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OPINIÃO

Casão sobre fala de Lucas Moura: 'Que família é essa eles defendem?'

Do UOL, em São Paulo

15/09/2022 19h59

Em um cenário onde poucos jogadores de futebol se manifestam politicamente, Lucas Moura, do Tottenham, declarou apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), se dizendo conservador, defensor dos princípios cristãos e da família. Na estreia do programa Dois Toques, Casagrande e Milly Lacombe comentam a declaração do jogador e questionam a que família ele defende.

Milly diz que a base da família que muitos citam como ideal é a da hipocrisia, pontuada muitas vezes pela homofobia, hierarquia e o racismo. Casagrande também questiona e ressalta que não basta dizer que defende a família, quando na prática existe uma opressão.

"Sempre vem um discurso em defesa da família, o que é a família, essa família tradicional? Existe uma hierarquia dentro dessa família, essa família, como é vendida, quando o Bolsonaro usa o lema integralista 'Deus, Pátria e Família', essa família tem cara, tem cor, tem sexualidade e que tem principalmente hierarquia. Dentro dessa família, o homem manda, a mulher obedece e filho só pode ser heterossexual. Essa família tem pai, tem mãe e tem filhos, que obedecem também. A família brasileira não é essa, essa família não existe na realidade", diz Milly.

"Eu queria saber como que é o comportamento dele dentro da própria família, é a mesma família que o Bolsonaro defende? Porque o cara pode chegar e 'eu defendo a família'. Ok, eu aceito, explica como se relaciona a sua família, como que gira dentro da sua casa? Como é o comportamento seu, da sua mulher e dos seus filhos? Como é que funciona? Porque lá na família Bolsonaro a gente sabe como funciona, é gritar, ofender mulheres, ameaça, tem falas racistas, homofóbicas, essa é a família que o Bolsonaro defende. É a mesma que o Lucas Moura defende?", questiona Casagrande.

Veja o que mais rolou de interessante na opinião dos colunistas do UOL:

Casagrande: A Democracia Corinthiana não deixou legado

Um dos times históricos do futebol brasileiro foi a Democracia Corinthiana, que contava com Casagrande, Sócrates e Wladimir, um movimento que ia além dos gramados, se engajando politicamente contra a ditadura militar no Brasil. Casagrande afirma que sempre é abordado em entrevistas internacionais a respeito do time, mas não vê eco nos dias atuais.

"Ela não deixou legado porque as pessoas vão falar da Democracia Corinthiana, vão falar da democracia atual e falam dos jogadores que não se posicionam ontem, buscando os mesmos caras da Democracia Corinthiana. Quando vai se entrevistar sobre posicionamento político de jogador de futebol, os jornalistas vão buscar a gente lá da Democracia Corinthiana lá atrás, de 1985, que acabou Democracia Corinthiana, até hoje, ficou um vácuo democrático dentro do futebol brasileiro, acabou, o futebol voltou a ter o comportamento antigo".

Casagrande: Se revoltam com quadrinho e não com um condenado por estupro

Dois ex-jogadores da seleção brasileira de vôlei chamaram a atenção com publicações nas quais criticaram revista em quadrinhos devido a um beijo gay do filho do Superman e ao desenho animado Peppa Pig. Casagrande comenta os episódios de homofobia, enquanto não há a mesma indignação como casos como o de Robinho, que foi condenado a nove anos de prisão por estupro na Itália, mas não cumpre pena no Brasil.

"Sabe qual está sendo o grande problema dessa turma homofóbica de uns tempos para cá? Desenho animado e história em quadrinhos, isso aí é um problema sério, nós temos que analisar. O beijo gay do filho do Superman criou um problema sério na cabeça do Mauricio Souza, ele ficou revoltado com aquilo, ele não se revolta, por exemplo, com arma na rua, os caras matando as outras pessoas, ele não se revolta, com o Robinho condenado a 9 anos de prisão na Itália por estupro e passeando na praia, isso não revolta o Mauricio Souza, não revolta a Tandara".

Milly Lacombe: Violência no Brasil não se deu da noite para o dia

A jornalista Vera Magalhães foi intimidada pelo deputado Douglas Garcia (Republicanos) após o debate para governador do estado de São Paulo organizado pela Folha de S.Paulo, TV Cultura e UOL na última terça-feira (13). Milly Lacombe chama a atenção para a escalada de violência na política brasileira, ressaltando que o estágio atual se deve à falta de medidas em episódios ocorridos nos últimos anos.

"O Bolsonaro no salão verde da câmara disse para a deputada Maria do Rosário, 'só não te estupro porque você não merece' e não aconteceu nada com ele. (?) A gente devia ter se manifestado lá atrás, uma pessoa como ele tem que ser expurgada da vida pública, acabou, não tem diálogo, não tem como dialogar com quem elogia estupro. Não fizemos isso e agora a Vera Magalhães virou o alvo ofensivo do Bolsonaro, então a ela a gente tem que prestar toda a solidariedade do mundo, não pode isso, todo respeito, solidariedade, força, porque é difícil você ser alvo", conclui.

O Dois Toques vai ao ar toda semana, com a análise de esporte e política com Casagrande e Milly Lacombe

Quando: Toda quinta-feira, às 19h

Onde assistir: Ao vivo na home do UOL, no UOL no Youtube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa:

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL