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Entenda a polêmica da proposta de reeleição para presidente do São Paulo

Julio Casares, presidente do São Paulo, apresentando Andrés Colorado - Reprodução/SPFCTV
Julio Casares, presidente do São Paulo, apresentando Andrés Colorado Imagem: Reprodução/SPFCTV

Thiago Braga

Do UOL, em São Paulo

06/09/2022 04h00

Os conselheiros do São Paulo se reuniram na noite desta segunda-feira (5) para analisar a proposta de reeleição que foi protocolada no Conselho Deliberativo do clube, há duas semanas. Os dirigentes tricolores têm até a tarde desta terça-feira para votar (o resultado deve sair às 17h).

Para aprovar uma mudança, a proposta tem de ser escolhida por maioria absoluta, o que significa 50% + 1 do total de conselheiros ativos. Hoje são necessários 128 votos para que ela seja encaminhada à Assembleia Geral, onde os sócios do clube votam e decidem se a reeleição será aprovada.

Enquanto a atual gestão defende o aumento de mandato, escorada no fato de ter levado o clube a ser campeão do Paulista de 2021 e em algumas melhorias, como contratos de patrocínio e contratações de jogadores, a oposição trata a manobra como "golpe".

Na visão de quem defende a reeleição, o tempo de mandato — três anos — é considerado curto para a implementação de todo o trabalho.

Os argumentos de quem é contra são de que a atual gestão foi eleita sabendo que não teria direito à reeleição. Assim, mudar a regra durante o transcorrer do mandato seria uma demonstração de que está legislando em causa própria.

"É eu acho que isso na realidade é uma grande incongruência. Porque eu não conheço nenhum golpe no mundo que seja dado através de votação. De alguma certa forma tive uma formação política bastante intensa e o golpe é aquilo que é feito através da força com a imposição de uma determinada conduta. Um golpe onde há uma votação no conselho, onde há uma votação dentro do clube para se aprovar ou não uma possível reeleição me parece absolutamente inadequado o nome da palavra golpe. Agora, é uma palavra de ordem que é utilizada e eu respeito quem a utiliza. Mas sinceramente eu acho inadequado e não se configura um golpe um pedido de reforma estatutária feita nos moldes do estatuto, votada pelo conselho e depois votada pelo quadro associativo", afirmou ao UOL Esporte Olten Ayres de Abreu Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do São Paulo.

Outro motivo alegado é que a última mudança no estatuto do clube aconteceu recentemente. Ela ocorreu em 2016, quando foi criado o Conselho Administrativo e houve alteração no tempo de mandato (três anos), sem previsão de reeleição. Na ocasião, o agora presidente Julio Casares se posicionou contra a reeleição. Para que uma mudança estatutária seja proposta, ela precisa ser assinada por pelo menos 50 dos atuais 253 conselheiros que o São Paulo tem. O "Juntos Pelo São Paulo" — coalização de grupos políticos da situação que elegeu o presidente Julio Casares e que tem entre seus líderes o diretor de futebol Carlos Belmonte —, conseguiu reunir assinaturas de 98 conselheiros para apresentar o pedido.

"Nosso estatuto não prevê que não haja reapresentação de algumas alterações que já tenham sido apresentadas no passado. Mas a reforma que agora está sendo apresentada não é exatamente a reforma que foi apresentada ano passado. Nós tivemos uma reforma que no passado tinha 24 alterações estatutárias e dessa vez nós estamos propondo exclusivamente duas reformas. Dois itens de reforma: a reeleição do presidente executivo e a reeleição da mesa do conselho", ressaltou Olten.

Em janeiro deste ano, dos 1.329 votos de associados na assembleia, 506 foram a favor da proposta de mudança, que incluía a reeleição, mas 818 foram contra. E houve ainda cinco abstenções.

"A consolidação de projetos complexos, como a elevação de um clube de futebol aos mais altos patamares de gestão esportiva, financeira, social e de integridade, demanda tempo, tanto para sua a implementação, quanto para sua conservação, até o enraizamento sólido dos seus propósitos. Laurear boas gestões, que estejam alinhadas com os interesses e finalidades institucionais do clube, equivale a recompensar seus associados, como também, no caso específico, os torcedores, a história e o futuro do SPFC", diz o texto da reforma estatutária, ao qual o UOL Esporte teve acesso.

"É nesse sentido que, não para imputar, mas somente para não afastar indistintamente a possibilidade de continuidade de projetos e gestões, que se demonstrem efetivamente positivos e benéficos ao SPFC, é que se propõe que seja outorgada a possibilidade de a Diretoria Eleita concorrer à recondução imediata do mandado na eleição seguinte, balanceada, todavia, pelo limite máximo de uma única recondução", diz outro trecho, garantindo que só será permitida uma reeleição da gestão que já está no poder.

Por fim, quem é contra a proposta cita que esta é a segunda vez que a situação tentará alterar o estatuto do São Paulo neste ano. Em janeiro, os sócios do clube rejeitaram a mudança, que previa o retorno da reeleição para presidente, a ampliação do mandato dos conselheiros de três para seis anos e a possibilidade de conselheiros ocuparem cargos executivos sem remuneração, entre outros pontos.

"Vamos poder votar algumas [propostas] que eu acho que são absolutamente necessárias, como a redução do número de conselheiros vitalícios, a obrigatoriedade dos vitalícios terem uma presença mínima nas reuniões. Enfim, tem uma série de outras medidas que eu acho que deveriam ser incorporadas ao nosso estatuto. No próximo mandato de conselheiros nós vamos sim votar provavelmente uma nova reforma estatutária. E muitas das medidas que estão lá, elas possivelmente voltarão a ser votadas. Vou defender que serei favorável a essa reforma ampla porque eu acho que o nosso estatuto deve ser aperfeiçoado até porque o estatuto é uma coisa dinâmica né? Você não pode ficar com o estatuto 2016 e chegar em 2026 com o mesmo estatuto. No futebol nós tivemos várias alterações de modelo de gestão, de legislação. Então o estatuto tem que se adaptar a essa nova feição que o futebol acabou tomando para que a gente possa modernizar o clube, para que a gente possa dar um dinamismo maior ao clube e se desamarrar de certos conceitos que hoje não são mais prevalecentes dentro do sistema de administração de um clube", argumentou o presidente do Conselho Deliberativo do São Paulo.

A torcida Independente, principal organizada do São Paulo, criou um abaixo-assinado virtual questionando a mudança estatutária. As principais alterações apontadas na descrição da petição preveem o fim do Conselho Vitalício e o direito ao voto do sócio-torcedor que estiver em dia com seus pagamentos por três anos seguidos. Nestes moldes, a Independente não se posiciona contrária à reeleição.

Atualmente, apenas quem é associado ao São Paulo tem direito a voto nas eleições do clube.

"Isso deverá ser avaliado por essa nova possibilidade de alteração estatutária. Essa sim é uma reforma mais ampla. Isso se presume um estudo, a forma de você fazer. E esse pensar como fazer, eu acho que depende de uma uma amarração maior do que simplesmente incorporar o voto do sócio-torcedor. Nós temos que balancear o voto do atual sócio. Nós não podemos esquecer que hoje o atual sócio do São Paulo tem um direito que ele adquiriu comprando um título. Nós não podemos presumir que este sócio perca esse direito. No fundo ele é o dono do clube. O sócio-torcedor tem uma grande contribuição. Então nós temos que casar essas duas coisas e obviamente aperfeiçoando, melhorando a forma, a legitimidade de escolha dos mandatários. Eu não tenho a menor dúvida que o sócio-torcedor deverá ser incorporado com mais poder na escolha da administração", finalizou Olten Ayres de Abreu Júnior.

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