não estava habilitado a dirigir. Mas, caso a polícia e Ministério Público concluam que ele assumiu o risco de matar, o crime seria qualificado como homicídio doloso, que tem pena maior e é julgado pelo júri popular.
Procurado pela reportagem, o advogado Roberto Podval, que defende o jogador, afirmou que o depoimento das testemunhas "não parece verossímil". "Esse depoimento não condiz com os demais e não parece verossímil", escreveu ele. "De qualquer forma, o Renan está fazendo todo o possível para auxiliar a família da vítima, no mais o processo seguirá seu caminho e Renan pagará por eventuais erros. Até lá também precisa seguir sua vida." Na semana passada, a pedido do promotor Rogério Filócomo, a Justiça autorizou que a fiança de R$ 242 mil que o jogador pagou para deixar a cadeia fosse depositada à viúva de Eliezer Pena. O depósito já foi feito.
Sem clube desde o acidente, Renan, formado na base do Palmeiras e campeão mundial sub-17 com a seleção brasileira, agora tem propostas do exterior, mas seu passaporte continua retido pela Justiça. Reportagem do UOL Esporte publicada no final de julho mostrou que, antes do acidente, o carro do zagueiro acumulou sete multas por excesso de velocidade em sete meses.
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