Abel diz que seleção 'fez mal' a Danilo e cria pacto sobre arbitragem
O técnico Abel Ferreira, do Palmeiras, afirmou que o fato de Danilo ter sido convocado para a seleção brasileira "fez mal" ao jogador de 21 anos, cria das categorias de base da equipe paulista.
Em entrevista coletiva concedida após a vitória sobre o Santos na noite de hoje pelo Campeonato Brasileiro, o português revelou que teve conversas com a direção paulista assim que o volante foi chamado por Tite, mas que "não manda" nas decisões do clube.
"Sei perfeitamente que os jogadores com 16, 17, 18, 25, 30 anos precisam que nós acreditamos neles. Como é o Lopez, o Rony... temos que ajudar e perceber que esses jogadores trabalham muito e que é normal, em qualquer jogador, passar por fases boas e más. Sobre o Danilo: fez muito mal a ele ter ido à seleção", iniciou Abel ao falar do atleta, que foi expulso no clássico paulista ainda no início do 2° tempo.
"Lembro que tive uma conversa internamente com o clube e expressei minha opinião em relação à ida dele, mas não sou eu quem mando [no Palmeiras]. Ele está passando por uma fase menos boa, isso faz parte", prosseguiu o técnico em seu raciocínio.
Questionado sobre uma possível coincidência entre Danilo e Gabriel Menino, que também entrou em baixa após uma convocação da seleção, Abel classificou a questão como peculiar de atletas brasileiros.
"Já falei diretamente que o brasileiro tem uma qualidade técnica acima da média, mas precisa melhorar na formação individual e pessoal. Ele [Danilo] saiu do campo muito chateado porque sabe que cometeu um erro. Primeiro porque tentou cortar a bola, e depois porque pisou e foi muito bem expulso. Isso faz parte da vida e do crescimento de um jogador: saber lidar com momentos altos e baixos."
Pacto com imprensa
Também expulso da partida após receber dois cartões amarelos por reclamações à arbitragem, Abel firmou o que chamou de "pacto" com a imprensa: não falar sobre a atuação dos juízes.
"Em relação a minha expulsão, vou fazer um pacto: vou deixar de falar dos árbitros, já falei tudo o que tinha que falar. Não vale a pena. Sempre que me perguntarem sobre os árbitros, vou evitar falar. Eles é que mandam, não adianta e não vale a pena", pontuou ele, esclarecendo que tomou o vermelho após duas advertências com amarelo.
Veja outras declarações de Abel
RAIO-X DO JOGO
O jogo de futebol é tão mágico e tão imprevisível que ficamos mais atrevidos com um a menos. Vi, mais uma vez, a força e o caráter desses jogadores que sabem que não fizemos um bom 1° tempo. Não foi o nosso normal, não criamos oportunidades e não fomos agressivos. Sei que, quando há troca de treinador, a equipe que está trocando tem sempre uma moral extra para o próximo treinador ver com quem pode contar, No Brasil, não há jogos fáceis, é o campeonato mais equilibrado do mundo. Foi um jogo do caráter, de mentalidade competitiva da nossa equipe e uma vitória, para mim, justa.
ENDRICK
O clube tem um plano para este jogador. No ano passado, eu queria trazer [para o time principal], mas o clube achou que ele não tinha idade e ele não tinha renovado contrato. O clube tinha um plano de acertar tudo primeiro para fazer as coisas direitinho. O clube decidiu que ele nem sequer devia treinar conosco para segurar o jogador, deixar ele fazer 16 anos e renovar para evitar qualquer problema. Quando ele fez 16 anos, começou a competir no sub-17, agora vai trabalhar aqui em cima para esperar surgir a oportunidade. Ele é centroavante, temos Rony, Merentiel, Lopez, Navarro... ele vai fazer o caminho natural dele. São vocês [imprensa] que criam expectativas, ele é muito tranquilo e maduro. As coisas vão acontecer no tempo certo, não há data programada. Temos muito cuidado para não acontecer como aconteceu com alguns. Damos todo suporte para ajudar. Não me voltem a falar sobre isso, fui muito específico e claro. Ele vai fazer o plano que está traçado pelo clube.
VANTAGEM NA TABELA
Já disse que nós, no Brasileirão, falamos no jogo a jogo. É fazer três pontos e somar. Não vou alterar nada em relação ao nosso plano. Queríamos ganhar a Copa do Brasil, mas fomos eliminados. Queríamos ganhar a Libertadores, também não conseguimos. Agora temos que lutar jogo a jogo por essa competição. Sabemos que é muito difícil, não há jogos fáceis no Brasil. Vocês tem o Vitor Pereira [técnico do Corinthians] que teve uma declaração sobre isso. Não há nada como sentir o que é isso aqui e perceber como é duro triunfar neste campeonato.
SOTELDO
É um jogador muito criativo, com bola é muito bom. Ele é desequilibrador, tem características muito interessantes, mas não é nosso. Só para dizer que é um bom jogador.
TÍTULO BRASILEIRO
Eu faço aquilo que gosto, os títulos são consequências. Os títulos, pra mim, significam as relações que crio com minha equipe e com os torcedores. Mesmo eliminados de duas competições, os torcedores apareceram aqui em massa no estádio. Os títulos não são só medalhas, são relações com as pessoas. Eu sou assim. O que me faz ficar é a relação e identificação que tenho com o clube. Eu não lembro da 1ª taça da Libertadores, lembro das coisas, do trajeto... eu não ando aqui à procura de títulos, mas sim para ser feliz na minha profissão e fazer feliz quem trabalha comigo. Eu, quando cheguei, não prometi títulos. Prometi trabalho qualificado. Foi a única coisa que prometi. Quero ser melhor todos os dias e quero fazer meus jogadores melhores. Se isso der título, top. Se não der títulos, mas entregarmos tudo, é sucesso. É dormir com a consciência tranquila que dei o melhor.
PARTE PSICOLÓGICA
É muito difícil ganhar e continuar ganhando aqui no Brasil. Temos exemplos de quem ganhou e que não está bem hoje. Não sei se vamos ganhar ou não, mas sabemos a forma com que fomos eliminados da Libertadores e na Copa do Brasil. Na Copa, desculpem, mas não vou engolir. Temos que aceitar porque é futebol, mas não vou engolir. Os meus jogadores sabem o que fizeram. No que depender nós, fizemos tudo. Estamos juntos quando ganhamos ou perdemos, é isso que nos faz a experiência de encarar esses momentos. O jogo no 1° tempo passou muito por passes errados, nosso adversário não foi muito agressivo, fechou-se bem e transitou bem... não fomos a equipe que costumamos ser desde o início. Quando você precisa ganhar, um passe errado nos ajuda. Eu disse no intervalo: 'tenham calma, façam bem as coisas simples'. Por incrível que pareça, começamos a jogar melhor com um a menos. Foi o que eu senti. Com ajuda dos nossos torcedores, que começaram a cantar, veio uma energia extra. Esse jogo trouxe ensinamentos e o aprendizado que, daquilo que controlamos, podemos fazer melhor. É isso que passo aos jogadores: é ser melhor hoje do que o que foi ontem.
MAYKE E MERENTIEL
Tenho que reconhecer que ele [Mayke] tem entrado bem. É uma posição em que tenho dois grandes atletas, é uma boa dor de cabeça. Eles estão no mesmo nível. Sobre o Merentiel: há coisas que têm força e que são invisíveis aos olhos. Eu não sei explicar. Sei dizer que estes jogadores trabalham em prol de um bem maior: a equipe. É o que sinto. É vocês verem o Dudu fazer um pique para trás antes de eu tirá-lo. Quando vejo o Dudu se comprometer desta forma, é algo muito maior do que o que podemos ver. É algo que eles criaram entre eles, uma irmandade. Isso você sente, e nossos torcedores sentiram. É energia. Mesmo quando fomos eliminados, fomos aplaudidos. Eu peço ao jogador que entregue tudo. Quando eles fazem isso, o torcedor reconhece. É o caso do Merentiel. Com paciência, tudo vai se encaixando.
DANILO EM BAIXA
O problema não é quando vem para baixo, é normal... é como encarar aquilo para dar a volta por cima. Da minha parte, eles terão toda minha ajuda, é minha missão como treinador ajudá-los nos momentos difíceis. Quando eles estão bem, na crista da onda, a onda leva. Gostei muito de ver o Menino falando sobre sua volta por cima, é o primeiro passo para dar a volta. A seleção é apenas um reconhecimento do trabalho deles, mas é preciso ver o que trouxe ele até lá. Ninguém admite que um jogador de seleção jogue mal, mas todos vão jogar em alguma hora. Eles têm todo o meu apoio. Vou dizer o que gostam e o que não gostam de ouvir. Faz parte. Ele cometeu um erro hoje, mas acima de tudo, isso vai fazê-lo melhor no futuro.
PLANEJAMENTO PARA 2023
O Palmeiras precisa de bons jogadores que ajudem os outros. O elenco que tenha os melhores jogadores não significa necessariamente que tenha o melhor time. O futebol é um jogo de equipe, não individual. Eu sou treinador de projetos. Enquanto este casamento durar, que seja intenso. Eu tenho minha mulher há muitos anos, desde que comecei a namorar, com 18 anos. Tem muito a ver com isso. Não é troca, troca, troca, não sou assim. Respeito quem é, mas sou treinador de projeto. Não vamos fazer muitos retoques, mas isso acontece em todos os anos, é manter a estrutura. Vocês olham para as melhores equipes do mundo e veem isso, trocam só dois ou três jogadores por ano. Quando quem manda sabe o que tem que fazer, sabe que o processo tem coisas boas e duras... o Palmeiras tem esse caminho. Aqui, você tem tudo: tem a possibilidade de lutar por títulos, tem condições de trabalho... por isso trouxe minha família para cá. Não posso me queixar da parte financeira, acho que tenho mais daquilo que mereço.
SANTOS
Os times aqui são bons, vi o jogo do São Paulo contra o Flamengo: que jogaço! O problema aqui é consistência. O Fluminense faz jogos espetaculares. Flamengo, Corinthians, top... o Santos, hoje, foi top. Não sei se é consistência dos líderes por apostar nos treinadores ou dos jogadores que são bons. A dificuldade é essa: é possível o primeiro colocado perder do último. Só aqui que vocês veem isso. No futebol, tem que acreditar. Minha mulher é religiosa, eu mais ou menos, às vezes faço perguntas. Ela fala: ou acredita, ou não. A partir do momento em que dúvidas são criadas, é porque não acredita. Ou nós acreditamos no que estamos fazendo, ou não acreditamos.
CUCA NO PRÓXIMO JOGO
Vou fazer uma crítica construtiva à imprensa. Quando falo um minuto e vocês tiram dez segundos para mostrar ao Cuca àquilo que disse, vocês esqueceram que eu falei que era um dos melhores treinadores. Foi só o que falei sobre jogar por dentro e por fora. Não tenho e nem quero ter inimigos, não posso julgar pessoas que não conheço. Às vezes acho piada quando me julgam, nem me conhecem! Quando você fala mal de alguém, fala mais de você do que outra pessoa. Mas eu entendo, dá clique, dá confusão, é o que vende... não é só no Brasil, até em Penafiel. Só muda a dimensão. Eu não tenho nada contra ninguém e nem quero ter. Gosto de competir com meus rivais dentro das quatro linhas. Não tenho por norma cumprimentar o treinador, isso não faz de mim melhor ou pior. Isso vem de sempre. Sinto que, se eu for cumprimentar o adversário, fico com menos força. Eu quero ganhar do meu adversário, não quero fazer amizades, parece que me amolece. Os elogios me amolecem, eu não quero elogios, quero críticas. Não quero que falem bem do meu trabalho. Não penso assim. Tenho que me sentir tenso e nervoso, isso me faz competitivo. Se vou cumprimentar meu adversário, me tira a força, e não quero. No final, podemos fazer tudo, almoçar, sair... Não tenho nada contra ninguém. Admiro muito o treinador brasileiro porque é muito difícil triunfar aqui.
PROPOSTAS PARA SAIR
O mais forte é invisível aos olhos, vocês não me conhecem. Ninguém me conhece como homem, só como treinador. Só meus jogadores e minha família me conhecem. Enquanto o casamento durar, e da minha parte vai durar, vou vivê-lo de forma intensa. Na saúde e na doença, na tristeza e na alegria. Se querem mais prova do que trazer minha família aqui... não vou trocar de casa por isso ou aquilo. Os grandes clubes têm grandes treinadores, e eu estou em um grande clube.
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