Em 4 anos, brasileiros levam 64% da premiação do mata-mata da Libertadores
Os resultados das semifinais da Libertadores deixaram ainda mais palpável uma decisão entre clubes brasileiros. Com Flamengo, Palmeiras ou Athletico, o país está perto de ter o campeão pela quarta edição consecutiva do principal torneio continental. Esse sucesso esportivo explica e retroalimenta o poderio financeiro das equipes. Com presença significativa na fase de mata-mata, os clubes brasileiros vão levar 64,2% do dinheiro distribuído pela Conmebol em premiações a partir das oitavas de final da Libertadores nos últimos quatro anos.
Olhando o retrospecto das equipes de 2019 a 2022 — período no qual está em vigor o atual contrato de direitos de transmissão —, os brasileiros vão faturar US$ 145 milhões. Considerando a cotação do dólar em cada ano, isso significa uma distribuição aproximada de R$ 704,2 milhões por 12 clubes.
Os 36,8% da premiação no mata-mata da Libertadores que foram para clubes de outros países nos últimos quatro anos representam US$ 80,8 milhões (R$ 379,1 milhões).
Na temporada atual, uma das semifinais tem o duelo entre Athletico e Palmeiras — o Furacão fez 1 a 0 no jogo de ida. Na outra, o Flamengo largou no confronto com o Vélez fazendo 4 a 0, em Buenos Aires. Salvo uma catástrofe de proporções inéditas no Maracanã, essa deve ser a terceira decisão seguida exclusivamente brasileira.
O domínio ainda não faz com que a Conmebol se movimente para reduzir o número de vagas brasileiras da Libertadores ou alterar o regulamento para evitar que o bloco seja tão representativo nas fases mais agudas da competição — que têm cotas mais robustas. O poderio brasileiro aumentou justamente após o inchaço da Libertadores em 2017, fazendo com que seja possível até nove representantes do país na competição.
Nos últimos dois anos, as equipes brasileiras ocuparam três das quatro vagas nas semifinais. Em 2021, o "intruso" foi o equatoriano Barcelona de Guayaquil. Neste ano, o argentino Vélez.
O presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, vê uma preponderância circunstancial por parte dos brasileiros e cita momentos do passado. Uruguaios e argentinos acumularam títulos da Libertadores em profusão ao longo de 30 anos, considerando as décadas de 1960, 1970 e 1980.
"O domínio é momentâneo. Se olhar a história, de 1960 até agora, sempre teve um país em cada década que foi dominante. Hoje, os times brasileiros estão trabalhando muito profissionalmente. Por causa da performance é que estão chegando à final. Se olhar a história completa, um país dominou cada década", disse o dirigente paraguaio.
Para o próximo ano, um novo contrato de direitos de transmissão entrará em vigor. Segundo ele, haverá um "bom aumento" nas cotas de participação.
"A história mostrou que o dinheiro não é determinante para ser campeão", pondera Alejandro.
Mas a lógica do futebol moderno tem mostrado que, se não é possível assegurar títulos, os recursos financeiros colocam os clubes em vantagem na comparação com os demais menos abastados.
"Estamos falando de um processo que se retroalimenta, e que em certa medida lembra muito o impacto que a Champions League tem nos grandes clubes europeus. Os brasileiros se destacam esportivamente na Libertadores porque têm maior capacidade financeira, montam elencos melhores e mais fortes, e competem localmente numa competição de nível superior aos demais campeonatos nacionais na América do Sul. Eles têm melhor desempenho porque têm maior receita, e aumentam a receita porque têm melhor desempenho. Para agravar a situação, isso ainda retira receitas que poderiam reforçar o caixa de adversários de outros países", avalia o economista César Grafietti, sócio da consultoria Convocados.
O reflexo local
Flamengo e Palmeiras são os campeões da Libertadores de 2019 para cá e lideram o ranking de arrecadação no mata-mata entre os 12 clubes brasileiros que chegaram pelo menos às oitavas da Libertadores.
Não por acaso (ou talvez por isso), são os clubes de maior receita no futebol brasileiro. Ano passado, o Fla fechou o ano com R$ 1,08 bilhão de arrecadação total. O Palmeiras, R$ 910 milhões. A ressalva é que parte das receitas de 2020 foi empurrada para 2021 por causa das alterações de calendário geradas pela pandemia — inclusive, o prêmio ao campeão da Libertadores caiu duas vezes em um só ano na conta do Palmeiras.
"Se considerarmos que falamos de uma receita em dólares, esta condição pode ser ainda mais benéfica aos brasileiros, dependendo do câmbio. Mas isto não tem um efeito apenas continental, e acaba impactando também o futebol local. Clubes que estão conquistando presença cativa na competição, casos de Flamengo e Palmeiras, se beneficiam localmente dessas receitas, aumentando ainda mais a distância econômica interna. A presença na Libertadores traz benefícios em duas frentes", completa Grafietti.
O economista lembra ainda que a presença em fases mais agudas do torneio continental ainda pode influenciar em outras linhas de receita dos clubes, como em bilheteria e sócio-torcedor.
Ranking de arrecadação dos clubes no mata-mata da Libertadores de 2019 a 2022*
- Palmeiras -- US$ 45,9 milhões (R$ 225,71 milhões)
- Flamengo -- US$ 32,15 milhões (R$ 153,65 milhões)
- Santos -- US$ 10,55 milhões (R$ 45,15 milhões)
- Atlético-MG -- US$ 7,1 milhões (R$ 38,37 milhões)
- Athletico -- US$ 6,65 milhões (R$ 31,82 milhões)
- Grêmio -- US$ 6,55 milhões (R$ 27,67 milhões)
- Internacional -- US$ 4,35 milhões (R$ 19,81 milhões
- São Paulo -- US$ 2,55 milhões (R$ 14,3 milhões
- Fluminense -- US$ 2,55 milhões (R$ 14.3 milhões
- Corinthians -- US$ 2,55 milhões (R$ 12,85 milhões)
- Fortaleza -- US$ 1,05 milhão (R$ 5,29 milhões)
- Cruzeiro -- US$ 1,05 milhão (R$ 4,39 milhões)
*Valores contabilizados até a semifinal de 2022. Proporção do US$ para o R$ pode variar por causa da cotação da moeda no ano de disputa do torneio
O que ainda está em jogo:
Vice-campeão 2022: US$ 6 milhões (R$ 30 milhões)
Campeão 2022: US$ 16 milhões (R$ 80,6 milhões)
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