Mulher que acusa jogadores de estupro afirma ter sido ameaçada por atacante
Alcimara Ventura, a mulher de 27 anos que acusa os jogadores Dudu Hatamoto, Lucas Delgado e João Diogo Jennings de estupro, afirmou ao UOL Esporte que o atacante João Diogo enviou a ela uma mensagem de áudio com xingamentos e ameaças após ela ter apresentado a denúncia — Alcimara não disse quais foram as ameaças feitas pelo jogador. O crime teria ocorrido no dia 26 de setembro, no Rio de Janeiro, após o acesso do Botafogo-SP à série B do Brasileiro
Em mensagem enviada à reportagem, Alcimara disse ter muitas evidências do crime do qual acusa o trio, mas afirmou que não poderia enviar o material para a reportagem para não atrapalhar as investigações. Ela afirma ter enviado o conteúdo para as autoridades responsáveis pelo caso.
"As câmeras de segurança vão ser usadas como provas. Também tem o áudio do João Diogo me xingando e ameaçando, eu tenho certeza que no depoimento ele não falou isso. O vídeo das câmeras tem trechos cortados pela defesa dele, mas eu vi completo. Tem muita coisa em sigilo. É complicado, não posso falar até para não atrapalhar nas investigações", afirmou ela. Segundo Alcimara, os materiais estão anexados como prova na investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que não quis dar detalhes da investigação à reportagem.
Imagens das câmeras de segurança do hotel da zona portuária do Rio de Janeiro mostram os três jogadores acusados nos corredores dos quartos no dia 26 de setembro —quando Alcimara diz ter sido estuprada.
O UOL obteve com a defesa de João Diogo um vídeo com a gravação do corredor do quarto do hotel, mas as imagens estão editadas e não mostram a linha do tempo dos fatos completa. Uma versão do vídeo tem circulado nas redes sociais e mostraria mais detalhes.
Nas imagens da internet, é possível ver Lucas Delgado entrando em seu quarto com Alcimara —após descer para trocar a chave do quarto. Minutos depois, chegam Dudu Hatamoto, de calça comprida e camisa branca, e João Diogo de camisa preta. João tira sua bermuda e fica de cueca no corredor do hotel e entra com Dudu em outro quarto.
João e Dudu deixam o quarto que estavam e se dirigem ao quarto em que Lucas está com Alcimara. Ambos entram após um tempo de espera. Instantes depois, a vítima sai do quarto em direção aos elevadores. Dudu foi atrás dela e a levou para outro quarto, onde permaneceu por sete minutos e depois pegou um elevador para o hall do hotel.
Violência, xingamentos e mordida no seio
No boletim de ocorrência inicial, a que o UOL Esporte teve acesso, Alcimara conta que começou a ficar com Lucas Delgado em uma boate na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, e que foi convidada pelo atacante para ir ao hotel em que o time estava hospedado, o Intercity Porto Maravilha —localizado próximo ao aeroporto Santos Dumont, em Santo Cristo, bairro portuário situado no extremo norte da zona central.
Segundo Alcimara, os dois praticaram sexo consensual, mas ela afirma que Delgado a contrariou e não usou preservativo.
Na sequência, de acordo com a mulher de 27 anos, ela ouviu barulhos na porta e dois jogadores (João Diogo e Dudu) entraram no quarto "querendo também manter relações sexuais" com ela, que negou.
Por causa disso, diz Alcimara, ela foi xingada por João Diogo e mordida nos seios por Dudu. Ela mostrou em suas redes sociais imagens com marcas de ferimento nos seios.
Ela contou ainda que desceu aos prantos para o saguão do hotel e que foi informada pela recepcionista do hotel que eles eram jogadores do Botafogo-SP.
Quando fez a denúncia, a vítima foi encaminhada ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de corpo de delito. De acordo com comunicado divulgado pela assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Civil, "os agentes foram ao local, conversaram com funcionários do hotel e requisitaram imagens de câmeras de segurança".
Defesa de João Diogo diz que não há indício de crime
No início da semana, João Diogo prestou depoimento no 4º DP do Rio (Central) acompanhado de sua advogada Graciele Queiroz.
Em comunicado enviado à reportagem, a defesa do jogador diz que Graciele Queiroz, uma de suas advogadas, "foi até a delegacia no Rio de Janeiro para deixar claro que tudo isso não passa de um mal-entendido".
"O Diogo estava hospedado no quarto 818, junto ao argentino [Lucas Delgado], e em nenhum momento o quarto foi invadido. O João chegou da boate e estava se divertindo, dançando no corredor do hotel, em um ato de brincadeira entre outros atletas. Essa conduta não caracteriza crime. O João Diogo é inocente, foi juntado vários documentos para colaborar com a polícia, não há nenhum indício que o coloque nessa notícia de terror. O desejo do João é que esse linchamento possa acabar e a verdade aparecer. Logo menos a verdade será posta para a sociedade", diz a nota.
Lucas Delgado está na Argentina após ter contrato rescindido
Dos três atletas envolvidos, o Botafogo-SP rescindiu contrato apenas com o atacante argentino até agora —João e Dudu foram punidos por infração disciplinar.
Lucas contratou a mesma advogada de defesa que João Diogo. Ele nega ter cometido o crime e alega ter voltado para seu país natal não para fugir da Polícia, mas, sim, por não conseguir se sustentar no Brasil após perder o emprego.
"Não cometi nenhum crime. Eu te digo que eu não fugi para lugar nenhum. Meu contrato foi rescindido e tive que voltar ao meu país porque não podia ficar sem trabalho, não teria como me sustentar. Então decidi voltar com a minha família. Até o momento, ninguém me notificou formalmente de nenhum caso contra mim. De forma alguma estou fugindo da justiça, pelo contrário, estou disponível. Posso fazer a declaração pela embaixada ou, nesse caso, eles podem me enviar um registro com a interrogações pela chancelaria e, dessa forma, posso ir ao tribunal de plantão da jurisdição nacional federal correspondente para arquivar e depois enviá-lo. Pelo que repito, estou disponível para testemunhas sobre os fatos que os meios de comunicação me mencionam, já que não cometi nenhum crime", declarou em nota enviada ao UOL.
Vítima relata sofrimento psicológico após o episódio
Nos últimos dias, Alcimara publicou uma sequência de stories em seu Instagram. Neles, ela conta sobre sua história de vida, dá mais detalhes sobre aquela noite e agradece o apoio que tem recebido de muitas pessoas. Os vídeos permanecem nas redes sociais dela.
"Tenho 27 anos, sou mulher indígena, mãe de duas filhas. Estou em processo de separação, vim para o Rio de Janeiro por causa disso. A gente combinou [ela e o ex-marido] e achou melhor vir pra cá, ficar perto da minha mãe. É uma nova adaptação para as crianças, foram seis anos juntos. Vim pra cá, como qualquer outra mulher. No fim de semana, eu saí com um amigo, fomos em uma boate, foi lá que conheci eles [Lucas, João e Dudu]", disse.
"Conheci o argentino, então aconteceu toda essa turbulência. Eu só fui me divertir. Minha vida está de cabeça para baixo. Independente de dor, da mordida por exemplo, dói, mas meu psicológico não tá legal. Não tenho mais rotina. Não consigo cuidar das pessoas que eu amo. Em relação a eles e às coisas que aconteceram, eu prefiro não comentar", afirmou.
Como está o andamento do caso?
A Polícia Civil do Rio de Janeiro indiciou os três jogadores do Botafogo-SP, na última sexta-feira (7), por crimes de violência sexual. Dudu Hatamoto, 19 anos, foi indiciado por estupro. João Diogo, 23, por injúria e importunação sexual. Já Lucas Delgado, 27 anos, que é argentino, responderá por posse sexual mediante fraude, também chamada de dissimulação.
No último sábado (8), após a confirmação do indiciamento, a defesa de João Diogo criticou, por meio de nota oficial, a decisão da Polícia Civil carioca. Em nota encaminhada ao UOL Esporte, os advogados de João Diogo criticaram a velocidade na condução da investigação e o delegado responsável pelo caso. Eles também afirmaram a inocência do jogador de 23 anos.
"Com extrema estranheza que, ao tomar conhecimento do relatório final do célere inquérito policial, constatamos que o delegado responsável imputou ao jogador João Diogo a conduta dos artigos 215-A e 140 do Código Penal. O indiciamento não cabe ao delegado e sim ao Ministério Público, que ao ter acesso ao relatório final irá decidir se há ou não indícios."
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.
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