A poucos dias do primeiro turno da eleição presidencial, o UOL revelou que 80% dos jogadores da seleção brasileira não devem votar, embora até tenha quem declare apoio a algum candidato, como é o caso de Neymar em relação ao presidente Jair Bolsonaro. No programa Dois Toques, gravado hoje (29) antes da divulgação do vídeo do atacante declarando apoio à reeleição de Bolsonaro, Walter Casagrande Júnior diz que a maioria dos atletas esquece as raízes.
Ao lado de Milly Lacombe, Casagrande cita as origens de boa parte dos jogadores de futebol e considera que eles acabam não se colocando a par dos problemas e as necessidades do Brasil quando não tratam de regularizar a situação eleitoral.
"Eles moram fora, moram muito bem, ganham muito bem, têm a vida já resolvida, então eles não estão enxergando a necessidade de mudança no Brasil, porque eles não moram aqui, a vida deles está ótima, eles não estão enxergando que há uma necessidade de mudança, tanto que 80% dos jogadores da seleção brasileira não vão votar. Não transferiram o título ou cancelaram o título, não vão votar", afirma.
"Isso mostra que a grande maioria não está preocupada se o Brasil vai mudar ou não, porque não é com eles, esquecem as raízes, esquecem de onde vieram e acham que nasceram jogadores de futebol ricos, eles inverteram as ordens. Ele não viu que antes de ser jogador de futebol, foi formado pela família como cidadão brasileiro e na maioria com muita dificuldade, uma dificuldade que ele solucionou, ele resolveu o problema pelo talento dele, mas aí quando esquece, o Brasil precisa mudar não por eles, eles estão tranquilos, é pelas pessoas que moram aqui", completa.
Confira o que mais rolou de interessante na opinião dos colunistas do UOL:
Milly Lacombe: Jogador de futebol não se enxerga como classe trabalhadora
Milly Lacombe afirma que a falta de interesse em votar e também a falta de um posicionamento é algo que se dá pelo fato de os atletas não se entenderem como classe trabalhadora devido ao sucesso profissional.
"O jogador e a jogadora de futebol não se entendem como classe trabalhadora. Quem depende de um salário para viver é classe trabalhadora, a gente não pode mirar na elite. Eu quero o que eles têm, sou que nem eles e vou mirar lá. Nossos interesses são os da classe trabalhadora, essa classe tão exterminada, agredida, oprimida. Se o jogador e a jogadora se entendessem como classe trabalhadora, toda a consciência iria ser outra, mesmo o cara que se destacou".
Milly Lacombe: Seleção pode se unir a partir da luta contra o racismo
O amistoso da seleção brasileira contra a Tunísia, no qual os jogadores brasileiros entraram com uma faixa em protesto contra o racismo, acabou tendo um um ato racista de torcedores em Paris, com uma banana jogada no gramado durante a comemoração do gol de Richarlison. Milly Lacombe considera que este episódio pode fazer com que o time se una a partir da luta contra o racismo.
"Sabe uma coisa que esse episódio lamentável e criminoso de racismo pode estar fazendo nascer? Uma união nesse time do Brasil. O Hino Nacional foi vaiado, teve esse episódio criminoso, você viu a reação visceral dos jogadores, pega em um lugar que é onde pega mesmo, eu não aceito, me revolto e não pode ser. O Richarlison se posicionou duramente. O time se une, tem dores na vida que fazem a gente se unir, todos os movimentos de minorias políticas começaram por causa de uma dor. O que une é a dor do preconceito", conclui.
O Dois Toques vai ao ar toda semana, com a análise de esporte e política com Casagrande e Milly Lacombe
Quando: Toda quinta-feira, às 19h
Onde assistir: Ao vivo na home do UOL, no UOL no Youtube e Facebook do UOL.
Veja a íntegra do programa:
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