R Ceni volta a citar atrasos, abre mão de dinheiro e quer Sul-americana

No empate com o Corinthians em 1 a 1, neste domingo, Rogério Ceni chegou a 112 partidas como treinador do São Paulo e só está atrás de Muricy Ramalho como o técnico que mais treinou o clube neste século.

Somadas suas passagens como jogador e treinador, Ceni tem mais de 30 anos defendendo as cores do São Paulo. Com essa experiência, ele analisou o momento atual do clube.

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"Eu tento fazer o meu melhor todos os dias, porque passei a minha vida aqui. Aqui onde a gente está aqui, tinha dois orelhões, você tinha de ficar em pé e esperar a sua vez. Andar pelo Morumbi todo escuro. Hoje o Morumbi é moderno. Eu vivi as glórias de 92/93, 94, aí [queda] em 95, 96, 97, o Paulista de 98, depois 2000, a classificação para a Libertadores, semifinal com o Once Caldas, campeão do Mundo e da Libertadores em 2005. Eu vivi tudo, porque eu gosto deste clube."

O técnico seguiu: "Você acha que eu trabalho aqui pelo meu salário? Você acha que eu estou preocupado com os meses que estão atrasados de imagem? Se não tivesse ganho na quinta-feira, eu vou embora porque eu não sirvo mais. Estou aqui para ajudar. Se eu não sou o cara certo, treinador no Brasil tem de monte. Você acha que eu estou preocupado com a minha multa rescisória? Façamos o seguinte. No dia 1º [de outubro], se não ganhar, eu abro mão da minha multa rescisória e vou embora sem problemas", afirmou Ceni.

A final da Copa Sul-Americana está marcada para o dia 1º de outubro, em Córdoba, na Argentina. Até lá, Ceni espera que o São Paulo consiga ter tranquilidade para se concentrar apenas no jogo contra o Independiente del Valle-EQU, o rival na disputa do título.

Discurso para os mais jovens

Ao falar sobre os motivos que o mantém ligado ao São Paulo, Rogério primeiro foi muito firme.

"Amo, adoro o São Paulo. Tenho o maior prazer do mundo em vir trabalhar aqui. Com todas as dificuldades que têm todos os dias e tento convencer esses caras de que o São Paulo tem uma história gigantesca e que as coisas um dia vão entrar nos trilhos. Agora com a venda do Antony, e a promessa, acho que vão conseguir resolver tudo. Você acha que estou aqui pelo dinheiro que recebo por mês? É sério, quando fui para o Fortaleza, fui pelo desafio."

Depois, entre risadas, brincou com uma das polêmicas recentes do futebol brasileiro, a entrevista coletiva em que o rival deste domingo, Vítor Pereira, afirmou que tinha muito dinheiro.

"Não vou dizer igual o Vitor Pereira, que tem muito mais dinheiro do que eu, porque ganha em euro, com todo o respeito e admiração que tenho por ele como profissional. Mas a minha conta não é igual a do Vitor Pereira. Sou um apaixonado por aquilo que eu faço. Acha que é todo treinador que vem e coloca dez caras diferentes para jogar contra o Corinthians, sem lateral esquerdo, sem nada", enfatizou Ceni.

Análise do clássico

"O Corinthians teve mais oportunidades reais. Tivemos que tomar o gol para começar a jogar. Tomamos o gol, começamos a jogar e fizemos um resto de primeiro tempo bom. Empatamos e tivemos domínio. O segundo foi equilibrado até certo ponto, depois o Corinthians teve duas ou mais chances. Eles tiveram mais chances reais. Essa análise pode ser feita"

"Não vi o pênalti, da onde eu estava, o término da falta foi dentro da área, ele [Gil] puxou, foi pênalti. Acabei não vendo, acho que a penalidade foi bem marcada"

Escolha por reservas

"Os jogadores estão muito cansados. Eu queria colocar todos eles, mas eu tinha chances de lesão. Tudo que tinha no elenco, com exceção do Léo, que não foi convocado pois estava muito cansado, estava aqui hoje. Vamos fazer o que é possível. Estamos fazendo o máximo que é possível. Não adianta manter os 11 e eles se machucarem. Sei que estamos em situação apertada, mas prefiro ter energia para competir com o Corinthians. Eu não estou satisfeito, estou jogando na minha casa, quero o resultado, mas eu tenho os limites físicos dos atletas. Eu converso com eles. Ninguém conseguiu treinar ontem por cansaço. Fizemos o melhor time que tínhamos para hoje e competimos durante a maior parte do tempo. Entendo as pessoas que falam de colocar o time completo, porque o Brasileirão está difícil. Mas está todo mundo exausto."

Vaias a Igor Gomes

Defendido também por Rafinha na saída de campo, Igor Gomes recebeu apoio do treinador depois das vaias da torcida.

"O máximo que posso dizer para ele é que já fui vaiado aqui e sobrevivi. Situações distintas, jovens, tem um futuro indefinido aqui. Vai ter que ter forças e saber lidar com a situação. A gente precisa dele em determinados jogos, e ele tem que ter cabeça boa. Vai ter que reverter isso com gol, assistência, participação e jogo decisivo. A cada minuto que tiver em campo, vai ter que reverter. Lamento que ele passe por isso. Ele não foi o jogador que menos rendeu em campo, mas são estigmas que carregamos na vida"

Galoppo e Colorado

"Ele, Colorado, se cobra muito, tendo uma oportunidade na vida, custo baixo, oportunidade que tem na vida, cada minuto que ele tem ele se cobra, comete um erro ou outro, ele saiu chateado, por conta da cobrança dele consigo mesmo"

"Galoppo, ele gosta do lado esquerdo, mas hoje ele não tinha um companheiro que passava, era um cara que tinha de resolver, que se entrega, que se dedica todos os dias, não é por isso que não será escalado"

Pressão nos goleiros

"Times que ganham há menos tempo, dão mais sustentação aos seus profissionais. Jandrei e Felipe Alves são bons goleiros. Mas em um time que não é campeão tem mais cobrança. Qualquer erro, para eles mesmos, gera insegurança. Se é campeão, passam a ser bons. Jogadores que vieram com custo baixo, dentro das possibilidades do clube, e que entregam [desempenho]. Jandrei foi bem contra o Palmeiras [na Copa do Brasil], e vai ter a oportunidade de provar novamente o seu valor contra o Flamengo. São bons profissionais"

Cabeça na final da Sul-Americana?

"Primeiro, é muito difícil tirar do jogador o pensamento na final. Ele já está cansando, perna pesada, Você põe ele mesmo assim, com risco de se machucar e depois você carrega a culpa? Tivemos o Corinthians, e agora o Flamengo. Por mais que esteja difícil, não iria com o time reserva nunca [enfrentar o Flamengo]. Se eu tiver 5% de chances [de classificar para a final da Copa do Brasil], eu vou atrás. E quem trabalha comigo, tem de pensar assim também"

"Não tive tempo, não tem como pensar no Del Valle. Na semana que antecede o jogo com o Avaí, teremos uma semana livre, aí vamos preparar o time para o jogo do Avaí e também o Del Valle. Trabalhar a linha defesa com quatro jogadores, com três jogadores. Mas enquanto a gente trabalha, tem alguém assistindo tudo sobre o Del Valle, procurando padrões, por onde joga, se o volante 'baixa' para fazer a saída de bola. Tudo para fazer resumo e conteúdo para estudar pensando na final"

A importância da conquista

"O São Paulo está em uma situação difícil e esse título mudaria muito a história. Precisamos nos ajudar. Eu nem sei quanto eu recebo por mês exatamente. Os caras são ponta firme, vão acertar tudo, mas no momento está difícil. Vamos tentar fazer o melhor para ser campeão, trazer a honra e orgulho de ser são-paulino de volta. É meu compromisso, tentar fazer o São Paulo campeão. Se não der, não precisa me dar dinheiro nenhum. Se quiser continuar, continuamos. Se não, vou seguir na torcida"