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Brasileirão - 2022

Celebrado no Fla, Dorival viveu Palmeiras de maré baixa no banco e no campo

Dorival Junior lamenta momento complicado do Palmeiras - Friedemann Vogel/Getty Images
Dorival Junior lamenta momento complicado do Palmeiras Imagem: Friedemann Vogel/Getty Images

Diego Iwata Lima

Do UOL, em São Paulo

19/08/2022 04h00

Dorival Júnior está sendo no Flamengo algo que, por muito tempo, uma boa parte da torcida verde acreditou que ele seria no Palmeiras. Renato Gaúcho até desfrutou de prestígio semelhante ao que Dorival experimenta hoje na Gávea. Mas desde Jorge Jesus, nenhum outro técnico teve sua capacidade de fazer o time jogar bem tão elogiada pelos rubro-negros.

No Palmeiras, em compensação, clube em que tem ligações familiares, Dorival teve pouco tempo de trabalho como treinador, comandou um elenco mal construído que lutou contra o rebaixamento, no fim de 2014, e foi demitido mesmo diante da promessa de continuidade e contrato para o ano seguinte.

A sorte como técnico não foi muito diferente da que ele teve como jogador do Palmeiras, no fim dos anos 1980, começo dos 90.

No clube Alviverde, Dorival sempre esteve na hora errada. Já no Flamengo, parece ter chegado para ser o motor de uma reação que vai levar o time de novo para grandes resultados. A começar por domingo (21), quando os rivais interestaduais se encontram no Allianz Parque, pelo Campeonato Brasileiro.

Estádio de cuja triste inauguração, Dorival foi personagem importante.

Ligações de sangue

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Dorival (ao centro) disputa lance com Raí em clássico entre Palmeiras e São Paulo
Imagem: César Itiberê/Folhapress

Dorival é sobrinho de ninguém menos que Dudu, o lendário parceiro de meio-campo Ademir da Guia no 4-2-4, da Segunda Academia (anos 1970). Mais tarde, Dudu se tornaria técnico do Palmeiras e conquistaria o Paulista de 1976, último título antes do início da fila de 17 anos.

Em 1989, o volante Júnior, como Dorival era conhecido quando jogava, chegou ao Verdão. Júnior era um volante de mais força do que técnica. Mas, em dado momento, encontrou seu melhor futebol no clube, em 1991, e chegou a ser ventilado na seleção brasileira.

Titular ao lado de César Sampaio de um Palmeiras que cresceu na competição e começou a sonhar com o título estadual daquele ano, ele teve sua evolução no clube brecada por fraturas de tíbia e perônio, após dividida com o camisa 10 do São Paulo, Raí. Para piorar, com o 0 a 0 de tal jogo, na fase semifinal do Paulista, o Palmeiras foi eliminado.

Quando Dorival voltou a jogar, em setembro do ano seguinte, o Palmeiras havia mudado bastante. Nem o uniforme era o mesmo. A camisa do Verdão não justificava o apelido no aumentativo: passara a ser listrada em branco e verde-claro e a estampar o logo da Parmalat, em azul, pouco abaixo do peito.

Júnior teve mais três meses de Palmeiras. Seu último jogo pelo clube foi em dezembro. Despediu-se com um gol na derrota por 2 a 1, diante do Internacional, que eliminou o time na semifinal da Copa do Brasil, no Beira-Rio. E assim, tendo saído do clube em dezembro de 1992, não participou do fim da fila, no ano seguinte, na conquista do Paulistão.

Para não dizer que Dorival não aproveitou nada da rra Parmalat, em 1994, ele foi titular na conquista do Campeonato Brasileiro - só que da Série B, pelo Juventude, o outro time patrocinado pela multinacional.

Promessas quebradas e coração partido

d - Lucas Uebel/Getty Images - Lucas Uebel/Getty Images
Dorival Júnior orienta o Palmeiras à beira do gramado do Beira-Rio
Imagem: Lucas Uebel/Getty Images

Dorival Júnior, enfim, assumiria o Palmeiras em setembro de 2014, com contrato até julho do ano seguinte. Houve quem dissesse que o técnico chegou com cinco meses de atraso, e que a situação não seria tão ruim se ele, e não o argentino Ricardo Gareca, tivesse comandado o clube após a demissão de Gilson Kleina. Júnior veio tentar evitar o rebaixamento do Alviverde.

No trato pessoal, Dorival conquistou a todos rapidamente. Cordial e tranquilo na sua fala, tinha como contraponto o filho e auxiliar Lucas Silvestre, mais enérgico e impaciente que o pai. Quem trabalhava no clube na época diz que era quase como se eles fizessem uma dobradinha "Policial mau, policial bonzinho".

Se por um lado chegava com uma corda, quem nem sua era, no pescoço, Dorival também ia ter uma honra que o colocaria na história. Coube a ele ser o primeiro técnico do Palmeiras no recém-inaugurado Allianz Parque. O problema é que foi com uma derrota por 2 a 0 para o Sport.

A derrota na partida histórica, na penúltima rodada do Brasileiro, foi a nona e última dele pelo Verdão, em 20 jogos.

Sua passagem pelo clube foi triste e teve no pacote, inclusive, a derrota por 6 a 0 para o Goiás, num daqueles episódios que o palmeirense, bem humoradamente, chama de "palmeirada" há algum tempo: a tradicional derrota anual, humilhante e normalmente de goleada para um time de menor expressão.

Mas Dorival conseguiu conquistar 23 pontos com o Palmeiras que acabaram sendo suficientes para que o time não fosse rebaixado à Série B pela terceira vez. Para tanto, apostou alto no único jogador fora de série daquele grupo, o chileno Valdivia, seu capitão.

Após o empate em 1 a 1 com os reservas do Athletico-PR, na última rodada, Dorival levou o camisa 10 com ele para a entrevista coletiva. Lá, revelaram que Valdivia só entrara em campo porque o jogo era decisivo.

E Júnior, de peito inflado, discursou que o Palmeiras precisava voltar para a era das conquistas e que acreditava nisso, com base no discurso do presidente Paulo Nobre no vestiário, havia pouco. Afirmou ainda que queria voltar no ano seguinte e que queria contar com o chileno.

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Dorival Júnior, técnico do Flamengo, durante partida contra o Corinthians
Imagem: Jorge Rodrigues/AGIF

Valdivia voltaria para 2015, mas Dorival Júnior, não.

"Não me sinto fora do Palmeiras de maneira nenhuma. Gostaria de iniciar um novo trabalho com o Palmeiras", foi o que disse o técnico, dispensado dias depois. Mais uma vez, como na Era Parmalat, quando ainda jogava, Dorival deixava o Palmeiras às vésperas de um grande momento.

No ano seguinte, o Palmeiras passou a investir forte no futebol. Alexandre Mattos foi contratado, a Crefisa chegou para patrocinar o time e Oswaldo Oliveira foi contratado para ser o técnico.

Ali, iniciava-se um ciclo vitorioso na história verde que ainda perdura. E que Dorival espera ajudar a interromper, tanto no Campeonato Brasileiro, a partir do domingo, quanto na Copa Libertadores, onde os times podem voltar a se encontrar, se passarem pelas semifinais, na decisão de 29 de outubro, em Guayaquil, no Equador.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado, Dudu não era o técnico do Palmeiras em 1989. A informação foi retirada do texto.