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Do colo da mãe ao campo: os bastidores da recuperação de Luan no São Paulo

Luan, volante do São Paulo, quando pequeno com a mãe Luzia - Arquivo pessoal
Luan, volante do São Paulo, quando pequeno com a mãe Luzia Imagem: Arquivo pessoal

Thiago Braga

Do UOL, em São Paulo

27/09/2022 04h00

Mãe é mãe, define o ditado popular. No Brasil, a afirmação ganha um peso ainda maior. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45% dos lares do país são chefiados por mulheres. Uma dessas histórias teve como protagonista Luzia Reis da Silva dos Santos.

Dona Luzia, como é conhecida, chegou a comandar uma equipe de 200 vendedoras de marcas de cosméticos e roupas íntimas. Com a renda de executiva de vendas, Luzia era o porto seguro dos filhos. Um deles, Luan, jogador do São Paulo que retornou aos gramados no último domingo (25), após pouco mais de três meses. Nada mais natural que fosse na mãe que o volante tricolor se amparasse no pior momento da carreira.

No dia 12 de junho deste ano, o camisa 8 foi escalado por Rogério Ceni como titular diante do América-MG. Aos 28 minutos do primeiro tempo, porém, ele deixou o gramado do Morumbi chorando, deitado na maca. Poucos minutos depois, tocou o telefone do assessor de imprensa pessoal de Luan. Era o departamento de comunicação do São Paulo pedindo para que Luzia descesse para o vestiário da equipe do Morumbi.

"Ah, meu filho, fui para o vestiário e ele estava chorando por ter se machucado. Foi impactante porque a gente está ali para ver ele jogando. A gente que é mãe fica assustada de ter acontecido de ele sair machucado. Segurei o choro para ele não entrar em desespero. Fiquei firme, conversei com ele. Sou evangélica, comecei a orar, falei para ele ficar calmo que tudo iria dar certo. Ele foi acalmando, foi tomar banho. Deu um aperto no coração quando ele saiu machucado. Deus sabe de todas as coisas e ali pude ver o amor que todos no São Paulo têm pelo Luan", relembrou Luzia, em conversa com o UOL Esporte.

O temor de Luzia se justificava pela gravidade da lesão. Como explica o médico Moisés Cohen, que operou o jogador.

"Os tendões se prendem aos ossos, quando tem o arrancamento do tendão, é uma avulsão, o tendão solta do osso. Quando tem a avulsão, o tratamento é clínico, com fisioterapia, como todo mundo faz e o São Paulo fez muito bem, um tratamento correto. No caso do Luan, formou uma ossificação. Com o acúmulo de sangue, ficou um calombo ósseo, uma ossificação heterotópica. Em seis meses tinha um ovo, seis por seis centímetros. Uma lesão grande. Uma coisa dura atrapalhando, que estava limitando os movimentos dele. Essa é a razão pela qual foi indicada a cirurgia", explicou o médico.

Assim, com o agravamento do caso, Luan teve de ser operado, o que aconteceu em 22 de junho. A previsão inicial era de que Luan só voltasse a ficar à disposição para jogar em 2023.

"A gente tem um momento que tem de ser forte, para não desmontar eles. Nosso coração está doendo. Fui com ele na cirurgia, estive com ele desde a internação. Ele olhou para mim com aquela carinha de choro, e eu mostrando para ele que eu estava ali", recorda Luzia.

Recuperação relâmpago em família

Tão logo saiu da mesa de cirurgia, Luan deu mostras de que seria um caso atípico. Só saiu de muleta do hospital por causa do protocolo médico. No dia da cirurgia mesmo ele já estava andando. Em dez dias tirou os pontos do local. E foi pulando etapas.

Muito por causa do volume de trabalho. Luan optou por ir praticamente todos os dias no CT do São Paulo fazer tratamento. Além de trabalhar em dois períodos, com fisioterapia no São Paulo, ele complementava com academia e recovery em casa — técnica que tem o objetivo de restaurar os sistemas muscular, sanguíneo e metabólico do corpo.

"A recuperação do Luan foi absurdamente rápida. Com certeza tem alguma explicação genética. Nunca vi igual. A formação da calcificação foi muito rápida. Então tanto a recuperação como a lesão, que também foi fora da rotina. E que eu nunca tinha visto, com esse tamanho", resumiu o médico Moisés Cohen.

Para auxiliar na rapidez do retorno de Luan, a família mais uma vez foi fundamental. Enquanto a mãe Luzia se mudou para a casa do volante para estar mais perto do filho, e fazer as comidas preferidas de Luan — como arroz, feijão e frango —, o irmão Lucas ajudava com a logística, levando Luan de carro para o Centro de Treinamento tricolor, de volta para casa, para o médico, e onde mais fosse necessário.

"Graças a Deus foi uma recuperação maravilhosa, só agradeço o cuidado que o pessoal do São Paulo teve com ele. Em nenhum momento eu vi ele falar que não ia, que ia desistir. Sempre cumpriu os horários certos, foi perseverante. Podia estar frio, chovendo, e ele ia para o treino. É o momento que você vê que ele está se esforçando. Eu achei que ele poderia dar uma baqueada, mas seguiu firme. A qualquer momento pode acontecer alguma coisa. Não pode ficar desesperado, pode acontecer com qualquer um. Juntos somos mais fortes", definiu a mãe de Luan.

Segundo Dona Luzia, o jogador sacrificou compromissos pessoais e de família para treinar aos finais de semana. Aos olhos da mãe coruja, Luan inclusive está "mais forte".

Enfim, a volta

Luan foi liberado pelo departamento médico do São Paulo para retornar aos gramados no dia 26 de agosto. Mas demorou quase um mês para ele poder voltar a vestir a camisa do time. A falta de ritmo de jogo foi determinante para que o retorno demorasse.

"Foi bom ver, por exemplo, o Luan voltando, para sabermos em que condições ele estava. Nós não podíamos deixar para sábado para ver. Precisávamos ver hoje [domingo]", afirmou Ceni, após a vitória sobre o Avaí.

A entrada do volante aos 20 minutos do segundo tempo completou a felicidade de Dona Luzia. Presença constante em todos os jogos, ela estava no Morumbi no último domingo. "Muito feliz. Sentir ele entrar em campo, a felicidade. Foi muito emocionante quando ele entrou, com a torcida gritando o nome dele. Quando terminou também, todos gritavam. E eu também gritei o nome dele", confidenciou a mãe do camisa 8 tricolor. "O Luan está muito feliz por esta grande vitória. Dele poder entrar no campo e colaborando com todos da equipe", afirmou Luzia.

E para o médico que cuidou de Luan, o sentimento também foi especial. "A sensação é de emoção. A gente torce bastante pelo atleta. Ter ajudado alguém a voltar tão rápido e tão bem. E foi uma somatória de fatores. Tem o fator Luan, tem o trabalho da fisioterapia do São Paulo, que foi muito bom. Isso ajuda também, é um conjunto, uma equipe", finalizou Moisés Cohen.

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