Maldição no gol? Desde aposentadoria de Ceni, ninguém encantou no São Paulo
O São Paulo começa a decidir na noite desta quinta-feira (1), a vaga para a decisão da Sul-Americana. O rival é o Atlético-GO, que jogará a primeira partida em casa, no estádio Serra Dourada, às 21h30 (de Brasília). E para o jogo que pode recolocar o São Paulo em sua primeira final continental após dez anos, o Tricolor terá de estancar um problema que tem atormentado o time desde que Rogério Ceni se aposentou.
Goleiro mais icônico da história do São Paulo, Ceni parou de jogar no fim de 2015. De lá para cá, entre titulares e reservas, nove goleiros ocuparam a meta tricolor, mas nenhum convenceu a ponto de se tornar absoluto embaixo das traves do clube. Dênis, Renan Ribeiro, Sidão, Jean, Tiago Volpi, Lucas Perri, Jandrei, Thiago Couto e Felipe Alves foram os candidatos. Somadas as partidas de todos eles, são 455 jogos e 461 gols sofridos.
O primeiro a tentar ocupar a vaga do "Mito" foi Dênis. Contemporâneo de Ceni nos últimos anos de Rogério no São Paulo, era o substituto natural. Com ele, o São Paulo conseguiu chegar à semifinal da Libertadores em 2016. Mas o goleiro teve algumas falhas e não se firmou. E foi justamente Rogério Ceni, na sua primeira passagem como treinador do clube, em 2017, que mandou Dênis para o banco. No fim daquele ano, Dênis deixou o Tricolor com um histórico de 78 jogos e 77 gols sofridos.
Rogério Ceni pediu a contratação de Sidão, que vinha de boas passagens por Audax e Botafogo. Ele tinha uma qualidade que o diferenciava de Dênis: saber jogar bem com a bola nos pés. Depois de um início promissor, com defesas de pênaltis na Flórida Cup de 2017, as falhas começaram a aparecer. E Sidão foi embora depois de jogar 73 partidas e sofrer 72 gols.
Estava claro que substituir um gigante na história do clube seria mais difícil do que se imaginava e Fernando Prass, que passou por situação semelhante no Palmeiras, conta que o processo não é simples.
"A pressão de jogar num time grande é enorme. E tu chegando assim próximo da aposentadoria de um dos caras que foi o maior goleiro da história do clube e um dos maiores jogadores, é muito complicado. Porque o padrão de comparação deixa de ser um bom goleiro e passa a ser um ícone do clube né? Então o tamanho do Rogério no São Paulo e do Marcos do Palmeiras é muito grande. É maior do que simplesmente um grande goleiro né? Então vai muito além das capacidades técnicas", explicou ao UOL Esporte o ex-goleiro Fernando Prass, hoje comentarista dos canais Disney. Ele se firmou no gol do Palmeiras depois de duas tentativas frustradas do rival do tricolor na busca por um sucessor para Marcos.
O terceiro candidato a titular da meta são-paulina foi o promissor Jean. Rogério já não era mais o treinador. Jean era o cobrador de faltas do time do Bahia, uma motivação especial para o torcedor que deu um crédito ao novo pretendente a herdeiro da posição de Ceni. Mas o que parecia ser uma grande virtude se mostrou um problema. Erros na saída de bola com os pés abalaram a confiança de Dorival Júnior, treinador daquele elenco que passou a testar Renan Ribeiro como alternativa para o gol. Um caso de violência doméstica, quando agrediu sua esposa, colocou um ponto final na passagem de Jean pelo São Paulo depois de atuar em 21 jogos e sofrer 16 gols.
Enfim titular, Renan Ribeiro jogou 33 partidas, com 39 gols sofridos. Quando vivia seu melhor momento, ele foi negociado com o Estoril Praia, de Portugal, e deixou o São Paulo.
Qual foi o melhor goleiro do São Paulo desde a aposentadoria de Ceni?
Resultado parcial
Total de 179 votosEsperança veio do México
Para tentar resolver o problema, o Tricolor foi ao México buscar um brasileiro que se destacava no país em 2019. Volpi foi o goleiro que mais vestiu a camisa do São Paulo desde que Ceni parou, com 195 jogos disputados. Ele foi também quem mais se aproximou das expectativas da torcida. Pegador de pênaltis, surfou na boa fase da equipe que liderou o Campeonato Brasileiro de 2020.
Uma falha num gol de Patrick de Paula, no confronto das quartas de final da Libertadores do ano passado contra o Palmeiras, pesou e o que era uma lua de mel com a torcida virou quase divórcio. Com a chegada de Jandrei, neste ano, o rompimento foi inevitável. Volpi foi perdendo espaço até ser negociado com o Toluca, do México, neste ano. Ele deixou a equipe tendo sofrido 200 gols em 195 partidas.
O momento atual
Já com Rogério Ceni de volta ao clube, Jandrei desembarcou no Morumbi neste ano. Logo no começo de sua jornada ele pegou um pênalti do Ituano, no Morumbi. Também foi herói da classificação contra o Palmeiras, na Copa do Brasil, quando defendeu os pênaltis cobrados por Raphael Veiga e Wesley, colocando o São Paulo nas quartas de final do torneio. Uma lesão na lombar interrompeu o bom momento. Depois de voltar, ainda não retomou a melhor forma. Até aqui, jogou 41 partidas e foi vazado 40 vezes.
Enquanto Jandrei esteve fora, o São Paulo experimentou Thiago Couto, formado pelo clube. Mesmo tendo defendido um pênalti contra o América-MG, pelas quartas de final da Copa do Brasil, os sete gols levados na sequência de jogos contra Fluminense, Internacional e Goiás pesaram. Com ar de urgência, o clube foi buscar Felipe Alves, que tinha sido treinado por Rogério no Fortaleza. Foi destaque da classificação à semifinal da Sul-Americana, pegando uma cobrança na decisão por pênaltis contra o Ceará. Com o retorno de Jandrei, voltou para o banco após jogar cinco jogos e levar cinco gols.
Goleiros da base não suportaram a pressão
Além de Thiago Couto, outros atletas da base foram testados. Lucas Perri era tratado como uma grande promessa para ser titular. Inseguro, atuou em nove jogos e levou nove gols. Além deles, Léo jogou uma partida no fim da temporada de 2016, mas nunca mais voltou. Com apenas um jogo, saiu do clube. A pressão é ainda maior para os jovens que crescem no clube ouvindo as histórias e os feitos notáveis do ídolo Ceni. A comparação feita pelos torcedores é tão dura quanto inevitável.
"Eu já vi grandes jogadores que não caíram nas graças da torcida por um ou outro fator e outros jogadores que de repente nem com tanta qualidade caíram nas graças da torcida. Mas isso isso também tu consegue construir através de uma imposição. De conseguir externar essas qualidades que tu tem e criar simpatia com o torcedor. Mas sem dúvida nenhuma, todo clube com goleiros do nível de Rogério e Marcos vai passar por essa situação e não necessariamente porque os goleiros que vieram depois deles não têm qualidade", analisou Fernando Prass.
Reta final de temporada tem instabilidade no gol
Buscando o título da Sul-americana e a consequente volta à Libertadores, o São Paulo precisa superar o Atlético-GO para decidir a competição em Córdoba, na Argentina. O retrospecto recente preocupa. Nos últimos dez jogos do time, somadas as três competições que disputa, o Tricolor sofreu 12 gols.
Após a derrota para o Fortaleza, pelo Campeonato Brasileiro, Ceni fez uma análise sobre a meta são-paulina, e destacou o fato de o time não ter sido vazado em 21 jogos em 2022. "O Fortaleza finalizou apenas uma bola no nosso gol. E, se você não pegar aquela bola, não vem outra para você pegar. Eu já joguei partidas em que a bola quase não chegava ao gol e vinha uma bola por jogo, e joguei em times do São Paulo por 25 anos em que vinham dez, 12 bolas ao gol. Ou você fazia o seu nome naquele jogo, ou naquele em que vinha uma [bola] você tinha de estar atento para pegar. Temos de melhorar e tentar não sofrer gols — como na época em que saímos sem sofrer gols em muitos jogos. Não podemos mais deixar que o adversário faça gols com facilidade em nós", afirmou o comandante tricolor.
Para Fernando Prass, o ideal é não deixar que a pressão externa, vinda das arquibancadas, afete o rendimento do goleiro. E não deixar de tentar evoluir para poder ganhar a confiança dos companheiros e dos torcedores. "Se tu ficar preocupado muito a ponto de te afetar, tu está ferrado cara. Porque são coisas que tu não controla. Tu não tem como controlar isso. Tu pode controlar a tua preparação para passar uma imagem boa para as pessoas. O que eu fazia era isso, cara. Eu trabalhava muito, muito, muito para melhorar minha performance para as pessoas poderem confiar em mim. Isso está totalmente ligado ao seu desempenho. Então e o teu desempenho melhora como? Trabalhando. Não tem outra solução", explicou Prass.
FICHA TÉCNICA
ATLÉTICO-GO X SÃO PAULO
Competição: Copa Sul-Americana - ida da semifinal
Data e hora: 1º de setembro de 2022 (quinta-feira), às 21h30 (horário de Brasília)
Local: Estádio Serra Dourada, em Goiânia
Árbitro: Jesús Valenzuela (Venezuela)
Assistentes: Carlos Lopez e Tulio Moreno (Venezuela)
VAR: Juan Soto (Venezuela)
ATLÉTICO-GO: Renan; Dudu, Wanderson, Klaus e Jefferson; Baralhas, Edson Fernando, Marlon Freitas e Jorginho; Wellington Rato e Churín. Técnico: Eduardo Baptista.
SÃO PAULO: Jandrei; Ferraresi, Diego Costa e Léo; Igor Vinícius, Gabriel Neves (Pablo Maia), Rodrigo Nestor, Igor Gomes e Reinaldo; Patrick (Luciano) e Calleri. Técnico: Rogério Ceni.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.