Walter revela peso, diz que forma o tirou da seleção e planeja ser técnico
Walter não é mais o jovem que tropeçava nas palavras do início de sua carreira pelo Inter. Ou mesmo um estereótipo de atleta que foge de assuntos mais duros sobre a carreira. Aos 33 anos, o atacante trata sobre a dificuldade de entrar em forma com naturalidade, revela seu peso sem titubear, avalia sua trajetória e garante: não fosse o problema para entrar em forma, poderia ter jogado pela seleção brasileira principal. Perto de pendurar as chuteiras, ele planeja virar treinador e definiu o prazo para isso.
Hoje atleta do Goiânia, que disputa a Segunda Divisão de Goiás, Walter encara seu momento como um recomeço. O mais importante de tudo é que ele se diz feliz. Em entrevista ao UOL Esporte, fez questão de dizer que o momento de maturidade é o melhor de sua trajetória, que teve início no Inter, passou pelo Porto, de Portugal, experimentou o ápice no Goiás, no Fluminense, no Athletico-PR, mas que foi brecada em 2019 devido à suspensão por doping. Desde então, empilha muitos clubes e pouca frequência em campo.
"Eu saí do Amazonas [clube] para fazer um tratamento no joelho. Eu estava triste por tudo que aconteceu. Minha vida pessoal não estava legal. Fiquei cinco meses sem jogar, parado. Eu falava com o presidente do Goiânia, que é meu amigo, ele dizia para eu vir jogar aqui. Eu falava que era difícil. Pensei bem e perguntei se ele abriria as portas para minha recuperação. Depois de um mês treinando, acertamos de eu jogar no clube, recuperar bem a parte física para voltar ao mercado no ano que vem", disse Walter, em entrevista ao UOL Esporte.
"Em casa, parado, a cabeça não fica boa para voltar a jogar. Tinha dúvida se voltaria a jogar neste ano, mas falei muito com minha filha, as pessoas que gostam de mim, minha família, e achei melhor voltar", completou.
Walter já disputou duas partidas pelo Goiânia. Foram 27 minutos contra o ASEEV e mais os minutos finais do duelo com o Aparecida. As fotos dos encontros expõem uma peculiaridade que sempre acompanhou o jogador: o perfil mais 'gordinho' que a maioria dos atletas. E o atacante trata isso com naturalidade. Perguntado sobre seu peso, ele não esconde ou tenta despistar:
"Estou com 115 quilos. O ideal para mim é 96, mas acho que com uns 99 ou 100 já consigo jogar uma partida inteira. Quero chegar lá em mais ou menos uns dois meses. Isso nunca me incomodou. Eu tenho problema de peso, isso é meu. O que me incomodou um tempo eram coisas que falavam. Se me incomodasse o peso, atrapalharia minha carreira, e não atrapalhou. Sempre joguei em grandes times, e em todos os times em que estive sempre fui o principal jogador. Tive grandes estádios com a torcida gritando meu nome. Só tenho a agradecer a carreira que sempre tive", afirmou.
"A gente aprende muito na carreira. Tudo que passei no futebol me ensinou muita coisa. Me sinto bem e tenho mais três ou quatro anos para jogar. O que faltou no começo da carreira, vou fazer agora. Até para minha saúde, não posso ficar obeso. É para minha vida, para estar bem comigo, com meu corpo e feliz, assim como estou", acrescentou o atacante.
Walter reconhece que engordou recentemente no período em que esteve parado por dores no joelho. Mas, aos poucos, vai perder peso para conseguir atuar regularmente e buscar voltar ao mercado da bola com mais potência em 2023:
"Eu fiquei muito tempo lesionado. Engordei mais. Treinava, o joelho doía muito. Tive que parar, fiquei cinco meses parado e sem fazer nada. Agora meu objetivo é emagrecer mais para pegar força. Hoje sei que não tenho condições de jogar uma partida inteira, sou muito sincero. Não estou nem 50% do que poderia estar."
Futuro seria seleção?
Walter esteve na seleção brasileira sub-20 como um dos principais destaques do time. Foram cinco gols em nove jogos no Sul-Americano da categoria em 2009, o que o fez artilheiro do torneio com outros três jogadores. E do princípio empolgante vem a crença de que se não fosse o problema de peso, poderia ter jogado com frequência na seleção principal.
"Sem dúvida. Se não fosse o problema de peso, poderia ter ido muito longe. Eu tive na seleção de base, e continuaria na seleção, fazendo essa história bonita. Poderia ir muito mais longe. Isso me atrapalhou muito. Mas onde eu cheguei, também, não foi à toa. Sou muito grato. Poderia ser magro e não ter a qualidade que tenho. Eu só agradeço a Deus pelo que ele me deu, por ser como eu sou. Tenho que trabalhar para ficar bem porque o futebol exige isso. A parte física precisa estar voando, senão você não consegue jogar", opinou.
Na carreira, Walter passou por São José-RS, Inter, Porto, de Portugal, Cruzeiro, Goiás, Fluminense, Athletico-PR, Atlético-GO, Paysandu, CSA, Vitória, São Caetano, Botafogo-SP, Santa Cruz-PE, Amazonas e Goiânia. Em seu terceiro clube na temporada, o jogador experimenta um momento novo na carreira.
"Nunca tinha acontecido de eu trocar três vezes de clube em um ano. E agora aconteceu nos dois últimos anos. Mas são escolhas ruins que a gente faz. Saí com problema pessoal do Vitória. Foi uma escolha ruim sair do Santa Cruz e ir para o Amazonas. Às vezes, a gente tem escolhas não tão bacanas e aconteceu nos últimos anos comigo".
Técnico em até quatro anos e 'Waltão experiente'
"Essa é a melhor fase da minha vida. Graças a Deus eu me sinto bem. A gente fica seis meses sem saber o que fazer e me abriram as portas de novo. Tenho que dar meu melhor para jogar mais três ou quatro anos. O futebol me deu tudo. Sou o orgulho da minha mãe, do lugar de onde eu saí, das pessoas que me conhecem e gostam de mim, penso muito nisso", garantiu Walter.
O período estipulado para esticar a carreira coincide com os planos futuros do goleador. Assim que pendurar as chuteiras, Walter já tem certeza do que deseja fazer: virar treinador.
"Meu pensamento é acabar o ano o mais magro possível e ajudar o Goiânia a subir (para a Série A do Goiano), para depois olhar um projeto bacana. Quero estar bem e jogar mais três ou quatro anos, daí encerro e vou virar treinador", contou.
"Vou ser um treinador bom. Vou fazer as coisas boas que via nos treinadores bons com quem trabalhei. E o que eu via e eu não gostava, não vou fazer. O futebol é simples, às vezes, se complica muito. Vou ser firme, linha dura, verdadeiro. Tipo um Paulo Autuori, de quem sou muito fã. E o Enderson Moreira também. Sou fã deles."
"É possível, sim, desde que ele faça o caminho que todos devem fazer, que é estudar, fazer os cursos necessários. Mas a vivência dele no futebol o credencia para esta fase que ele pretende e se preparar para seguir. Depois dos cursos, ele tem muito a passar do que viveu, é um jogador com perfil de liderança e não vejo razão para não ter sucesso na carreira", opinou Marcus Alexandre, técnico do Goiânia.
Hoje no posto de 'experiente do grupo', ele puxa os jogadores mais jovens para seu lado e abraça todos que precisam.
"Levo os meninos para almoçar, jantar, comer, puxo eles para o meu lado. Dou chuteira, pago passagem, porque sei que é muito difícil, muitos deles não têm dinheiro para nada. Muita gente me ajudou e ajudo todos eles sempre."
"O Walter é um ser humano fantástico. Ele é uma pessoa de uma índole muito boa e tem uma característica muito peculiar. Onde ele chega, consegue obter atenção pelo que faz, pela simplicidade dele, a maneira que vive a vida. Isso favorece muito o ambiente de grupo. Eu só tenho elogios para ele", ressaltou o treinador da equipe.
Lançamento de livro e drama familiar
É inegável que o atacante tem muita história para contar. E tudo estará relatado num livro cujo lançamento deve ocorrer até outubro. A biografia de Walter o enche de orgulho e promete revelar detalhes de sua batalha com a balança e dos momentos de superação dentro e fora de campo.
"Vai contar a história da minha vida e isso é um momento muito importante. Estamos fechando alguns contratos, tem papéis para assinar, estamos correndo atrás de tudo, mas falta pouco, está perto, em setembro ou outubro deve sair", contou.
Enquanto isso, ele ainda amarga um drama familiar. O pai, José Amaro Ferreira, está desaparecido desde 2018. Neste período, Walter já fez três exames de DNA que deram negativo e sofre a cada dia em busca de informações.
"Já trocou o delegado do caso três vezes, se fala que estão procurando, mas nada. Já fizemos três exames de DNA e nada. Isso me dói todos os dias. Até agora não foi resolvido, não foi achado. É muito difícil. Estamos há quatro anos atrás de uma pessoa e não sabemos se ela está viva ou morta. Isso me machuca muito. Não vejo a hora de resolver, estando vivo ou não. Quero ver meu pai, acabar com isso, que é muito ruim", finalizou.
Se em 30 minutos de conversa já saiu tanta história, imagina com páginas e mais páginas de um livro. Certamente será um prato cheio para os apaixonados por futebol. Com o perdão do trocadilho.
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