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Pintado elogia Ceni e Diniz, mas indica outros dois técnicos para seleção

Pintado comanda o Cuiabá à beira do campo durante partida contra o Atlético-GO - Isabela Azine/AGIF
Pintado comanda o Cuiabá à beira do campo durante partida contra o Atlético-GO Imagem: Isabela Azine/AGIF
Vanderlei Lima e Augusto Zaupa

Do UOL, em São Paulo

25/09/2022 04h00

Já são quase quatro décadas dedicadas ao futebol, duas delas exclusivamente atuando como treinador. Atualmente sem clube após deixar o Cuiabá, em maio, Pintado conhece bem o ofício da profissão e tem opinião formada sobre quem deveria assumir a seleção brasileira após Tite deixar o cargo ao término da Copa do Mundo do Qatar.

"O nosso futebol precisa de um sangue novo, ou um cara já com experiência que tenha essa disposição e força para criar, assim como fez o Tite. O Tite fez um trabalho exemplar, então, depois do Tite, estaria entre o Cuca e o Dorival Júnior", disse, em entrevista ao UOL Esporte, o técnico de 57 anos, que tem aproveitado o tempo livre para curtir o neto Théo.

"Não é de hoje que o Dorival Jr. tem apresentado bons resultados, mas agora no Flamengo [ficou mais evidente]... É impossível você fazer só bons trabalhos, claro que em alguns momentos você tem dificuldades (...). Não dá para discutir o trabalho do Dorival no Flamengo, sem dúvida que essa arrancada onde muitos tentaram, grandes treinadores tentaram e não conseguiram, o Dorival foi e resolveu com uma grande equipe. Para mim, o trabalho do Dorival é o melhor do Brasil", analisou Pintado.

Apesar de defender Dorival ou Cuca na CBF, Pintado também cita outros dois treinadores que poderiam assumir a seleção no futuro: os técnicos de Fluminense e São Paulo.

"Depois do Tite, nós temos alguns jovens iniciando, não dá pra você esquecer que o Fernando Diniz tem uma ideia muito boa de futebol, tem uma maneira consolidada, sabe como fazer. Não dá para descartar o Rogério Ceni, com pouco tempo de profissão e com vários títulos [como jogador]", completou o treinador, que aproveitou para sair em defesa do colega Cuca.

Pintado passa instruções aos jogadores da Chapecoense durante partida contra o Fluminense, na Arena Condá, pelo Brasileirão 2021 - Dinho Zanotto/Dinho Zanotto/AGIF - Dinho Zanotto/Dinho Zanotto/AGIF
Pintado passa instruções aos jogadores da Chapecoense na partida contra o Fluminense, na Arena Condá, pelo Brasileirão 2021
Imagem: Dinho Zanotto/Dinho Zanotto/AGIF

"Acho injusto o que se fala do Cuca neste momento. Há seis meses, o Cuca era o treinador da seleção brasileira, todo mundo falava em Cuca, era o melhor. Hoje já não é, ninguém fala do Cuca mais porque foi feita uma mudança no Atlético-MG, que trouxe um estrangeiro [Turco Mohamed] que modificou as coisas de deram certas [em 2021]. Hoje o Cuca paga o preço por isso, ele sabia disso também", comentou.

Contra gringos na seleção...

Em relação ao clamor popular para a CBF contratar um treinador estrangeiro para o ciclo da próxima Copa do Mundo, em 2026 — conjuntamente entre Estados Unidos, México e Canadá —, Pintado se diz contra a ideia.

"Não por ser estrangeiro, mas eu sou totalmente contra esse tipo de situação pela nossa história. A gente valoriza pouco o Brasil, valoriza pouco os nossos profissionais aqui, temos cinco títulos mundiais. Os estrangeiros são importantes no Brasil para ajudar a reconstruir o nosso futebol. Mas para dirigir a seleção tem que ser um treinador brasileiro, nascido, vivendo e que conhece bem o nosso futebol", analisou.

"Não dá para tirar os méritos dos [treinadores] brasileiros, que são os únicos no mundo que conseguem administrar um calendário louco como esse, ninguém, nenhum outro país consegue resolver os problemas como nós resolvemos, sem poder treinar, sem tempo de treino. Por isso, muitos estrangeiros têm dificuldade porque não tem tempo para treinar. Nós brasileiros não, a gente consegui solucionar sem tempo de treino", acrescentou.

... mas elogios aos portugueses

Apesar de ser avesso à possibilidade de um gringo ocupar o posto que hoje pertence a Tite, Pintado tem total ciência que alguns estrangeiros fizeram bem ao futebol brasileiro, como os portugueses Abel Ferreira e Vítor Pereira, no Palmeiras e no Corinthians, respectivamente.

"O Vítor Pereira é um dos portugueses que vieram [em 2022] é que melhor se adaptou, em meio a um momento difícil de uma grande equipe. Ele está fazendo muito, isso é muito positivo. O Abel Ferreira, não digo ser copiado, mas é um bom exemplo para que nós todos e não só os brasileiros, nós todos os treinadores, possamos observar o que ele tem de melhor. Talvez não seja um estilo maravilhoso, mas ele é um gestor muito bom, não só nas palavras. O Palmeiras é o favorito em tudo o que for jogar, criou casca. Vivi isso numa equipe [São Paulo na década de 1990, com Telê Santana] que ganhou muito, aprendeu a decidir jogos decisivos."

Recentemente, emergiu um debate se os técnicos brasileiros estavam enciumados pelo fato dos profissionais estrangeiros estarem mais em evidência, principalmente após as declarações de Jorginho e Mano Menezes cutucando o treinador palmeirense. Para Pintado, não há 'dor de cotovelo', e sim falta de reciprocidade aos brasileiros no mercado externo.

Pintado conversa com Cueva durante treino do São Paulo - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Pintado conversa com Cueva durante treino do São Paulo
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

"A discussão nunca foi 'o estrangeiro', e sim a reciprocidade, Qualquer estrangeiro no mundo pode trabalhar no Brasil, não tem dificuldade nenhuma de vir trabalhar no Brasil. O futebol brasileiro facilita muito para qualquer profissional que venha trabalhar no Brasil. A gente não tem isso fora daqui, o brasileiro não pode treinar fora daqui, dificilmente você consegue trabalhar fora em outros mercados. Não podemos trabalhar em outros países, não porque a gente não seja capaz, mas porque existem regras lá fora, regras mais sérias, existe mais profissionalismo, mais reserva de mercado", refletiu.

'Futebol brasileiro está doente'

Acostumado com a ciranda do futebol brasileiro, com a grande rotatividade de treinados nos clubes do país, Pintado apontou que o excesso de jogos no calendário e o fato de os clubes priorizarem o lado financeiro deixaram o "futebol doente".

Pintado, ex-jogador do São Paulo - Reprodução - Reprodução
Pintado quando atuava como volante do São Paulo nos anos 1990
Imagem: Reprodução

"O futebol brasileiro está enfermo, o futebol brasileiro está doente. Essa loucura de calendário, essa loucura de jogos, com o negócio sendo mais valorizado do que o esporte, eu vejo o futebol brasileiro doente e nós precisamos cuidar dele. A necessidade financeira acabou passando na frente da necessidade esportiva. Há a necessidade de os clubes grandes jogarem [simultaneamente] três, quatro competições. Quando eu falo o termo enfermo, doente, quer dizer que perdemos a qualidade. É impossível você manter qualidade, a intensidade, construir alguma coisa num calendário tão maluco como o nosso", disse o ex-volante do São Paulo e Atlético-MG, que indicou o 'remédio' para esta moléstia.

"Todas as partes precisam sentar e conversar juntas. Nunca aconteceu isso no futebol brasileiro, como aconteceu na Europa. Conversei com algumas pessoas nestes dois últimos meses, lá todo mundo participa dos interesses do planejamento anual dos clubes. O calendário é discutido por atletas, treinadores, gestores dos clubes, as federações e confederações. Tudo isso é discutido de uma maneira muito diferente, muito mais profissional e isso acaba ajudando, porque não fica olhando só uma parte. Todas as partes precisam ganhar para que o torcedor receba um produto melhor", finalizou.

Outros trechos da entrevista com Pintado:

Flamengo é o favorito para ganhar a Copa do Brasil e Libertadores

"Eu acredito que sim. Contra o Corinthians é a maior prova do Flamengo esse ano para demonstrar a sua grandeza e a qualidade do trabalho de todos os profissionais que estão lá, não só do treinador. O Flamengo tem toda a condição, tem toda a força de buscar o resultado, embora o Corinthians vai dar muito trabalho. Pode ter uma grande surpresa na final da Libertadores, com dois brasileiros se enfrentando. Eu acredito numa final mais bonita, numa final melhor jogada, uma final com mais qualidade do que quando você enfrenta um argentino, que ele vai vir marcando, dificultando, dando porrada."

Hegemonia brasileira na Libertadores

"Se a Conmebol não der um jeito nisso, durante muito tempo a gente vai ver sempre um brasileiro na final, a não ser que aconteça alguma tragédia, Os clubes brasileiros estão muito à frente na maioria de todos os outros países da América do Sul (...) A Conmebol pensa no retorno do futebol brasileiro financeiramente, porque não é justo competitivamente a gente ter seis vagas [para a Libertadores]. É muita coisa. Penso que deveria ser revisto para o bem deste futebol."

Ceni vai levar o São Paulo ao título da Sul-Americana

Ceni comandando o São Paulo durante jogo contra o Botafogo-SP - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Ceni comandando o São Paulo durante jogo contra o Botafogo-SP
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

"O Rogério vem reconstruindo [o time]. É muito difícil você chegar, como o Rogério chegou no São Paulo, com o peso de ter vivido a vida toda lá dentro, com o peso de uma equipe que tinha muitas dificuldades, com o peso de uma equipe iniciando um trabalho... O Rogério está fazendo um grande trabalho, não dá para cobrar nada dele. Quando estiver um pouco mais estável, aí sim pode algumas outras coisas, nesse momento é injusto. O São Paulo chegou na maioria das competições que disputou, não tinha elenco para isso, não tinha condições de disputar de competir isso também vale muito (...) O título cobra, o título marca, o título é sempre importante, tenho certeza que o Rogério não está dormindo para buscar esse título, porque ele só sabe ganhar. O São Paulo tem uma história e acredito muito no que foi construído no passado. Tenho certeza que o São Paulo é favorito para essa final [contra o Independiente del Valle, em 1º de outubro, em Córdoba], e vai vencer bem."