Palmeiras tem 89% de chance de título, mas o que isso significa na prática?
As chances de o Palmeiras ser o campeão brasileiro de 2022 são altas. É o que dizem sites como o Probabilidades no Futebol (89,8%), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Five Thirty Eight (79%) e o Infobola (87%). Mas o que isso significa na prática?
Calcular chances como a de título do Palmeiras incorre em uma parte da matemática chamada "Probabilidade", que tem como objetivo prever a chance de determinados acontecimentos de fato acontecerem. No caso de um campeonato, a chance de título é calculada a partir das tendências de resultado moduladas com análises de desempenho.
Mas não é algo simples, direto e reto. Para entender o cálculo, o UOL Esporte entrevistou Gilcione Nonato Costa, doutor em Matemática e professor da UFMG. Costa é o criador do Probabilidades no Futebol. E para explicar o seu método, ele inicialmente lançou mão de um exemplo bem simples: uma moeda.
"Uma moeda sem diferença de peso em um dos lados (honesta) lançada ao ar uma vez pode mostrar cara ou coroa. Quando ela cair, eu vou ter uma amostra de um dos lados, digamos, por exemplo, cara", disse Costa. "Mas eu não posso dizer que a chance de aquela moeda dar cara é de 100%, porque eu só fiz um lançamento", explica.
Para definir o percentual de chance, é preciso fazer vários lançamentos da moeda. E a tendência é que os percentuais se aproximem da precisão quanto mais vezes ela for lançada. No caso de uma moeda, o esperado é que ao final de muitos lançamentos, verifique-se 50% de probabilidade de cara e 50% de coroa.
Vale o mesmo para um dado honesto de seis faces, o dado comum. Após muitos lançamentos, a soma dos resultados deve trazer um número semelhante de aparições de cada face. O que significa dizer que cada lado tem uma chance em seis de aparecer, com o mesmo percentual. Uma probabilidade de 1/6.
A lei matemática aplicada nos exemplos acima chama-se "Lei dos grandes números". De modo bastante simplista, tal lei diz que quanto maior o número de repetições de um experimento — no caso, lançar moedas ou dados —, maior a chance de precisão da probabilidade calculada estar correta.
É esse princípio que a UFMG aplica nos seus cálculos de probabilidades de conquista de título. Só que como cada jogo acontece apenas uma vez em cada rodada, os matemáticos da universidade simulam cada partida 2 milhões de vezes, por meio de um programa de computador desenvolvido na universidade.
No caso dos 89,8% atribuídos ao Palmeiras, isso significa dizer que depois de todas as partida, até o fim da tabela, serem simuladas em computador 2 milhões de vezes, moduladas pela análise de desempenho, o Verdão saiu campeão e 89,8% dos cenários possíveis.
Efeito "Vingadores: Ultimato"
Não há grande risco de spoilers, porque estamos falando de um filme de 2019. Mas, se você ainda não assistiu a "Vingadores: Ultimato", eu vou revelar a você que o vilão Thanos morre no final, após o Homem de Ferro se sacrificar para matá-lo.
O herói mártir toma essa decisão depois que o Doutor Estranho, um herói que conseguia prever as infinitas possibilidades de futuro, ter verificado que o único jeito de os mocinhos saírem vitoriosos e salvarem o planeta era se o Homem de Ferro se sacrificasse.
No caso acima, falávamos, portanto, de uma probabilidade muito baixa de vitória dos Vingadores. Mesmo assim, Thanos acabou morto. Vale o mesmo para o Brasileirão.
Tomemos como exemplo o próximo jogo do Palmeiras na competição, contra o Atlético-MG.
Com base no desempenho dos dois times, Costa e a UFMG calcularam que o Palmeiras tem 32% de chance de vitória, e o Galo tem 11%. E há 57% de chance de um empate acontecer.
Esse cálculo leva em conta uma série de variáveis objetivas, como o desempenho do Palmeiras como visitante, e o do Galo como mandante, como os times se saem contra rivais da parte debaixo ou da cima da tabela, média de gols, entre outros, que geram ponderações que interferem no cálculo final.
"Peso de camisa, tradição, desfalques, juiz, clima e etc não entram nesse cálculo, porque são dados subjetivos", explica o matemático Gilcione Costa.
A partir do cruzamento dos desempenhos dos dois times de cada jogo, com base nas variáveis acima, os matemáticos chegam às probabilidades de cada partida.
Cada jogo é "jogado" 2 milhões de vezes no computador. E, a partir dos resultados de todos os jogos cruzados, chega-se às probabilidades do campeonato, tais como título, vaga em copas e rebaixamento, entre outras ao fim de cada rodada.
Um Elifoot da vida real
Como no videogame Elifoot, para os mais antigos, ou Football Manager, para os mais jovens, o pessoal da UFMG não vê o jogo acontecendo 2 milhões de vezes, mas o computador os simula com base nas estatísticas dos times até aquele ponto do campeonato virtual.
As 2 milhões de simulações são aplicadas a todos os jogos de cada rodada e aos jogos vindouros de todos os times até o fim da tabela, com base em dados de desempenho atualizados a cada partida. E, portanto, variam de um jogo para o outro, dependendo dos times em campo.
A probabilidade de vitória do Palmeiras em casa contra o Botafogo, no Engenhão, na rodada seguinte, é completamente diferente, porque o cruzamento dos dados objetivos de desempenho dos clubes aponta outra realidade.
Portanto, os tais 89,8% de chance apontados hoje pela UFMG significam que o Palmeiras entra na rodada 28 com essa probabilidade de título, se mantidas, até o fim do torneio, as tendências verificadas até o momento em todos os jogos e para todos os times. E que, na rodada 29, quando for jogar no Engenhão, o número deverá ser outro, de acordo com o que tiver acontecido com os 20 times do torneio na 28.
"À medida que o campeonato se aproxima do fim, e as tendências forem se mantendo, porém, a probabilidade de o Palmeiras conquistar o título aumenta, pois haverá menos rodadas para alteração. Menos chances de o Inter aumentar seu ritmo de vitórias, e de o Palmeiras passar a perder mais", explica Costa.
A conta é falível: 2009 que o diga
A UFMG começou a fazer e disponibilizar as probabilidades do Brasileirão em 2004, quando o matemático Gilcione Costa, torcedor do Atlético-MG, temeu que o seu time pudesse ser rebaixado. Naquele ano, o Galo se salvou. Mas, no seguinte, não teve jeito.
"E eu soube muito antes que o rebaixamento ia acontecer", contou, agora entre risos, o professor da UFMG. Naquele ano, as tendências não se alteraram para o Atlético. Mas, em 2009, um campeonato que ainda assombra os palmeirenses, tudo mudou.
Segundo a UFMG, no ano em que o Palmeiras foi atropelado pelo Flamengo e perdeu o campeonato que liderou pelo maior número de rodadas, a chance de o rubro-negro ser campeão, na rodada 28, era de apenas 0,3%, contra 54% dos alviverdes. Já na rodada 38, o Fla entrou com 60,6%, contra apenas 6% do Verdão, que acabaria em quinto e fora da Libertadores.
"Ah, então quer dizer que nós erramos? Não. Esse é o ponto da probabilidade: ela calcula o percentual de chance de os eventos acontecerem, não enxerga o futuro", explica Costa. "Certeza mesmo, só na última rodada, quando o campeão tiver 100%", diz.
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