Fla x Vélez: briga em 95 rendeu bandeiras e ficou eternizada pelas torcidas
Flamengo e Vélez Sarsfield se encontram hoje (7), no Maracanã, em duelo decisivo por vaga na final da Libertadores. O novo confronto entre as equipes traz à memória o primeiro jogo em solo brasileiro, que aconteceu há quase 30 anos, e iniciou uma rivalidade que atravessa o tempo. Em campo, triunfo rubro-negro com a digital do "melhor ataque do mundo" e uma pancadaria que ficou eternizada em bandeirões.
Na atual temporada, o Fla pisa nas quatro linhas com uma boa vantagem após a vitória por 4 a 0 no José Amalfitani, na última semana. O resultado positivo na casa do adversário teve o brilho de Pedro, que marcou três vezes — Everton Ribeiro fez o outro.
Para entender melhor o contexto que distingue Flamengo x Vélez é preciso voltar a 1995 e à extinta Supercopa, competição que reunia os clubes que já tinham conquistado a Libertadores e que foi organizada entre 1988 e 1997.
No ano do centenário, o Rubro-Negro vivia temporada amarga e atravessava uma crise, com trocas de técnicos, mas, ainda assim, chegou à final do torneio da Conmebol. Nas oitavas, encontrou o Vélez e o primeiro jogo, em Buenos Aires, marcou a estreia do radialista Washington Rodrigues, o Apolinho, como comandante da equipe.
À época, o time argentino era comandado por Carlos Bianchi, contava com nomes como o goleiro Chilavert e o volante Basualdo, e vivia época de grandes conquistas, como a Libertadores de 1994. Não à toa, e diante do cenário na Gávea, os hermanos eram considerados os favoritos.
Na Argentina, vitória brasileira por 3 a 2. E se o jogo desta noite será no Maracanã, naquela ocasião o palco da volta foi o Parque do Sabiá, em Uberlândia, Minas Gerais. Com gols de Sávio, Edmundo e Romário, integrantes do "melhor ataque do mundo", o Rubro-Negro venceu por 3 a 0 e assegurou a classificação.
Com o resultado consolidado, já nos acréscimos, Edmundo tentou fazer uma jogada em cima do zagueiro Zandoná, que acertou uma cotovelada no atacante. O então camisa 7 passou a mão no supercílio, sangrando, e devolveu um tapa. O argentino deu outro tapa e, após o Animal se virar de costas, acertou um soco, que fez o brasileiro ir ao chão. Foi o estopim para uma batalha campal.
Romário, em defesa do então companheiro, deu uma "voadora" em um adversário em meio à briga entre integrantes dos dois elencos.
Tanto o soco de Zandoná quanto a voadora de Romário viraram imagens de bandeirões das respectivas torcidas, e são usadas de maneiras provocativa por ambas a cada encontro.
No lado do Flamengo, a bandeira foi iniciativa da Urubuzada, uma das organizadas do clube da Gávea, no ano passado, para o confronto pela fase de grupos da Libertadores. À época, com os estádios sem torcida devido às medidas em meio à pandemia do novo coronavírus, a ideia foi deixar um apoio à equipe e, ao mesmo tempo, uma provocação aos adversários.
Foram levadas, além da bandeira em alusão à agressão de Romário, outras duas que lembravam o drible de Rodrigo Mendes que deixou Zandoná caído no gramado. As peças, porém, foram vetadas pelo Bepe (Batalhão Especializado de Policiamento em Estádios), após pedido da Conmebol, mas há o preparo para que estejam presentes novamente, agora neste novo contexto de arquibancada cheia.
No caso do Vélez, como contou o UOL Esporte em matéria publicada em 2021, o "trapo", que é como os argentinos chamam as bandeiras feitas manualmente pelos seus fanáticos, estreou nos estádios no início de 2020.
A iniciativa foi do pequeno grupo de (cerca de 40) torcedores denominado "100 barrios", em alusão à célebre canção portenha da década de 1940 reforçando que Buenos Aires tinha cem bairros (quando na verdade tem 48). A bandeira foi confeccionada por quatro torcedores — dois nem sequer eram nascidos quando aquela partida aconteceu.
"Este é um dos momentos mais comentados por nós, não deixamos ninguém tirar sarro da gente, todo aniversário do lance [3 de outubro] nos juntamos para comemorar, é o nosso 'Zandonazo'", dizia a mensagem mandada por Rodolfo Castillo, um dos responsáveis por fazer a bandeira, à coluna de Tales Torraga.
Não se arrepende
Ao UOL Esporte, em 2016, o zagueiro Zandoná disse não se arrepender do ato naquela partida de 1995, e afirmou ter se sentido "provocado".
"Nesta altura da vida, é claro que olho para trás e não tenho arrependimentos. Carregar arrependimentos é uma forma muito triste de se viver. Não me orgulho e nem me arrependo deste episódio. Eu me senti provocado. E qualquer um que provoca precisa saber que isso vai gerar consequências", disse, na oportunidade.
Ele esteve no estádio José Amalfitani, na última quarta-feira, quando o Flamengo venceu por 4 a 0, e, em novo contato com o UOL Esporte, reforçou tal sentimento.
"Eu dei com tudo, mesmo. Não me arrependo, não mudei nada do que penso e já disse", afirmou o "Chinês", como é seu apelido em espanhol ("Chino"), pelos olhos levemente puxados.
O ex-zagueiro confirmou também algo que foi revelado por Basualdo e Gómez. Ao voltar ao hotel em Uberlândia, depois da briga com o Flamengo, vários torcedores brasileiros foram ao local para parabenizar Zandoná pela agressão, segundo os seus dois amigos, surpresos com a rejeição de Edmundo perante os próprios compatriotas. "Mas não conversei com ninguém, cheguei e me tranquei no quarto. Não queria papo, mas soube sim que foram até lá e queriam me dar os parabéns."
O argentino continuou dizendo que pelo soco em Edmundo ganha presentes e descontos na Argentina —e até no Brasil, incluindo também a sua família. "Minha mulher e minha sobrinha estavam em um hotel de Florianópolis, e quando o dono percebeu o sobrenome, perguntou se eram meus parentes. Responderam que sim, e ganharam 15% de desconto porque o dono não gostava do Edmundo. Na Argentina, eu até entendo quem queira me dar alguma coisa, mas no Brasil, realmente, é uma surpresa", contou.
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