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Como Telê, Muricy e Autuori influenciaram Ceni no comando do São Paulo

Rógerio Ceni comanda o São Paulo em partida do Brasileirão contra o Athletico - Marcello Zambrana/AGIF
Rógerio Ceni comanda o São Paulo em partida do Brasileirão contra o Athletico Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Thiago Braga

Do UOL, em São Paulo

24/08/2022 04h00

"É difícil alcançar a perfeição, mas não é difícil aproximar-se dela". A frase dita por Telê Santana quando comandou o São Paulo nos anos 1990 é um mantra para boa parte dos torcedores tricolores. Foi com essa frase na cabeça que o elenco campeão do mundo em 1992 e 1993 cresceu e pôde conquistar os títulos mais importantes da história do clube. E o aprendizado que teve com Telê à época ajudou a moldar o técnico Rogério Ceni.

Outros treinadores ofereceram a Ceni visões diferentes e novos pontos de vista, aumentando a capacidade de ele se aprimorar como treinador. Mas Ceni e Telê compartilham alguns pontos em comum e que são inegociáveis para ambos. Ainda quando era um jovem das categorias de base, que passou a fazer parte do elenco profissional com mais frequência em 1993, Ceni e Telê desenvolveram relação de amizade e carinho, mas de cobrança.

O Rogério tem as características do profissional vencedor, de cobrar muito, de sempre querer vencer. Todos nós que jogamos com o Telê, e o Rogério não é diferente, têm como uma tatuagem a necessidade de ganhar títulos e jogar bem. O vencedor nunca vai mudar. A semente que o Telê plantou, ficou em todos nós. O Rogério vai querer vencer onde for, ainda mais no São Paulo"
PINTADO, COMPANHEIRO DE ROGÉRIO CENI NO SÃO PAULO

Volante da equipe de Telê no São Paulo, ele conviveu com Ceni nos tempos de jogador e voltou a acompanhar o dia a dia do São Paulo em 2017, na primeira passagem de Rogério como técnico do Tricolor.

Lateral esquerdo do São Paulo multicampeão entre 1991 e 1994, Ronaldo Luís corrobora a opinião de Pintado sobre a principal herança deixada por Telê.

"A gente vê que o Rogério gosta das coisas com muita excelência e o Telê também era assim. O que Rogério fez em Fortaleza demonstra exatamente o que eu estou falando. Então tem essa questão da busca pela perfeição, busca pela melhoria a cada dia. No Fortaleza, no Flamengo, embora não tenha tido um grande reconhecimento, mas saiu campeão brasileiro. Já conquistou um Campeonato Brasileiro e está aí com o São Paulo na semifinal da Copa do Brasil e também na semifinal da Sul-Americana. Acredito muito que o Rogério possa se destacar mais e mais", elogiou Ronaldo Luís.

Telê é o mestre, e Osório é professor

Depois de sair do São Paulo em 2017, Rogério não demorou muito para ser contratado por outro time. Desembarcou na capital do Ceará e ajudou a revolucionar o Fortaleza.

"O treinador que mais o influenciou foi o Osório. A maneira de pensar o jogo diferente, ofensivo. Ele tem um agradecimento muito grande ao Telê e ao Muricy, com quem foi tricampeão brasileiro, lógico. Também gosta muito do Autuori, eles foram campeões mundiais. Mas ele tem uma admiração grande pelo Osório, pela criatividade, pela forma de ver o futebol", revelou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

O colombiano Juan Carlos Osório teve passagem curta pelo São Paulo em 2015, mas despertou em Ceni a curiosidade por seguir evoluindo para ser treinador. Quando Osório treinava a seleção do México, Ceni chegou a passar uma semana fazendo estágio com a seleção mexicana, para aprender com ele.

Rogério está na história do Fortaleza pelos quatro títulos conquistados no comando do Leão - uma Série B do Brasileiro, dois Cearenses e uma Copa do Nordeste. Mas seu legado extrapola o campo, como explica Paz.

"Ele foi importantíssimo. E eu sempre faço questão de agradecer. O Rogério teve a preocupação estrutural de melhorar tudo no Fortaleza. Ajudou a melhorar o campo, a fisiologia do clube, a alimentação dos jogadores. Sempre com os melhores profissionais. Sempre tentamos dar tudo a ele, na medida do possível. Mas eu ouvi bastante e aprendi muito com o Rogério, que por sua história foi campeão. Eu sempre aprendi com ele, que é mais conhecedor de futebol que eu", contou o mandatário do tricolor cearense.

Entre Fortaleza e o São Paulo, Rogério ainda teve tempo para passar por Cruzeiro e Flamengo. No Rio de Janeiro, conquistou o Brasileiro da Série A. Coincidentemente, no Morumbi, mas não contra o São Paulo, o Flamengo levantou a taça do Brasileirão.

"Foi um excelente trabalho. Levou suas ideias com propriedade aos jogadores, colocava na prática no dia a dia e os bons resultados foram alcançados. Teve uma influência muito positiva ao levar sua experiência como ex-atleta vitorioso que foi. E os jogadores ouviam tudo com muita atenção, principalmente os goleiros. Não é por acaso que hoje ele está entre os melhores treinadores do país", recorda Wagner Miranda, então preparador de goleiros do Flamengo e que trabalhou no clube carioca com Ceni.

Com Muricy, equilíbrio e pragmatismo

Ao mesmo tempo que tinha Telê como mestre, Ceni passou a ter como mentor Muricy Ramalho. Ainda nos anos 90, os dois fizeram parte de uma equipe que ficou na memória da torcida. O "Expressinho" foi a saída encontrada por Telê para que o São Paulo pudesse dar conta de todos os compromissos que o time tinha na ocasião. O número de jogos era superior a 90 por temporada, fazendo com que Telê tivesse de escalar times mistos em muitas oportunidades. Consequência dos títulos que se avolumavam no Morumbi.

Em 1994, Telê resolveu que o "Expressinho", comandado por Muricy, e com Rogério no gol, disputaria a Copa Conmebol. O time contava ainda com jogadores como os atacantes Caio e Denílson, foi campeão do torneio, com direito a um 6 a 1 sobre o Peñarol-URU na final.

Muricy e Ceni se reencontraram em 2006. O técnico chegou para fazer história novamente tendo Rogério como seu goleiro. O pragmatismo e a segurança defensiva de Muricy levaram o São Paulo ao tricampeonato brasileiro entre 2006 e 2008.

Desde a exigência dos tempos em que jogava tênis com Telê Santana no CT, em 93/94, passando por Muricy Ramalho, que o treinou na conquista da Conmebol em 94. De Muricy, herdou o pragmatismo e o uso dos 3 zagueiros para dar mais segurança defensiva.

"O ponto de equilíbrio é o Muricy. Ele deve segurar toda a intensidade, toda a vontade de vencer que o Rogério tem. O São Paulo ainda está atrás de outros times. Mas o Rogério tem competência para reestruturar, com apoio, com trabalho sério, que já vem acontecendo no clube. Ninguém conhece o São Paulo melhor que o Rogério", analisou Pintado.

Com Autuori, os títulos que faltavam

Depois do sucesso com Telê, quando o São Paulo conquistou um Brasileiro, duas Libertadores e dois Mundiais, além de outras competições continentais como Supercopa e Recopa, o clube amargou um período sem títulos.

Grande desejo dos torcedores, a Libertadores passou a ser um sonho distante. O Tricolor ficou dez anos sem conseguir a classificação para o torneio. Em 2005, depois de ser semifinalista no ano anterior, o time tinha outra oportunidade na Libertadores. E a chegada de Paulo Autuori foi determinante para que o São Paulo engrenasse. Com uma fase de mata-mata perfeita, foi campeão e colocou Ceni de vez na história do clube. No fim do ano, o Mundial coroaria toda a história.

E agora?

Em uma temporada em que o São Paulo se mostra competitivo nas Copas, mas sem o mesmo desempenho no Brasileirão, a trajetória mostra que Rogério tem resiliência para suportar a pressão, e também para reconduzir o time a títulos.

Ceni espera conduzir o Tricolor a pelo menos uma conquista em 2022, cumprindo o planejamento de recolocar o clube na Libertadores. "É difícil prever se ele vai conseguir conquistar os mesmos títulos. Cada momento tem a sua especificidade. O São Paulo tinha um protagonismo, era um dos mais fortes. Agora temos outros protagonistas. Mas o Rogério é um vencedor. Ele vai trabalhar para ganhar e poder repetir aqueles títulos. O que move o Rogério é ganhar", finalizou o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado no texto, Rogério Ceni não está invicto em mata-mata em 2022. A informação foi retirada do texto.

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