Lisca sincerão revela 'migué' de Soteldo e bronca do ex-capitão João Paulo
O apelido de "Doido" para Lisca não é por acaso. O técnico do Santos até tenta se desvincular do rótulo, mas dia após dia mostra uma irreverência que só reforça o "sobrenome" que ganhou no meio do futebol —até aqui, em Santos, o salto é positivo. Após a vitória do Santos por 1 a 0 sobre o São Paulo ontem (21), Lisca deu mais uma entrevista no modo "sincerão".
Enquanto a maioria dos técnicos evita se expor e expor seus atletas, ele emenda rapidamente um raciocínio no outro e comenta de tudo, sem muito cuidado. Foi assim que Lisca elogiou Soteldo, sem se esquecer da preocupação durante a semana livre para treinamentos. O técnico cobrou o camisa 10 para ajudar mais na marcação e fez uma revelação: o venezuelano disse que não se esforça tanto nos treinos, mas, pode deixar, professor, no jogo as coisas sairiam.
"Cobrei o Soteldo nos treinos e ele falou que não faz muito nos treinos, mas que no jogo faz. E ele fez e sustentou o Felipe Jonatan. Ele dispensa comentários, é uma referência técnica. Quantas bolas ele perdeu?", disse Lisca.
Capitão incomodado
Lisca surpreendeu ao tirar a faixa de capitão do goleiro João Paulo para dar ao zagueiro Maicon. O técnico justificou que precisa "fomentar lideranças" no elenco e admitiu: João não gostou.
"O João Paulo é muito competitivo, sai reclamando forte e toma cartão como foi em Curitiba. Foi uma questão estratégica, Maicon é co-capitão junto com Sánchez e Marcos Leonardo. Soteldo é líder técnico, Rodrigo Fernández é lider de raça. Vamos fazer uma mexida para fomentar lideranças. Vamos dividir responsabilidades. João não ficou muito feliz, eu sei, mas dei uma mexida com ele. Fez um grande jogo. Quando precisou, ele mostrou o grande goleiro que é", explicou.
O UOL Esporte apurou que o goleiro não criou caso, mas foi surpreendido e não entendeu bem os motivos.
"Ideia foi rodar os capitães, preservar o João Paulo. Mesmo assim, ele foi reclamar hoje e não levou o cartão, talvez por não estar com a braçadeira", emendou.
Cobrança à promessa
Lisca voltou a cobrar mais "inteligência tática" a Ângelo. O técnico entende que o atacante de 17 anos não ajuda na marcação como poderia e, por isso, o mantém entre os reservas. Entre elogios, Lisca fez as críticas construtivas que gostaria e aproveitou para já explicar suas escolhas à torcida.
"Ângelo é sensacional e magnífico com a bola, mas precisa ter compreensão tática. Eu precisava que ele descesse mais para ajudar o Madson com Reinaldo e Patrick. Não permitimos muitas coisas para eles dentro da área, não espaçamos a linha de defesa. Muito pelo que Soteldo e Lucas Braga fez, mas Ângelo fica mais com os zagueiros. Falta um pouco de cultura de jogo, queimou algumas etapas. Mal jogou no sub-20. Ele tem que aprender jogando e vai aprender. Não descarto começar jogo com ele, depende do adversário", explanou.
Ele vinha sendo muito criticado por vocês e pela torcida, muitos duvidando que vai ser um grande jogador. Ele é sim, jogador convocado pela seleção sub-20 agora. O mundo inteiro olha esse menino e ele vai dar muitos frutos dentro de campo e financeiramente também. Só 11 jogam. E eu sou o chato de escalar, barrar, travar e encaixar características. É um grande jogador, grande menino e estou muito satisfeito com a postura dele. Temos uma relação muito legal e em pouco tempo vai ser titular no Santos ou no Barcelona, Internazionale, Juventus... Vamos vê-lo jogando Champions League, pode ter certeza", concluiu.
Mea-culpa
Lisca refletiu durante a entrevista coletiva e disse que poderia ter substituído antes no Santos. Nos minutos finais, quando o Peixe sofria diante do São Paulo, o técnico colocou Luiz Felipe como terceiro zagueiro. Lisca entende que a mexida poderia ter ajudado o Santos com antecedência, mas entende que a torcida não iria gostar.
"Luiz Felipe é muito assertivo. Poderia ter feito antes isso. E aí Ângelo e Soteldo não precisariam descer tanto e bater ala com ala. Fica essa lição para mim. Aqui no Santos, tirar atacante para colocar três zagueiros não é fácil, também. Mas a torcida do Santos vai me entendendo aos poucos".
Imprensa também é alvo
Em dois momentos da entrevista, Lisca cornetou os jornalistas. Num primeiro momento, ele foi perguntado sobre a "importância da vitória". Na sequência, reclamou de sensacionalismo.
Se eu não ganho, vocês iam querer me derrubar. Se perde duas aqui, já fica aqui na corda bamba".
"Nosso meio é assim, você já me perguntou se a vitória foi boa para mim. Não esquento mais com isso. Procuro fazer meu melhor e o trabalho é um livro aberto", falou, no começo.
"Faço questão de cumprimentar a torcida, principalmente quando vencemos. Numa peça de teatro, todos cumprimentam o público. Show de rock também. E estamos aqui dando espetáculo, futebol é entretenimento. Vocês transformam em confusão, mas para mim é entretenimento", disse, na parte final.
Elogios ao chefe
Lisca fez questão de, mais uma vez, rasgar seda para Andres Rueda. O técnico disse que nunca teve uma relação tão próxima com um presidente. O mandatário santista tem um escritório no CT Rei Pelé, onde vai quase que diariamente. Os elogios a Rueda ocorrem dias depois da demissão do executivo de futebol Newton Drummond, seu amigo e entusiasta da sua contratação.
"Pessoal acompanha meu trabalho, o presidente Andres Rueda está próximo e agradeço pela confiança. Ele quis me trazer três vezes e estou satisfeito com esse apoio. O presidente montou escritório no CT e não sai de lá. Converso diariamente com ele, talvez seja a primeira vez. Sempre tive boas relações com presidentes, mas próximo assim, conversando diariamente, acho que é a primeira vez", comentou Lisca, ao ser perguntado sobre Rogério Ceni.
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