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'Corinthians tem 700 funcionários, alguém vai roubar', diz Andrés Sanchez

Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, em painel da feira Brasil Futebol Expo - Arthur Sandes/UOL
Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, em painel da feira Brasil Futebol Expo Imagem: Arthur Sandes/UOL

Do UOL, em São Paulo

06/09/2022 14h37

Andrés Sanchez falou um monte durante uma conversa que teve na tarde de hoje (6), durante um evento da CBF em São Paulo. Com várias frases de efeito, o ex-presidente do Corinthians pediu isenção de impostos aos clubes de futebol, disse que a SAF não serve para o Alvinegro, criticou as leis de fair play e ponderou sobre desvios na administração dos times.

"No futebol, roubo é roubo. Quem rouba tem que pagar, ser expulso, ser preso, o que for", começou Andrés. "Tem empresa por aí afora, tudo muito profissional, empresarial, e todo mês alguém é demitido porque estava roubando. O Corinthians mesmo tem 700 funcionários, alguém vai roubar. É da cultura do país e é assim que funciona", afirmou o ex-presidente, sem freios, logo na primeira vez no microfone, quando falava sobre os modelos de SAF no futebol brasileiro.

O ex-presidente do Corinthians participou de um painel na feira Brasil Futebol Expo ao lado do presidente do São Paulo, Julio Casares, do Santos, Andrés Rueda, e o diretor executivo do Red Bull Bragantino, Thiago Scuro. Eles falaram sobre o papel de gestor no futebol brasileiro.

Andrés diz não ser contra a SAF, no geral, mas entende que no Corinthians não funcionaria porque em clubes maiores "a pressão é outra e isso interfere". Ele falou da dívida bilionária do Corinthians e se defendeu das decisões que tomou no último mandato.

"O compliance quem tem que fazer sou eu, o presidente do clube. Aquelas auditorias, o raio que o parta, quer receber R$ 1 milhão por mês. Aí você pega o balanço do Corinthians hoje, e todo mundo fala que não pode contratar um jogador, porque tem R$ 1 bilhão de dívida, a situação é ruim e não pode contratar ninguém. Aí, se o time vai mal, a mesma pessoa diz que precisa contratar porque o Corinthians está ruim", desabafou o ex-presidente corintiano.

"As igrejas rezam pai-nosso, vale para todas as religiões, e não pagam um centavo de imposto. Não paga. Qual a diferença do clube de futebol para a igreja? Mas não pode tocar na igreja, senão, meu amigo...", comparou Andrés. "Se todo mundo for SAF, o que vai acontecer é que os clubes associativos vão acabar com todos os esportes olímpicos. É isso que queremos no futebol? Eu sou contra a SAF no Corinthians. Muitos clubes precisam, mas no Corinthians não. No máximo manter 51% e vender o restante, virar ação, sei lá", opinou o ex-presidente alvinegro.

Humor de sempre

Andrés Sanchez sentou ao lado de Casares, na ponta direita do palco, e falou baixinho com o são-paulino durante todo o evento. No geral, o ex-presidente se apresentou na BFExpo como sempre: inquieto na cadeira, falando bastante e gesticulando entre os argumentos que enumerava.

Falou rápido e discutiu tudo ao mesmo tempo, às vezes com desabafos, outras vezes em defesa apaixonada do que pensa. Em resumo, o mesmo Andrés de sempre. Quanto o painel foi aberto para perguntas, questionaram se "não havia jornalistas na sala". Com o microfone na mão, Andrés não pensou duas vezes. "Graças a Deus", celebrou. Quando anunciaram o intervalo do painel de três horas, ele fingiu se surpreender. "Intervalo? Então vai ter mais?", brincou.

Ele foi o protagonista do painel, mesmo com outros três dirigentes ali. Fez piadas, repetiu palavrões e falou bem mais do que os colegas. Em uma resposta de Rueda, por exemplo, pediu o microfone para complementar. Depois, quando o santista foi perguntado sobre a permanência do técnico Lisca no Santos, virou para o próprio Lisca, que estava na sala, e traduziu. "Perguntaram aí se você vai ser demitido", falou.

Piadas com Casares

Ao ouvir o presidente do São Paulo falava sobre uma iniciativa para melhorar a imagem do clube nos eSports, Andrés Sanchez pediu o microfone para uma provocação. "Na verdade ele quer distribuir cargo. Dá lá uma diretoria para alguém, pronto, você cuida", brincou, dando risadas. Júlio Casares quis responder e fez questão de zoar de volta. "Ele já está acostumado com essa parte", devolveu. Todos no palco riram, e Andrés concluiu. "A gente brinca com quem pode brincar."

Outras falas de Andrés:

Dívida do Corinthians

"Futebol é sem fins lucrativos, gente. O Corinthians tem que estar devendo sempre. Se tiver R$ 100 milhões na conta, vai gastar na bocha, na natação, na peteca, tudo aquilo. Fora os associativos, que tem campeonato associativo."

Contratações que fez

"O jogador ganha R$ 1,5 milhão na carteira, aí vai embora e entra na Justiça por equiparação salarial, adicional noturno e tudo. O Corinthians contrata jogador... até hoje eu ouço nomes, Luan, Defederico, as p... que pariu. Você acha que é o diretor ou o presidente do clube é que quer contratar? É a p... do treinador! Quando o presidente contrata alguém que o técnico não quer, na primeira derrota ele diz que contratou alguém que ele não queria."

SAF

"Fazer no Bragantino é uma coisa, mas no Santos, no São Paulo e no Corinthians é outra. Sou consultor do Cruzeiro e falo para o Ronaldo: a vida está boa hoje, quero ver no ano que vem, porque a cobrança é outra. Ele é o dono; se não põe dinheiro, não pode nem sair na rua em Belo Horizonte."

"Sou a favor que o clube também possa fazer recuperação judicial. Não sou contra a SAF, mas a SAF tem dez anos para pagar as dívidas. No Corinthians tem processo há 18 anos, e o cara não recebeu até hoje. Se tivesse recuperação judicial, ele receberia. O Corinthians ficou sete anos sem receber um centavo com bilheteria, e a conta um dia chega, e chegou. Tem que pagar o estádio, o CT, tudo isso. O único lugar em que cai dinheiro do céu é na igreja, em outros lugares não."

Criação da Liga

"O grande problema de a Liga sair hoje é a vaidade de quem quer ser protagonista. Quem vai botar a empresa que manda. A Liga vai sair, mas vai ter problemas jurídicos, porque nossas leis não são as mesmas da Europa. Precisamos de uma lei à parte para cuidar do futebol. Não é só montar a Liga, o problema é muito maior. E não sou eu que vou presidir a Liga, tem que ser um cara de mercado."

Preços altos no futebol

"Eu entendo que nem toda população tem condições de ir em todos os jogos, mas os jogadores estão mais caros, está tudo mais caro. O Corinthians é com a Nike, porque com as outras as camisas acabam, e aí ficariam reclamando 'acabou a camisa!'. Uma camisa na Europa é 100 euros, e o cara recebe 2,5 mil euros; aqui são R$ 400 e o torcedor recebe R$ 1,2 mil. É difícil, eu entendo isso, mas é o país em que vivemos."

Fim do clube dos 13

"Eu não sou mais presidente, então posso por uma pimenta. Fui eu o responsável por acabar com o Clube dos 13, porque o presidente ganhava R$ 90 mil por mês, tinha dois cartões corporativos, queria negociar cota de TV a cada dois anos. Todo mundo dizia que era voluntário, mas ganhava R$ 60 mil por mês. Arrebentei com o Clube dos 13, e todo mundo ganhou mais [dinheiro], não foi só o Corinthians."

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