Injúria racial: Como Corinthians e Inter tentam blindar Edenílson e Ramos
Já faz mais de três meses, mas a suposta injúria racial que marcou o Internacional x Corinthians do primeiro turno do Brasileirão ainda não foi julgada em nenhuma esfera. Na véspera do reencontro entre os times, que jogam amanhã (4) na Neo Química Arena, Rafael Ramos tem sido blindado pelo Alvinegro e tem dois julgamentos pela frente; já Edenílson parece ter deixado o caso para trás e hoje é alvo de críticas pelo desempenho em campo.
A acusação aconteceu no sexto jogo de Rafael Ramos pelo Corinthians, em 14 de maio. Ele havia sido contratado em abril, e no mês seguinte se envolveu na disputa com Edenílson. O lateral chegou a ser preso em flagrante no Beira-Rio, e depois liberado sob fiança. Só voltou a jogar após 15 dias e teve várias chances durante as ausências de Fagner por lesão, mas ele próprio perdeu jogos por um problema na coxa esquerda e enfileirou algumas atuações ruins.
Ramos e o Corinthians têm duas frentes jurídicas para resolver, pois o jogador foi denunciado tanto no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), quanto na Justiça do Rio Grande do Sul, onde virou réu por suposta injúria racial e pode pegar até três anos de detenção. São dois processos diferentes, um com implicações esportivas e o outro, criminais.
Por isso o clube tenta proteger o jogador. Ele deu uma entrevista ainda no Beira-Rio para dar sua versão sobre o ocorrido, mas depois disso não apareceu mais para falar com a imprensa. No Corinthians está cercado de cuidados, e em casa a companhia é da noiva Luciana Mailen. A família do jogador ainda não conseguiu vir ao Brasil para visitá-lo.
Dias depois do caso, o presidente Duílio Monteiro Alves saiu em defesa de Rafael Ramos. Nesta semana, o gerente de futebol Alessandro revelou que o jogador "sentiu muito nos primeiros dias e semanas", mas com o tempo voltou a se concentrar no futebol.
"O atleta está bem, focado e vendo que a gente está participando de tudo. Provavelmente estará apto para os próximos jogos. É um assunto que a gente deixa para o nosso Departamento Jurídico, que é apto para cuidar, e acompanhamos o atleta no dia a dia, proporcionando segurança, trabalho e que esteja confortável para fazer aquilo que sabe fazer, que é jogar futebol", disse Alessandro.
Caso ficou para trás no Inter
O Internacional deu suporte a Edenilson desde o início, inclusive com uma nota oficial publicada pouco depois do jogo no Beira-Rio. O clube bancou a versão do jogador e encaminhou os procedimentos legais com ele já nos vestiários do estádio, no dia do ocorrido, e o presidente Alessandro Barcellos tomou a palavra para defendê-lo.
"Edenilson é um atleta exemplar, um pai de família, cidadão. É inadmissível que em 2022 a gente ainda tenha episódios como este. Isso comove a todos nós. A gente sabe que o Corinthians é um clube com história contra esse tipo de preconceito. É hora de os clubes terem uma postura. Edenilson tomou a iniciativa de fazer o registro, e a gente acredita na verdade dele", disse o mandatário na ocasião.
Nos dias seguintes, o meio-campista foi protegido de um contato mais direto com a imprensa. Prestou depoimento no TJD-SP no começo de junho e só voltou a conceder entrevistas coletivas quando se sentiu confortável para tratar do tema, e admitiu terem sido "dias difíceis, estranhos".
"Fui muito julgado nesses dias. Ouvi que sou mentiroso, surdo, e eu sabendo o que ouvi. É bem complicado quando se vê os fatos serem distorcidos. É muito claro, e as imagens estão aí para serem avaliadas. Espero que não me julguem. Não quis dar entrevista por respeitar o rapaz, o Rafael, a carreira dele. Não quero estragar a carreira dele, não teria razão para fazer isso com um colega de profissão", comentou Edenílson na época.
Ele disse até ter tido "amigos que ajudaram" nos momentos mais difíceis. Nos bastidores, o Inter se uniu em apoio ao jogador. Atletas tomaram partido em gesto antirracista na comemoração de gol; direção, estafe e todo o clube apoiaram a iniciativa de denúncia e estiveram ao lado de Edenílson.
No entanto, o caso foi ficando em segundo plano com o passar dos meses e hoje, internamente, já é visto como superado. O tema segue presente em ações de combate ao racismo no geral, mas Edenilson já se recuperou. A ponto de viver um momento completamente diferente: no banco de reservas e cobrado por parte da torcida.
É a primeira vez desde que chegou ao Inter, em 2017, que ele perdeu lugar no time — Johnny é o titular. Edenílson foi apontado como um dos responsáveis pela eliminação da Sul-Americana para o Melgar, mas não se escondeu e segue dando a cara à tapa em entrevistas. Ele é um dos mais longevos do elenco colorado, mas pode ser negociado no final da temporada.
Ambos à disposição para o jogo de amanhã
Tanto Edenílson quanto Rafael Ramos estão à disposição de seus treinadores para o jogo de amanhã (4), na Neo Química Arena. O corintiano voltou de lesão na coxa na segunda-feira (29) e deve começar no banco de reservas, assim como Edenílson. Os times jogam pela 25ª rodada do Brasileirão, e o confronto é direto por uma vaga no G4, pois ambos têm 42 pontos na classificação.
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