Finais da Taça das Favelas RJ têm zagueira 'graduada' e campeão da Conmebol
A edição de 10 anos da Taça das Favelas chega às finais, hoje (8), em diversos estados brasileiros. No Rio de Janeiro, a luta pelo troféu se torna um episódio de histórias que ganharam novo rumo a partir do torneio, com direito à conquista do sonhado diploma e até mesmo uma nova fase na vida de um campeão da Conmebol pelo Botafogo.
No feminino, o Complexo da Coreia e Sapo de Camará fazem um clássico de Senador Camará pelo troféu Marilza Pereira Athayde, enquanto no masculino, o Complexo do Muquiço, de Deodoro, e o CRB Dick, de São João de Meriti, lutam pelo troféu Ari Pipa. Os jogos serão em Moça Bonita, estádio do Bangu, e terão transmissão da TV Globo.
Na final feminina, o Complexo da Coreia conta com Michelle Assunção, zagueira de 36 anos, que já está participando da sexta edição. Apaixonada por futebol desde os nove anos, a Taça das Favelas deixou de ser apenas um torneio onde ela podia praticar o hobby preferido para ser um agente de mudança.
Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, a "Mineira", como é chamada, chegou ao Rio de Janeiro com a família e criou raízes quando tinha 12 anos. A vida, porém, teve episódios inesperados.
"Aos 15 anos fui mãe. Sabe como é, a favela acaba tendo mais forças do que nossos objetivos. Aos 16, fui trabalhar em um posto de gasolina e comecei a morar sozinha. Aos 17 eu já era independente. Daí por diante, muitas coisas me transformaram no que sou hoje. Hoje sou uma mulher, mãe, esposa e avó, precoce, claro, e fisioterapeuta! Mais do que qualquer coisa que podia imaginar em minha vida", contou.
Michelle entrou para a equipe após uma pelada na comunidade contra algumas jogadoras veteranas. Na vitoriosa atuação, o desempenho da zagueira chamou a atenção. A partir daí, passou a integrar o elenco que participa do torneio, e deu um passo que alterou muita coisa.
Na visão da jogadora, cursar o ensino superior não era algo que parecia ao alcance das mãos, mas a oportunidade surgiu através do futebol. E como forma de agradecimento, levou a bola à formatura.
"Comecei a participar da Taça das Favelas no ano de 2016 e, a partir daí, nunca estivemos fora. Neste mesmo ano vi a oportunidade da minha vida: uma instituição de ensino patrocinou a Taça e deu bolsas de estudos. Como sempre, fiz questão de participar, e graças a Deus fui abençoada. Hoje posso dizer que sou fisioterapeuta graduada graças ao futebol, graças à família Coreia e também graças à Taça das Favelas. Encontrei a oportunidade e agarrei, e hoje sou formada", celebra.
Para ela, a Taça das Favelas é uma chance também de mostrar a evolução e conquistar mais espaço para o futebol feminino. Michelle classifica estar na final como uma "sensação única e gratificante".
"A Taça das Favelas é uma grande oportunidade de crescer, de dar visibilidade na mídia e mostrar que o futebol feminino também tem voz. Somos tão boas quanto o masculino e precisamos ser valorizadas. Disputar essa decisão é uma sensação única e gratificante. Nada melhor saber que chegamos até aquele ciclo, até aquele momento. A vitória nos revigora e nos disciplina", salienta.
Campeão alvinegro à beira do gramado
Na final do masculino, o Complexo do Muquiço busca o título ainda inédito, mas, à beira do gramado, conta com um ex-jogador que esteve em uma das principais conquistas do Botafogo.
Cláudio Henrique foi um zagueiro criado no Alvinegro e integrou o elenco campeão da Conmebol, em 1993. Ele foi titular na vitória por 2 a 1 sobre o Peñarol, no Maracanã — o Glorioso foi campeão após disputa de pênaltis.
Após a saída de General Severiano, seguiu carreira e chegou a defender clubes como The Strongest, da Bolívia, e Goiás. Encerrou a carreira quando atuava pela terceira divisão da Alemanha e teve uma séria lesão.
Ao pendurar as chuteiras, foi estudar Educação Física. Desde 2015, ele integra o projeto na Favela do Muquiço.
"Tive uma lesão de tendão patelar que me levou a repensar a carreira como atleta. Morar em outro país me fez amadurecer muito, adquirir muitas experiências. Isso teve uma grande relevância em minha vida pessoal e também profissional", disse.
"Em 2015, quando ainda trabalhava no Instituto 'Bola pra Frente', do Jorginho, o coordenador da Equipe do Muquiço me comunicou que tínhamos recebido uma oportunidade de retomar à Taça das Favelas. Arregaçamos as mangas e começamos a selecionar os atletas. Tínhamos duas semanas para montarmos a equipe, e assim iniciou-se o trabalho", completou.
Quando os alunos do projeto descobrem o currículo de Cláudio Henrique, surgem diversas perguntas sobre a experiência nos gramados.
"Eles se alegram muito, se sentem honrados! Fazem muitas perguntas sobre minha história no Botafogo e eu sempre compartilho as minhas experiências. Acho de grande relevância dividir minhas vivências com eles. Como ex-atleta, sempre tento transmitir a eles que a base de tudo é a fé, muita humildade, ser perseverante e ter foco, não se deixar abater com os fracassos, pois eles fazem parte do processo", ressaltou.
A relação do ex-zagueiro com o Alvinegro, inclusive, foi retomada recentemente, mas, desta vez, em outros moldes.
"Agora formado em Educação Física, estou como técnico do futsal feminino do Botafogo, nas categorias sub-12 e sub-15. Agradeço ao Botafogo, que dá ao projeto de futsal total estrutura e apoio, o que faz toda a diferença"
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