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Hoje no Flu, Felipe Melo teve atritos e foi líder em Palmeiras campeão

Felipe Melo discute com o bandeirinha durante a final da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo - Juan Mabromata / AFP
Felipe Melo discute com o bandeirinha durante a final da Libertadores entre Palmeiras e Flamengo Imagem: Juan Mabromata / AFP
Diego Iwata Lima e Alexandre Araújo

Do UOL, em São Paulo e no Rio

27/08/2022 04h00

Felipe Melo, que pela primeira vez desde sua saída, será adversário do Palmeiras, foi tão relevante quanto controverso durante as cinco temporadas em que esteve no Alviverde, de 2017 a 2021. O agora camisa 52 do Fluminense recebe na noite de hoje (27) o seu ex-clube no Maracanã, às 19h, pelo Brasileirão.

Adorado por uma parte grande da torcida palmeirense, ele também despertou antipatia em alguns torcedores por posturas em campo e declarações — algo que se repetiu, dadas as proporções, dentro de elencos de que ele fez parte e comissões técnicas que o comandaram.

Como é comum com qualquer liderança, Felipe tinha aqueles de quem era mais próximo. Egídio e Marcos Rocha foram os seus grandes amigos considerando todo seu tempo no Palmeiras. Já com o hoje corintiano Roger Guedes, houve discussão pública, dedo na cara e chamamento de "moleque" de Felipe para o atacante durante treinamento, por exemplo.

A maioria dos jogadores, no entanto, tinha com ele uma relação parecida com a de Gustavo Scarpa. Em entrevista ao Globoesporte, o meia disse, em julho, que tinha relação apenas profissional com o ex-companheiro. Isso inclui respeitar, mas não manter laços de amizade.

Já com os atletas mais jovens, houve um maior descompasso. Dono de um estilo rígido e pautado pela seriedade extrema, Felipe por vezes se chocava com o estilo mais relaxado, característico da geração que veio das categorias de base do Alviverde.

O UOL Esporte apurou com fontes no clube que o relacionamento de Melo com os garotos não era necessariamente conflituoso, mas não era amistoso.

Outro ponto que costumava chatear parte do elenco era a proximidade de Felipe Melo com a Mancha, que por vezes adotou postura beligerante com alguns atletas, mas sempre poupou Felipe Melo. Alguns diziam que Melo "jogava para a torcida".

Atrito com Cuca, prestígio com Luxa e Felipão

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Técnico Cuca tem bate-papo com Felipe Melo em treino do Palmeiras
Imagem: Jales Valquer/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Com os treinadores, a maior rusga foi com Cuca. Os atritos começaram antes mesmo da volta do técnico ao clube. Indagado por um torcedor, via Twitter, se ele estava ansioso para trabalhar com Cuca, Melo disse abertamente que não. Já havia entre eles uma certa indisposição de quando trabalharam brevemente juntos no Grêmio, em 2004.

No Palmeiras, Felipe deixou de ter o status quase intocável que tivera com o antecessor, Eduardo Baptista. Em julho de 2017, chegou a ser afastado do clube por Cuca, na época em que um famoso áudio dele, indicando desejo de jogar no Flamengo, viralizou. Posteriormente, por insistência da diretoria, Cuca reconsiderou a medida e o reintegrou.

Com Alberto Valentim, o sucessor, ele voltou a ter mais espaço. Bem como com Roger, já em 2018. Mas foi com Felipão e Luxemburgo que ele adquiriu seu status de maior prestígio. Com Scolari, foi peça fundamental, como volante, na conquista do Brasileiro de 2018 e durante a temporada 2019. A partir da saída de Bruno Henrique, em 2020, Felipe virou capitão definitivamente com Luxa, de quem foi titular absoluto na zaga.

Abel soube administrar a importância de Felipe

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Felipe Melo em preleção no vestiário do Palmeiras antes da final da Libertadores contra o Flamengo
Imagem: Reprodução

Abel Ferreira chegou ao Palmeiras em 2020 sabendo que lidar bem com Felipe Melo era aumentar a chance de tranquilidade e ter a seu lado um atleta que encarava o trabalho no clube com muita seriedade. Já na coletiva de apresentação, citou o camisa 30 nominalmente como exemplo positivo.

O volante se machucou logo no primeiro jogo do português pelo Campeonato Brasileiro, em 8 de novembro de 2020. Desse modo, Abel teve liberdade para dar mais espaço a Danilo, Patrick de Paula e Gabriel Menino fazerem dupla com o já intocável Zé Rafael.

Em janeiro do ano seguinte, Felipe até entra nos minutos finais da final da Libertadores, no Maracanã, contra o Santos, contrariando os prognósticos que previam mais tempo de estaleiro.

Durante 2021, com a ascensão de Danilo e a manutenção do bom futebol de Zé, Melo viu seu status minguar, mas ele era constantemente escalado, devido ao rodízio imposto pelo grande número de jogos.

Em julho de 2021, já sendo opção usual de Abel, Felipe causou um princípio de mal-estar ao cobrar publicamente da diretoria uma posição sobre a renovação de seu contrato, que acabava no fim do ano.

Ao fim de um jogo contra o Grêmio, vencido pelo Verdão por 2 a 0, que catapultou o time à liderança do Brasileirão, ele exigiu uma manifestação da diretoria. Felipe já havia ouvido de Anderson Barros que o vínculo não seria estendido, mas queria que o presidente Mauricio Galiotte o procurasse.

Na ocasião, alguns jogadores do Palmeiras chegaram a deixar Abel Ferreira tranquilo para punir o atleta se julgasse adequado. Mas o treinador preferiu contemporizar.

Felipe fazia questão de ser o capitão

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Felipe Melo ergue o troféu após o título da Libertadores 2021
Imagem: AFP

Um dos capitães de Abel até sua saída do clube, Felipe Melo tinha muito orgulho da função que exercia. Sempre fazia questão de falar na roda do vestiário, mesmo nos jogos em que não era titular. E queria ser encarado como capitão pelos demais também quando não jogava. Em todas as decisões de que participou, escalado ou não, ele tinha à mão uma faixa de capitão para usar em caso de levantamento de troféu.

Quando sua capitania, na sua visão, era colocada em xeque ou desrespeitada, Felipe sempre deixava claro que não estava de acordo.

Às vésperas da semifinal do Mundial de Clubes de 2020, em fevereiro de 2021, ele não foi escalado para a entrevista coletiva pré-jogo contra o Tigres (MEX), no Qatar. O evento deveria reunir técnicos e capitães dos times.

O volante não vinha sendo titular, e seria normal que ele não fosse, já que Gómez era titular absoluto e um dos capitães do time. Mas sua não escalação para a coletiva gerou fricção. No dia seguinte, Melo foi reserva, mas a opção nada teve a ver com o queixume.

Já em novembro do ano passado, Abel levou Felipe com ele para a coletiva antes da final da Libertadores de 2021, contra o Flamengo, em Montevidéu. Ele havia sido titular na semi contra o Atlético-MG. Mas, mais uma vez, ele começou a final no banco de reservas.

Embora a relação entre Melo e Abel tenha sido sempre cordial, o volante não digeriu bem sua saída do clube, ao fim de 2021. Pois isso indicava que Abel não fizera questão de sua permanência.

A um podcast da Conmebol, em dezembro, Felipe citou Luxemburgo, Felipão e Roger como seus melhores técnicos, três dos treinadores com que foi protagonista no Palmeiras. Já Abel, com quem conquistou duas Libertadores e uma Copa do Brasil, foi relegado a um segundo plano.

Patinando no Flu

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Felipe Melo assina seu contrato até dezembro de 2023 ao lado do presidente do Flu, Mário Bittencourt
Imagem: Mailson Santana / Fluminense

Na primeira janela de transferências de 2022, a diretoria tricolor buscou alguns jogadores mais "cascudos", e tinha em Felipe Melo um perfil apontado como propício. Mas, por mais de um motivo, ele até hoje não conseguiu se firmar.

Além desta característica, pesou a favor do jogador o fato de poder jogar como zagueiro, como foi utilizado por Abel Ferreira e Luxemburgo, no Verdão, e também acabou sendo usado por Abel Braga, no começo da caminhada nas Laranjeiras.

Com a chegada de Fernando Diniz, porém, o Flu alterou o esquema tático. Na ocasião da mudança na comissão técnica, Felipe Melo se recuperava de uma lesão no joelho. Ele passou a ficar à disposição no início de junho, mas não figura no time apontado como titular e, desde então, iniciou apenas o duelo com o Cuiabá.

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