Cléston, Marquinhos e Birigui: como Rockgol foi parar em museu
Já se passaram 25 anos desde a primeira edição do Rockgol com Paulo Bonfá e Marco Bianchi, que comandaram a atração entre 1997 e 2010 na MTV Brasil, O saudoso torneio de futebol entre músicos posteriormente também virou programa de auditório. Agora, o Rockgol comemora a data com uma exposição no Museu do Futebol, em São Paulo.
A mostra ocupa mais de 300 metros quadrados do museu localizado dentro do estádio do Pacaembu, na zona oeste da capital paulista. A exposição abre para o público hoje (4) e vai até 28 de fevereiro de 2023. Mas como o icônico programa que misturava humor e futebol foi parar no museu? A ideia foi do próprio Bonfá, que é o curador da mostra.
Antes da pandemia, ele queria saber se era viável e se tinha elementos suficientes para fazer uma exposição sobre o Rockgol. Para isso, foi atrás de objetos originais relacionados ao programa. O resultado dos últimos anos está no Museu do Futebol.
"A história que a gente vai contar é para que funcione para quem era fã e para quem não tem ideia, mais jovem, não gostava de futebol. Para as pessoas, vai ser muito divertido, vai mexer com a memória afetiva", disse Bonfá.
Já Bianchi foi consultado por Bonfá sobre a ideia de levar o Rockgol para o museu e declarou que a iniciativa foi totalmente do ex-narrador da atração.
"Concordei e apoiei desde o início. Fiquei só como um entusiasta à distância. Foram muitos anos, muitos programas, muitas edições do Rockgol, debates esportivos gravados em estúdio de 2003 a 2010. Então, é muita coisa. Precisa ser bem criterioso e paciente para poder selecionar aquilo que vai compor", disse o ex-comentarista do torneio e do programa.
A mostra apresenta 30 bandeiras de times do Rockgol que nunca existiram na vida real e eram usadas apenas no campeonato entre bandas. As músicas cantadas pelas torcidas nos torneios também estão lá. A exposição tem 50 fotos inéditas dos campeonatos. Um mini documentário sobre o programa também é exibido, além da seleção de camisetas e uniformes emblemáticos do campeonato entre músicos.
A exibição conta ainda com o cenário original do Rockgol de 2007 que o próprio Bonfá guardou em um depósito por achar bonito demais para ser descartado. Os visitantes podem sentar e tirar fotos como se fossem o apresentador do programa.
O lendário goleiro Cléston, que não se chama Cléston
Um dos personagens mais lembrados dos tempos de Rockgol é o goleiro Cléston, um DJ que tocava com Gabriel, o Pensador, que ganhou destaque ao realizar grandes defesas. A exposição tem espaço dedicado ao lendário atleta. E um detalhe: ele não se chama Cléston, e sim Cleyston, mas adotou o nome artístico DJ Cléston graças ao sucesso obtido no Rockgol.
"Meu filho mais velho tem 9 anos, e o do meio tem 7. Eles estão em uma escolinha de futebol. Um dia, o professor falou para o goleiro: 'Cléston!', e os alunos repetiam. E aí perguntei para o meu filho se ele sabia o que era Cléston. Ele falou que não, e eu: 'fui eu que inventei'. Aí fui no YouTube achar vídeo", disse Bonfá.
"Nessa primeira edição que fomos fazer o Rockgol narrado e transmitido, sentei na cabine, me entregaram as escalações em cima da hora. O time era muito ruim, e o goleiro apareceu muito. E aí eu: 'Cléston!', fui me empolgando. Quando terminou o primeiro tempo, veio uma produtora e falou que o nome dele não era Cléston. Eu falei: 'o goleiro não pode ter um nome no primeiro tempo e outro no segundo tempo. Agora, ele é Cléston'. Aí ele virou Cléston para sempre."
Marquinhos do Rockgol
Outro personagem místico do Rockgol lembrado na mostra é o boneco Marquinhos, um manequim que vestia camisa do São Paulo e era uma das atrações do programa. Ele só surgiu quando o Marquinhos real, meia do São Paulo em 2004, faltou ao programa em cima da hora. Bonfá e Bianchi tiveram que achar uma solução.
"O Marquinhos confirmou presença, mas o São Paulo foi eliminado pelo São Caetano no Paulista, e ele ficou com medo de ir ao programa e pegar mal por ser um programa de humor. O programa no estúdio era montado para receber os convidados. A solução foi pegar o manequim no almoxarifado, colocamos uma camisa do São Paulo, aí colocamos o boneco na cadeira e fizemos o programa como se o Marquinhos estivesse."
Marquinhos virou lenda e sumiu depois do fim do programa. Bonfá teve de localizar o paradeiro dele para a exposição. "O manequim estava na bacia das almas de uma loja na rua das noivas [em São Paulo]. Não se usa mais. O Marquinhos não tinha braço, sem glamour. O dono da empresa não entendia por que a gente queria comprar aquele lá. Ele não era único no mundo, mas saiu de linha há muitos anos, tinha de resgatar."
Diretamente de Birigui, só que não
Quem assistiu aos jogos do Rockgol via imagens da "MTV Sports Arena", diretamente de Birigui, como Bonfá dizia, mas a verdade é que os jogos nunca foram realizados na cidade do interior paulista, e sim na capital mesmo. Ainda assim, muita gente acreditava que as partidas eram disputadas em Birigui. Bonfá chegou até a receber propostas para levar a disputa para outra cidade. Ele ainda ganhou a chave da cidade de Birigui, de verdade, e apareceu no jornal local. Está tudo na exposição.
"Um dia, um assessor do prefeito de Birigui me ligou dizendo que queria que eu recebesse a chave da cidade. Foi feita uma chave, fui lá para receber a chave. A câmara municipal, cujo presidente era de um partido diferente do prefeito, resolveu conceder uma placa para também ter uma cerimônia. O time Bandeirante de Birigui nos recebeu, nos deram uma camisa autografada. Estávamos todo o dia na capa do jornal", contou.
Mas por que Birigui? "A resposta mais comumente aceita por mim e pelo Bianchi é que alguém, quando a gente era criança, tinha família ou fazenda em Birigui. Aí, falava que passava as férias em Birigui, e a gente achava o nome engraçado", explicou Bonfá.
A mostra no Museu do Futebol também traz uma área dedicada aos produtos fictícios que o programa criava para anunciar no Rockgol. Bonfá selecionou os quatro mais famosos: Birigui Booster, "água em pó"; Aguardente Caninha Curió, que serve para "desratizar" a residência; Amendoim João Ponês, "nos sabores pipoca, azeitona e aventura"; consultoria capilar Paulo Bonfá Ringling Brothers Capillar Consultants.
Por fim, Bonfá explicou que os músicos não foram consultados para a mostra porque ele não queria criar falsas expectativas. A exposição é fruto de uma curadoria autoral do ex-apresentador do programa.
"A preocupação era que as pessoas pudessem aproveitar. Não é para acadêmicos, para o cara fazer pesquisa, não tem estatísticas. É para os músicos curtirem mesmo, a pegada de resgatar alguns momentos marcantes e que as pessoas lembrassem das suas épocas."
Serviço:
Exposição Rockgol 25 Anos
Museu do Futebol - Praça Charles Miller, s/n
Pacaembu - São Paulo - SP
De 4 de outubro de 2022 a 28 de fevereiro de 2023
Ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/67330/d/153663
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