Como lateral de 1,72m virou goleiro e se transformou em herói do seu time?
O experiente lateral Diego Renan, que defende o CSA, virou o herói de sua equipe na partida contra o Brusque, realizada na terça-feira (9), em Alagoas, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O duelo acabou em 1 a 0 para os mandantes.
O motivo? O jogador de 1,72 m jogou quase dez minutos como goleiro depois da expulsão de Marcelo Carné, titular da posição, na casa dos 44 minutos do 2° tempo — naquela altura, o time alagoano, já com a vitória parcial, havia feito as cinco substituições permitidas.
Apesar da baixa estatura, Diego Renan chamou a responsabilidade e mostrou segurança debaixo das traves. Para delírio dos torcedores presentes no estádio Rei Pelé, o atleta não foi vazado e ajudou a garantir os três pontos do CSA na tabela.
E se engana quem pense que o "lateral-goleiro" de 32 anos não foi exigido: logo no seu primeiro minuto na função, ele defendeu um chute de longa distância de Paulo Baya. Pouco depois, precisou interceptar um cruzamento na área em ataque dos catarinenses.
Mas por qual motivo um atleta de 1,72 m foi colocado no gol pelo interino Adriano Rodrigues, que tinha em campo jogadores mais altos como Wellington Nascimento (1,90 m), Rodrigo Rodrigues (1,89 m) e Werley (1,84 m)? O UOL Esporte conversou com Diego Renan para desvendar o "mistério".
A muralha dos rachões
Revelado no Cruzeiro, o lateral, que atua tanto do lado direito quanto do esquerdo, mostra versatilidade também como arqueiro — e os companheiros de longa data sabem disto.
Além da equipe mineira e do próprio CSA, Diego Renan passou por Criciúma, Vasco, Vitória, Chapecoense, Figueirense, Ponte Preta e Avaí. A ida para o gol nos rachões tornou-se algo frequente com o passar dos anos.
"Em todos os clubes em que a gente tinha rachão e em que eu tinha possibilidade de ir no gol, eu fui", iniciou o jogador, que acabou se aprimorando ao longo do tempo.
"Em 2017, na Chapecoense, fui goleiro algumas vezes. Também atuei bastante no Avaí, no ano passado. Lá, fizemos muitos treinamentos de rachão. Por baixo, em 30 rachões que a gente fez, atuei no gol em todos. Acabo tendo uma noção de espaço e posicionamento. Não é a mesma coisa de um jogo oficial, mas ajuda a dar uma noção", explicou Diego.
"Deixa comigo"
A "experiência" precisou ser utilizada no tenso jogo contra o Brusque. Assim que Leandro Vuaden expulsou Marcelo Carné, após o segundo amarelo, o lateral não teve dúvidas em assumir o lugar do colega — apesar de quase o escolhido ser o atacante Rodrigo Rodrigues, que é cerca de 20 cm mais alto que o lateral.
"[A decisão] Aconteceu na hora. Eu sabia que não existia a possibilidade de o Jean [Carlos, goleiro reserva] entrar porque já tínhamos feito as cinco substituições. Na hora em que ele [Carné] tomou o cartão, já falei para o Gabriel [meio-campista]: 'no rachão, eu vou direto, tenho uma noção'. Depois, fiquei sabendo que eles estavam querendo colocar o Rodrigo, mas ele estava com uma dor no ombro. Falei: 'eu vou, deixa comigo'".
Foi assim, sem tempo para receber grande orientações do banco de reservas, que Diego deixou a lateral e assumiu a meta do CSA. "[Não falaram] Nada. Só coloquei a luva do Carné e fui para o gol. A primeira bola foi uma falta que o adversário bateu direto quase do meio de campo. Me deu confiança, porque segurei firme. Aí falei: 'está tranquilo'. Deu certo", brincou ele, que precisou mostrar serviço em outras duas oportunidades até o apito final.
Torcedores -- e familiares -- vão ao delírio
A cada vez que pegava na bola, o lateral era ovacionado pelos mais de 6 mil torcedores que marcaram presença no estádio de Maceió.
Um deles, aliás, parecia saber de antemão que o jogador se tornaria goleiro em alguma oportunidade: Lucas, filho de quatro anos de Diego Renan.
Com luvas nas mãos, o pequeno vibrou ao ver o pai atuando no improviso debaixo das traves e, mesmo sem entender direito o que estava acontecendo, virou uma espécie de amuleto para a boa atuação.
"Meu filho tem uma história com luvas desde sempre. Ele nasceu em Chapecó, então, viveu em uma época fria. Em 2018, a gente foi para Florianópolis e também pegamos frio. Desde pequeno, ele acostumou a usar luvas", iniciou Diego ao falar sobre o pequeno.
"Em 2020, quando joguei pela primeira vez no CSA, chegamos em Maceió. Um calo, e ele de luva! Queria ir de luva até para a escola. Até no jogo de terça: ele foi para o estádio com minha esposa e meu pai com uma luva. Acabou que aconteceu essa situação e depois expliquei para ele. Ele fica nessa: 'vou ser goleiro, atacante'. Ele gosta de uma luva. Eu deixo ele à vontade."
Lateral, goleiro e quase administrador
Diego Renan foi descoberto aos 13 anos por um empresário português que, inicialmente, viajou até Surubim, interior de Pernambuco, para analisar outros dois garotos um pouco mais velhos em uma peneira local.
"Ele gostou do meu futebol naquele dia e, no mesmo dia, já falou com meus pais. Pouco tempo depois, me levou para Belo Horizonte para fazer teste no Cruzeiro", relembrou ele, que ressaltou o apoio dos pais, na entrevista.
Destro de origem, o atleta passou a atuar como meio-campista no sub-15 da equipe mineira. Até que, em uma necessidade semelhante ao ocorrido contra o Brusque, Diego foi deslocado para a lateral-esquerda.
"O treinador estava sem lateral em algum jogo e pediu pra eu fazer a lateral-esquerda. Eu já tinha um pouco de facilidade com a perna esquerda também. Depois disso, fui me aprimorando. Às vezes, na mesma partida, jogava nas duas laterais e depois ia pro meio de campo. Subi para o profissional na lateral-esquerda."
Em meio às trocas de posição e aos estudos obrigatórios na Toca da Raposa, o versátil atleta quase se aventurou em outra função: a de estudante de administração. "Lá tem uma escola própria. Aí, terminei o ensino médio e pensei: 'vou fazer o vestibular para ver se passo'. Fiz para administração, passei e até tentei me matricular, mas na época era inviável conciliar treinamento na base e faculdade", falou.
Futuro no gol?
Dono de uma carreira consolidada nas duas laterais, Diego Renan pretende atuar novamente como goleiro?
Apesar da "experiência muito positiva", a ideia é ajudar o CSA como jogador de linha. "Por ter ido sempre no rachão, pensava: 'será que vai acontecer um dia de precisar ir no jogo?'. E aconteceu", iniciou.
"Para mim, foi muito bom pelo fato de ter ajudado de alguma forma a equipe, por não termos tomado gol e por ter tido essa experiência de saber como é isso em um jogo profissional. Mas espero que tenha sido a última vez", brincou ele.
Voltando à sua função normal, Diego Renan deve ser titular do CSA na partida contra o Sport, hoje (13), em Pernambuco. O time alagoano tem 24 pontos e abre a zona de rebaixamento, na 17ª posição na tabela
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