Como o time feminino do Inter virou xodó da torcida e quebrou recorde
No último domingo, o Beira-Rio recebeu mais de 36 mil pessoas para o primeiro jogo da final do Brasileirão Feminino, entre Inter e Corinthians. E não foi ato isolado. Com trabalho firme na base e aproximação ao público, o Colorado transformou o time feminino no xodó da torcida, que mantém esperança de título.
O jogo de volta da decisão será neste sábado (24), às 14h (de Brasília), na Arena Corinthians. O recorde de público quebrado em Porto Alegre deve ser rompido em São Paulo, pois mais de 39 mil ingressos já foram comercializados. Mas a briga por 'quem leva mais público ao estádio' não é problema para ambos e só faz crescer a modalidade.
Serão 500 colorados e/ou coloradas presentes. Certamente o espaço destinado estará repleto de camisas vermelhas, uma vez que o time feminino, as Gurias Coloradas, é fenômeno entre os aficionados.
O time melhora a partir da base
Para atrair a torcida, nada melhor que bom futebol. Para promover isso, o Internacional apostou na formação. Como a reportagem do UOL Esporte mostrou em julho, o objetivo é ser referência nas categorias de base de futebol feminino, e para isso uma série de conquistas foram atingidas.
"A base é essencial para o Inter. Apostamos, desde o início, e apostaremos cada vez mais na formação. Formamos atletas com tempo, com qualidade técnica, com DNA do Inter. Hoje, 50% do nosso grupo é formado na base e o investimento nisso é fundamental e será feito cada vez mais", disse Leonardo Menezes, gerente de futebol feminino do Inter, ao UOL Esporte.
"O que vivemos hoje significa a consolidação do Inter entre as principais equipes de futebol feminino do Brasil. Isso é, talvez, o maior indicador de que o projeto de futebol feminino do clube vem sendo executado de forma correta, dando sempre prioridade para formação e aproveitamento de talentos", completou.
Jogadoras importantes no elenco como Mayara, Mari Zanella, Gabi Barbieri, Isa Haas, Isabela, Mileninha, Tamara, Bia Gomes e Priscila foram criadas na base do Colorado.
E não são apenas elas que elevaram o nível da equipe. Millene e Duda, chamadas para seleção brasileira, Sorriso, com mais de 100 jogos com a camisa vermelha, Fabi Simões, Bruna Benites, todas jogadoras que marcaram sua trajetória no clube do Beira-Rio.
"As atletas aproveitam cada momento e estão desfrutando o que está acontecendo. Temos um grupo composto por atletas muito experientes e outras bastante novas. As experientes trazem consigo a luta pelo reconhecimento da modalidade, as dificuldades que tiveram e como são testemunhas desse crescimento, do reconhecimento que a modalidade tem encontrado. Então as mais novas vivem no dia a dia isso, são atletas que trazem o DNA do clube, a experiência competitiva e vencedora da nossa base. Elas não vão só testemunhar o crescimento da categoria profissional, mas serão protagonistas disso também", explicou o dirigente.
O torcedor vem junto...
Ao longo de todo campeonato, o time feminino do Inter só ganhou reconhecimento da torcida. Ações nas redes sociais, presença de jogadoras nos mais diversos materiais do clube, promoções, interação em veículos oficiais, tudo serviu para colocar o time feminino ao alcance do apoio dos aficionados.
Aliado ao rendimento e aos resultados, a exposição da equipe e seus feitos também foram importantes para catapultar a relação entre apoiadores e time.
"Certamente o apoio da torcida se deve ao investimento que o clube faz na modalidade. Apesar do momento de crise financeira, que acontece com os demais clubes do futebol brasileiro também, nós temos uma excelente estrutura, com excelentes atletas e desenvolvendo jogos muito técnicos e disputados em condições de fazer frente a qualquer outra equipe do Brasil", disse.
"Este apoio é fundamental por diversos aspectos. O torcedor consome o produto futebol feminino. É quem compra camiseta, paga ingresso, dá este apoio financeiro, e sobretudo nas arquibancadas. Eles mostram para atletas, profissionais do clube, diretores, que, sim, o futebol feminino veio para ficar e vai crescer cada vez mais. Essa identificação, que é a magia do futebol, é o motivo pelo qual todos trabalhamos", acrescentou.
No último jogo, a presença de 36.330 torcedores no Beira-Rio, recorde no futebol feminino do país, também teve um cunho social e ocasionou a doação de 27 toneladas de alimentos que serão destinados a famílias necessitadas.
O dinheiro aparece...
Com rendimento em campo e apoio da torcida, o passo seguinte na ascensão do futebol feminino do Inter foi financeiro. Nos últimos meses, o crescimento de mulheres sócias do clube é relacionado ao bom momento da modalidade.
Além disso, o clube uniu fundos com a venda da atleta Mai, de 18 anos, ao Sporting, de Portugal. Além da saída de Bruninha, vendida pelo Santos ao Gothan FC, dos Estados Unidos, que gerou renda ao clube gaúcho pelo percentual referente à formação.
"O Inter previu isso em 2017, quando reativou o futebol feminino apostando na base. Sabíamos o que aconteceria e agora colhemos os frutos do pioneirismo. É um caminho sem volta. A principal fonte de renda dos clubes do futebol feminino no futuro será a venda de atletas formadas na base", acrescentou Menezes.
E quem sabe o título
E tudo isso pode resultar em título. Ainda que considere fundamental a possibilidade de ser campeão brasileiro — o jogo de ida terminou 1 a 1 — o Colorado entende que está no caminho e que o futebol feminino está consolidado no coração dos torcedores.
"A conquista seria uma honra enorme, e é nisso que acreditamos e para isso que trabalhamos. Mas não vai ser um jogo, mesmo que o mais importante da história, que vai dizer que tudo está certo, caso consigamos a conquista, nem que o projeto está errado, caso não aconteça. Temos certeza de que há coisas que precisam melhorar, mas também a plena convicção que o trabalho feito até aqui, com muito empenho, dedicação e qualidade, foi super importante. Vamos fazer de tudo para conquistar o título, mas não é o principal indicador de medição da qualidade do trabalho que vem sendo feito no Internacional", finalizou.
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