Ex-presidente do Fla se elege deputado com estratégia diferente à de Eurico
"O Vasco está sem liderança e sem representação. Para que o Vasco volte a ter voz, em outubro vote 1199. Saudações vascaínas!".
Era desta maneira, na década de 90, que Eurico Miranda se apresentava em pleno horário eleitoral como candidato a deputado federal. Embora colocasse as funções prioritárias de um parlamentar abaixo dos interesses do Vasco, conseguiu se eleger em duas oportunidades ao seu modo e chegou à Brasília em 1995 — ficou até 2003 —, embalado pela boa fase do clube.
Décadas depois, Eduardo Bandeira de Mello, ex-presidente do Flamengo, volta a ser um importante dirigente carioca com cargo legislativo na Capital Federal. Porém, diferentemente do antigo presidente vascaíno, que faleceu em 2019, ele não explorou tanto o clube do qual é identificado, e partiu para uma estratégia de maior abrangência, chegando aos 72.725 votos como candidato do PSB-RJ no último domingo (2).
Considerado o principal símbolo da revolução pelo qual o Flamengo passou, Bandeira se utilizou, sim, das benesses que alcançou com seu bom trabalho feito à frente do Rubro-Negro, mas com parcimônia. O agora deputado federal, de 69 anos, também jogou holofotes para sua longa carreira como servidor público, com mais de 30 anos trabalhando no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), e buscou alcançar o eleitorado fora do "curral" flamenguista. Em cima desta experiência acenou, principalmente, com dois pilares fortes: a gestão financeira e os projetos de meio ambiente.
Nas finanças, prometeu uma eficiência com o dinheiro público nos moldes de como fez no Flamengo e no programa do BNDES chamado de PMAT (Programa de Modernização da Administração Tributária e da Gestão dos Setores Sociais Básicos), que visava auxiliar prefeituras a melhorar a arrecadação, o gerenciamento de recursos e a qualificar os serviços prestados à população.
Em relação ao meio ambiente, deu destaque para os trabalhos realizados como como chefe deste departamento no órgão público, ocasião em que foi um dos criadores do chamado "Fundo Amazônia", que visa destinar recursos para promover projetos de combate ao desmatamento, conservação e uso sustentável das florestas.
"Minha principal bandeira é o respeito ao dinheiro público. É fazer com que o dinheiro do nosso orçamento seja efetivamente usado naquilo que é o interesse da população. O dinheiro sendo usado para o interesse público, vamos poder ter educação de qualidade, saúde, transporte, respeito ao meio ambiente...Ou seja, bem-estar para a população como um todo", declarou Bandeira.
Vê estádio do Fla com bons olhos e é a favor da anistia para organizadas
Obviamente que Eduardo Bandeira de Mello não deixou o Flamengo de lado, e alguma pautas relacionadas ao clube direta ou indiretamente também estão sob os olhos do deputado. Um dos assuntos que, por exemplo, têm tomado conta do noticiário rubro-negro é a possibilidade do clube construir um estádio próprio na região do Gasômetro, no Centro do Rio de Janeiro.
Bandeira avalia que, caso o edital de licitação do Maracanã proposto pelo Governo Estadual se mantenha nos atuais moldes, a melhor solução será partir para a construção da nova casa do Fla.
"Se esse edital que está aí na rua, para concessão do Maracanã, se confirmar, se for isso mesmo, não tem outro jeito. O Flamengo tem que partir para um estádio próprio porque esse edital é simplesmente ridículo. É totalmente nocivo aos interesses não só dos clubes como também ao contribuinte, afinal de contas o Maracanã é um estádio público. É vergonhoso esse edital que esta na rua, espero sinceramente que ele seja reformulado", disse ao canal "Papo Reto."
Em relação às discussões que ocorrem no Ministério Público (MP-RJ) para o projeto de lei que visa anistiar as torcidas organizadas, Bandeira de Mello se mostra favorável. Atualmente, a proposta de autoria dos deputados Carlos Minc (PSB), Zeidan (PT) e Luiz Paulo (PSD) já foi aprovada na Alerj e agora está na etapa de discussões para a atualização dos Termos de Ajustamento de Conduta (TAC). Hoje em dia, algumas das principais organizadas de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco estão suspensas dos estádios.
"Já passou da hora de termos regras e mecanismos específicos para que se faça cumprir as leis, que sempre valeram para fora dos estádios, dentro também. E por isso entendo esse projeto de lei como uma evolução, algo saudável", disse Bandeira em uma postagem no Twitter, complementando:
"É claro que precisamos analisar as emendas e a negociação das contrapartidas com o MP, mas da forma como é feito hoje está claro que não funciona. Atrapalha a festa das arquibancadas, dificulta boas iniciativas que podem vir dessas organizações e não pune os verdadeiros culpados. A punição ao CNPJ foi uma tentativa válida, mas está provado que não deu certo. E não se pode ter compromisso com o erro. Regras claras podem inclusive ajudar/incentivar eventuais mudanças dentro dessas organizações, algumas com mais de 50 anos de apoio a seus clubes".
Foi derrotado em duas eleições anteriormente
Eduardo Bandeira de Mello já havia se aventurado na política em outras duas oportunidades. Uma logo após deixar a presidência do Flamengo, quando tentou se candidatar ao cargo de deputado federal em 2018, pelo partido Rede. Na ocasião, porém, não conseguiu se eleger.
Em 2020, o ex-dirigente se lançou como candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo mesmo partido, mas ficou apenas na oitava colocação, com 2,48% dos votos (um total de 65.296).
Eleito deputado federal agora e aposentado do BNDES, Eduardo Bandeira de Mello tem como projeto se estabelecer na vida política e tem planos de galgar outros cargos futuramente.
Eurico chegou a ter pedido de cassação de mandato
Assim como na carreira de dirigente de futebol, Eurico Miranda também foi cercado de polêmicas em sua passagem como parlamentar. A primeira vez que tentou se candidatar foi em 1990 pelo PL-RJ, mas não obteve êxito. Em 1994, porém, embalado pelo tricampeonato carioca do Vasco, onde era vice de futebol, conseguiu se eleger para deputado federal pelo PPB-RJ.
Em 1998 foi novamente eleito, mas em 2001 foi pedida a cassação de seu mandato com a denúncia de efetuar uma operação de câmbio não autorizada. Eurico foi acusado de promover evasão de divisas do país, mas não pôde ser julgado na época por ter imunidade parlamentar. Em 2002 ele voltou a concorrer ao cargo de deputado federal, mas não conseguiu se eleger.
Em 2006, Eurico teve a sua candidatura indeferida pelo TRE do Rio de Janeiro. Segundo o argumento da juíza Jaqueline Montenegro, por falta de condições morais para exercer um mandato. Porém, o dirigente recorreu da decisão e no mês seguinte, teve a sua candidatura confirmada pelo TSE, mas novamente não se elegeu.
Marcos Braz não consegue se eleger
O Flamengo teve a possibilidade de ter dois dirigentes ligados ao clube em Brasília. Isso porque o atual vice-presidente de futebol, Marcos Braz, também concorreu ao cargo de deputado federal pelo PL-RJ. Porém, seus 38.623 votos foram insuficientes para se eleger. Com isso, o dirigente segue à frente da pasta no Rubro-Negro e foca suas atenções para as duas importantes decisões que tem pela frente: a Copa do Brasil, contra o Corinthians, e a Libertadores, diante do Athletico-PR. Ambas as finais acontecerão em outubro.
Outras figuras ligadas ao Flamengo que também não se elegeram para os cargos de deputado foram o ex-jogador Bebeto, o treinador Joel Santana e o sósia de Gabigol, chamado de "Gabigol da Torcida".
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