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Brasileirão - 2022

Foco do Fla na Copa do Brasil vem a calhar para o Palmeiras no Brasileirão

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, com Dorival Júnior, técnico do Flamengo, ao fundo - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, com Dorival Júnior, técnico do Flamengo, ao fundo Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Do UOL, no Rio de Janeiro

22/08/2022 04h00

Dorival tem um plano. Para o Flamengo, a Copa do Brasil e a Libertadores são prioridades na comparação com o Brasileirão. Esse é um contexto bem conveniente para o Palmeiras, que explica o enredo do confronto direto que os dois times tiveram ontem (21), no Allianz Parque. O jogo terminou empatado, a exemplo do que ocorreu no primeiro turno. Equilíbrio? Sim. Mas ao se medir com o líder sem usar a força máxima, Dorival propiciou a Abel Ferreira um cenário relativamente mais favorável para a manutenção da distância de nove pontos em relação ao rubro-negro.

O recorte específico da 23ª rodada tem o Fluminense de volta à segunda colocação do Brasileirão — com a goleada por 5 a 2 sobre o Coritiba, oito pontos atrás do próprio Palmeiras. Mas em um jogo tratado com decisivo para as pretensões de título palmeirense, considerando o poderio do elenco do Flamengo, a obstrução ao time de Dorival pode ser tratada como uma vitória estratégica.

Palmeiras e Flamengo vinham com campanhas similares no Brasileirão. Ambos estavam com seis vitórias consecutivas no campeonato, o que manteve intacta a diferença de nove pontos. A diferença de tratamento da competição, no entanto, é distinta.

Desde que encontrou o time ideal, em 6 de julho, na goleada por 7 a 1 sobre o Tolima, pela Libertadores, o Flamengo de Dorival intercalou a titularidade da escalação considerada mais forte — que do meio para frente tem Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Pedro.

Focada nos compromissos pela própria Libertadores e pela Copa do Brasil, a "tropa de elite" do Fla só foi usada desde o início em um dos oito jogos pelo Brasileirão (a vitória por 4 a 0 sobre o Juventude). Nas demais sete partidas, a aposta foi iniciar com uma formação "alternativa", a exemplo do que ocorreu diante do Palmeiras.

As variações entre integrantes da escalação inicial nos jogos do Fla têm sido motivadas, em geral, por suspensões — como a de Thiago Maia, que ficou fora do jogo contra o Athletico pela Copa do Brasil e foi titular ontem.

Olhando para a formação inicial mais usada no Brasileirão por Dorival desde o marcante 6 de julho (os reservas, no caso), o único tropeço havia sido a derrota para o Corinthians, gol contra do titular Rodinei. No mais, vitórias consistentes, por mais que não haja dúvida sobre a diferença que faz recorrer aos craques do time, especialmente ofensivamente. Ao longo do período, a "tropa de elite" empilhou vitórias nas Copas, à exceção do jogo de ida das quartas da Copa do Brasil (0 a 0 diante do Athletico).

O ponto é que o Fla alternativo fora acionado anteriormente diante de times da parte de baixo/média da tabela (Coritiba, Avaí, Atlético-GO e São Paulo) ou contra outros "mistões", como foi o caso do Athletico nos 5 a 0 do Maracanã. Encarar o líder completo seria desafio sem paralelos. Era um atalho para reduzir a diferença para seis pontos. Mas o caminho para alcançar o Palmeiras será mesmo o mais longo.

Dorival apresentou seus argumentos. Citou que o time titular vem de um jogo desgastante no gramado sintético da Arena da Baixada e, de novo, estaria exposto a um terreno pouco convencional. O técnico argumentou que não queria correr o risco de perder jogadores para o confronto de quarta-feira, contra o São Paulo, pelas semifinais da Copa do Brasil. Sem cerimônia, Dorival mostrou qual jogo realmente importa no momento.

Quando trabalhamos no Athletico, não podíamos fazer dois trabalhos seguidos no campo sintético quando tínhamos jogos. Os jogadores (do Flamengo) não são acostumados. Não sabia que reação teríamos na segunda-feira. A maior preocupação foi isso. Segundo, confio no time que botei em campo. Não sofremos no primeiro tempo. Foi um jogo equilibrado. As duas equipes poderiam ter buscado o resultado".
Dorival Júnior, técnico do Flamengo

De fato, Dorival não começou essa disputa com o Palmeiras em igualdade de condições. Ele herdou um time cambaleante, após o trabalho ruim de Paulo Sousa. Depois de assumir, Dorival ainda perdeu dois jogos enquanto estava em busca de uma formação ideal.

Em contraste, Abel Ferreira está em um trabalho de três temporadas, já sabe de cor como fazer seu time render ao máximo e ainda tem menos jogos na agenda. Com a escalação titular completa (Weverton, Marcos Rocha, Gómez, Murilo e Piquerez; Danilo, Zé Rafael, Veiga, Scarpa, Dudu e Rony), o Palmeiras ainda não perdeu em 2022. E não foi o jogo contra o Flamengo que mudou essa premissa.

Um ponto para cada um, mas se fôssemos ver as estatísticas, deveríamos nós sermos os vencedores".
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras

Efeito do calendário

Considerando o planejamento de Fla e Palmeiras, as peculiaridades do calendário brasileiro — para não dizer bizarrices — permitem que haja um lado bom de ser eliminado de um torneio tão relevante quanto a Copa do Brasil. E o Palmeiras tem provado esse gosto, a partir da derrota nos pênaltis nas oitavas de final diante do São Paulo — embora siga vivo na Libertadores.

A sequência atual para o Palmeiras no Brasileirão foi tratada como crucial para os planos de título. Os adversários na sequência são Corinthians, Flamengo e, no próximo sábado, o Fluminense - o trio que completa o atual G4. Dois jogos já se passaram, o Palmeiras não perdeu e ainda enfrentou adversários que, em alguma medida, pouparam times ou foram afetados por causa dos jogos de meio de semana da Copa do Brasil.

O Corinthians vinha de um embate com o próprio Fla — poupando jogadores, também perdeu na rodada para o embalado Fortaleza, inclusive. O rubro-negro ontem estava pensando no São Paulo. E o Fluminense — com elenco menos recheado que os demais concorrentes — virá de um jogo contra o próprio Corinthians, na quarta-feira. Enquanto isso, o Palmeiras vai "negociando" a diferença na liderança.

O clima permite até que o técnico evite embates com companheiros de profissão brasileiros. Nas últimas semanas, ele levou alfinetadas de Cuca (Atlético-MG), Mano Menezes (Inter) e Jorginho (Atlético-GO). Frases em coletivas e comportamento do português em campo foram algumas das justificativas.

Dentro do campo não quero fazer amigos, mas fora dele podem ter certeza que sou um cara legal. Posso dizer que um dos meus fundos de computador são cultura humanistas. Quando estou jogando, quero vencer. No jogo e na competição, não quero saber quem está do outro lado. Não estou para fazer amigos, quero ganhar".
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras

O que mais chamou atenção na rodada

O Fortaleza de Juan Pablo Vojvoda segue em franca ascensão. Na classificação simbólica do returno do Brasileirão, o time cearense é o líder: quatro vitórias em quatro jogos. A mais recente foi contra o Corinthians, por 1 a 0.

O desempenho fez com que o Fortaleza abrisse quatro pontos de vantagem em relação à zona de rebaixamento, que foi um tormento durante a primeira metade do campeonato. O Fortaleza já empatou em pontos com o Botafogo (que vem de um 2 a 2 com o lanterna Juventude) e está dois atrás do São Paulo.

O golaço de Henrique Almeida para o América-MG lembrou muito o que Pedro fez pelo Flamengo, na quarta-feira, diante do mesmo adversário e no mesmo local: o gol à esquerda das cabines de TV da Arena da Baixada, contra o Athletico. Uma pintura. O time mineiro arrancou um empate fora de casa: 1 a 1.

Mas o Atlético que decepcionou mesmo na rodada foi o Mineiro. O Galo de Cuca perdeu em casa para o Goiás e ainda está fora do G6. A distância atual é de um ponto, mas pode aumentar, dependendo do que o Inter fizer diante do Avaí, na partida que fecha a 23ª rodada, hoje às 20h.