Imprensa argentina minimiza goleada do Fla sobre Vélez; River é destaque
Vergonha? Fiasco? Vexame? Não foram essas as palavras encontradas na imprensa argentina em relação à goleada sofrida pelo Vélez Sarsfield diante do Flamengo, em jogo da Libertadores ocorrido hoje que acabou em 4 a 0 para os brasileiros.
Disputado em Buenos Aires, o confronto perdeu espaço nos principais veículos locais para outro duelo: Defensa y Justicia x River Plate — que coincidentemente acabou em 4 a 0 para os visitantes —, válido pelas oitavas de final da Copa Argentina.
Logo depois do apito final do confronto disputado no José Amalfitani, a capa do Olé, por exemplo, mostrava o sorridente Pablo Solari, promessa de 21 anos do time de Marcelo Gallardo, celebrando um de seus gols.
"River goleia com sua nova joia e se prepara para encarar o Boca", publicou o jornal esportivo em seu site.
A notícia sobre a goleada do Flamengo, que ficou marcada por três gols do atacante Pedro, aparecia com um espaço menor dentro do portal. O título, diferente do imaginado por alguns, não fez menção ao desastre dos mandantes durante os 90 minutos: "Flamengo foi como um rolo compressor sobre o Vélez".
O canal TyC Sports seguiu a mesma linha do Olé e destacou a atuação de Solari diante do Defensa y Justicia. Ao lado, em uma foto menor, os jogadores do Flamengo surgiram comemorando um dos quatro gols do duelo da Libertadores.
Críticas ao Vélez? Longe disso. "O Flamengo brilhou contra o Vélez e colocou um pé na final", publicou a emissora.
Outro jornal de grande circulação que pouco contestou a atuação do time argentino foi o Clarín. Na página de esportes do veículo, há, por outro lado, exaltação ao 2° gol marcado pela equipe de Dorival Júnior.
"Como em Copacabana, mas em Liniers: o gol técnico puro do Flamengo contra o Vélez pela semifinal da Copa Libertadores. [...] Com a naturalidade da 'altinha' na praia, Pedro, Gabigol e Everton Ribeiro deram forma a um grande gol que amargou todo o Fortín", estampou o Clarín — Liniers é o bairro do estádio do Vélez, que tem "El Fortín" como apelido.
Por que o Vélez foi escanteado?
Tales Torraga, colunista do UOL Esporte especializado no futebol argentino, já havia explicado o motivo do pouco apelo no país.
O Vélez chegou a ser campeão mundial e da Libertadores de 1994, batendo gigantes como o Milan e o São Paulo. Mesmo assim, o time, hoje comandado pelo técnico uruguaio Alexander "Cacique" Medina, não é considerado um grande na Argentina.
A disparidade entre currículo e aceitação perante os pares vem dos primórdios do futebol profissional na Argentina. Mais precisamente desde 1934, quando nasceu a atual AFA (Associação de Futebol Argentino).
Os times de maior torcida começaram a exercer pressão sobre os demais para ter mais peso nas decisões. Assim nasceram os "cinco grandes" como são tratados até hoje. E todos são de Buenos Aires ou dos arredores: River Plate, Boca Juniors, San Lorenzo, Racing e Independiente (os dois últimos são de Avellaneda, praticamente uma extensão da capital portenha).
Desde então, na hora de decidir algo relacionado à estrutura do futebol argentino, o voto de um dos grandes tem peso maior que os demais, chegando até mesmo a ter um "peso três" - ou seja, equivalente a três dos times menores do país.
Há grande discussão na Argentina, desde a década de 1960, para se determinar um "sexto grande" no país. Os postulantes? Huracán, Newell's Old Boys, Rosario Central, Estudiantes... e o Vélez Sarsfield.
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