Rony diz não saber seu tamanho no Palmeiras: 'Só vou fazendo, depois vejo'
O Palmeiras precisa vencer o Athletico-PR hoje (6) para jogar sua terceira final seguida de Copa Libertadores, no fim de outubro. Se devolver a diferença de um gol, o jogo vai para os pênaltis. Se vencer por um placar maior, a vaga é do Alviverde.
Para sua sorte, o Palmeiras deve ter Rony no ataque.
Ademir da Guia, César Maluco, Edmundo, Evair e Dudu têm suas prateleiras bem definidas no alviverde, mas, na História do clube, ninguém sabe tanto quanto Rony balançar a rede no torneio que é a obsessão palmeirense.
Foram 18 gols na Libertadores, incluindo o que talvez seja o mais bonito entre todos os feitos pelo Palmeiras nos 61 anos da competição. Foi contra o Cerro Porteño (PAR), em 6 de julho, na goleada de 5 a 0 pelas oitavas de final, com uma bicicleta que rodou o mundo e arrancou aplausos até de torcedores adversários.
(Inacreditavelmente, ele faria outro gol do tipo no dia 27 do mês seguinte, contra o Fluminense, no Maracanã, pelo Brasileirão.)
Num final de treino, numa segunda-feira de agosto, Rony encontrou tempo para conceder uma entrevista ao UOL Esporte. Nela, entre risos, emoção e muita simpatia, ele revelou um pouco mais sobre o jogador em que os palmeirenses, hoje, aprenderam a depositar confiança e admiração.
Nem sempre foi assim. Rony teve dificuldades para convencer a massa palmeirense de que merecia vestir a camisa do clube, mas dobrou um por um os críticos, atingindo uma proporção na história alviverde que será melhor dimensionada no futuro. Hoje, nem o próprio Rony consegue mensurar.
"Meu pai mesmo toca nesse assunto. 'Você tem noção do que você já conquistou?' Meu assessor também fala, 'Você tem noção do que você já ganhou em mais ou menos três anos", conta ele.
"Aí, eu fico pensando. 'Não tenho, não' (risos). E até brinco: 'Eu só tô fazendo. Depois, eu vejo'", diz.
'É impossível ser triste"
A chegada de Rony a um local pode ser antecipada em pelo menos uns 15 segundos. Antes da figura sorridente do atacante forte e de baixa estatura de fato se aproximar de seu interlocutor, chega o perfume Angel, de Thiery Mugler, usado de modo generoso pelo jogador.
"Em um ranking de pessoas mais gente boa do clube, você fica em segundo, Ronielson. Só perde para o [segurança] TKS!", brinca com Rony um funcionário do clube que passava pelo local onde ele concedeu a entrevista, na Academia de Futebol.
Rony sorri, com dentes alvos de quem fez um caprichado tratamento dentário, mas que parecem bem mais naturais ao vivo do que pela televisão. Rony não é só o principal atacante do Palmeiras na temporada. É também uma unanimidade no grupo, conforme atestam aqueles que convivem com o Palmeiras no dia a dia.
"Eu não consigo chegar no Palmeiras triste, porque não é possível estar em um clube como esse né, vivendo tudo que eu tô vivendo, e chegar triste. Eu acho que isso é impossível", diz ele.
Rony acredita que parte desse seu jeito de ser também tenha vindo do período que ele passou no Japão, quando foi jogador do Albirex Niigata.
"[No Japão], as pessoas são muito carismáticas, tratam os brasileiros como reis. Mas não é só com a gente. Todo mundo trata todo mundo bem, não fazem diferença. A lembrança que eu tenho de lá é essa, todo mundo sorrindo, todo mundo te cumprimenta. Eu acredito que também eu trouxe isso de lá", afirma.
Um ícone fashion
A despeito do perfume, Rony não usava uma roupa das mais elaboradas, considerando seu estilo, quando concedeu essa entrevista. Quem o acompanha em redes sociais já percebeu que o jogador tem entrado cada vez mais fundo no mundo da moda.
Recentemente, Rony assinou contrato com a grife italiana Replay, que tem Neymar entre seus patrocinados e embaixador da marca. Não é incomum que Rony vá parar nos feeds de colegas em redes sociais por conta dos modelitos mais "fashion" com que chega para treinar.
"Eu tenho um gosto meu, gosto de curtir mais coisa apertada, né? O Scarpa já gosta de boca de sino, né, roupa de skate e tal. Ele falou que ele é de rua. E eu falei: então, tá bom", conta Rony, entre risos.
Privacidade da família
Mas Rony não tem um personal stylist. Quem o ajuda a escolher o que vestir é sua esposa. E se você não se lembra muito da fisionomia dela, tampouco de seu nome, saiba que isso é intencional. Rony não quer que sua família seja muito reconhecida.
"Até mesmo por causa do mundo como está né", diz. "Hoje não está muito legal para você ficar divulgando seus familiares. Hoje, minha esposa vai [passear e] ninguém sabe que ela é minha esposa. Ela vai em lugares que nem imaginam que ela é minha esposa, então ela não tem receio de andar e ficar olhando para trás", diz. "Não gosto de ficar divulgando, botando em redes sociais, não. É algo meu, mesmo."
O filho Rony Jr., porém, acabou aparecendo. Como maior incentivador para que o camisa 10 insistisse em tentar o gol de bicicleta, imagens dele foram parar nas redes sociais tentando ensinar ao pai como fazer.
Jogador de futebol não era profissão
Rony vive o melhor momento de sua carreira. Questionado gradativamente menos ao longo das temporadas, o atacante, que chegou ao clube em 2020, hoje é quase unanimidade também entre os torcedores.
Em especial depois do gol de bicicleta contra o Cerro Porteño (PAR), pelas quartas da Libertadores, na vitória por 5 a 0. O outro do gênero, contra o Fluminense, serviu só para chancelar.
"Foi incrível fazer dois gols seguidos de bicicleta. É algo que não tem explicação, é algo divino, ainda mais um gol tão bonito no Maracanã", contou Rony.
"Eu fiquei muito feliz por tudo isso. Vira e mexe, fico pensando nos gols, pois foi algo que eu busquei e trabalhei bastante para conseguir. Isso só me dá mais força para seguir caminhando com os meus companheiros rumo aos nossos objetivos na temporada", disse.
Nem sempre Rony teve a torcida tão ao seu lado. O começo no clube veio com muita desconfiança. Rony não só custou caro (R$ 28 milhões), mas custou também para fazer um gol pelo clube. Mas ele diz que aquele início difícil foi o mínimo de problemas que já passou na vida.
"Lógico que, no começo, você fica com um pouco de receio, né? Por ver vários jogadores que passaram pelo clube e, infelizmente, não tiveram sucesso. Gera um pouquinho de receio, mas o meu pensamento era só um, que eu tinha vindo para o Palmeiras para fazer história, para ganhar títulos, para ajudar a equipe a vencer. Esse era meu pensamento", disse.
O pensamento se concretizou com duas Libertadores, uma Recopa, uma Copa do Brasil e dois Paulistas. Um cartel grande para qualquer jogador, e que fica ainda mais admirável tendo vindo de alguém que nem imaginava que jogar futebol poderia ser uma profissão.
"Eu fui ter a intenção de me tornar um jogador, já com 16, 17 anos, quando cheguei num clube profissional, o Remo, em Belém do Pará", conta.
"Eu não sonhava ter uma uma profissão como jogador de futebol. No interior, você não tem esse recurso, né? Você não imagina [trabalhar com isso]. Ali, você trabalhava de roça, se ficar no interior. Ou, se conseguir, arrumar um emprego, numa prefeitura", diz.
"Eu tive que me virar, né? Fui ajudante de pedreiro. Mecânico de moto primeiro e depois fui mototáxi? E eu me virava para ter meu dinheirinho, né? Se eu não me tornasse jogador de futebol, eu ia me virar como ajudante de pedreiro. Então, eu gostava de fazer esse tipo de coisa, mas era algo que eu tinha que fazer para sobreviver", diz.
O sonho começou a ganhar solidez quando Rony veio com o Remo jogar a Copa São Paulo e se saiu bem, apesar de a campanha não ter sido das melhores.
"[Na volta], comecei a treinar no profissional. E então encontrei meu empresário, que hoje que eu considero como pai, que é o Hércules. Ele conseguiu me tirar do do do Remo e me botou no Cruzeiro. Foi minha primeira venda. Deu para construir a casa da minha mãe, e eu comecei a estruturar um pouquinho a vida da minha da minha família", diz.
De Belo Horizonte, Rony foi para o Náutico, em Recife, com um bom aumento de salário. E, de lá, para o Japão. Com a ida para o Niigata, veio então a primeira grande quantidade de dinheiro. Pouco tempo depois, ele chegaria ao Athletico-PR, de onde veio para o Palmeiras.
Até onde?
Rony chegou ao Palmeiras e, por um tempo, a pergunta era quando sairia o primeiro gol. Depois, veio a indagação sobre quando sairia o gol de bicicleta. O que vem na sequência? Qual a próxima meta?
"A meta é a cada ano descobrir uma coisa nova, né? Então, eu acredito que, depois da bicicleta, vou ter que descobrir coisas que eu vou tentar querer fazer né? No dia a dia, a gente vai descobrindo coisas novas 'pô, tem que fazer um negócio assim, vou fazer um negócio tal'. É tudo, como é que eu posso dizer, naturalmente", diz.
"Cara é um objetivo, né? Eu acho que todos os jogadores têm o objetivo. O sonho de ter o privilégio de estar representando meu país, né? E também de estar representando o meu estado, que é o Pará, minha Vila Quadros", diz.
"Se eu tiver o privilégio de honrar e vestir essa camisa [da seleção] com certeza eu vou dar o meu melhor, pode acreditar", afirma.
Por tudo que Rony já alcançou, não há por que duvidar que ele vá conseguir.
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