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Presidente do Fluminense mira Libertadores e diz como vai conquistar título

Mário Bittencourt "crava" Fluminense na Libertadores de 2023 - Divulgação / Fluminense TV
Mário Bittencourt 'crava' Fluminense na Libertadores de 2023 Imagem: Divulgação / Fluminense TV

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/10/2022 04h00

Quase três anos e meio depois de assumir a presidência do Fluminense, Mário Bittencourt quer mais. Na sala de reuniões do open office criado durante a gestão para conectar melhor os setores do clube, o atual mandatário confirmou pela primeira vez que será candidato à reeleição no final do ano.

Em mais de duas horas de conversa com a reportagem do UOL Esporte, ele ressaltou os acertos, avaliou os erros e garantiu: está preparando o time para ser campeão da Libertadores.

"Tem que olhar o clube com o farol alto. Eu estou preparando o Fluminense para ganhar a Libertadores. E como? Indo a ela todos os anos. Trabalhando para disputar sempre. Se você conversar com uma pessoa que entende minimamente do dia a dia do futebol, ela vai dizer que é mais provável ganhar uma competição mata-mata do que de pontos corridos. Trabalhamos para manter o clube na prateleira de cima. Minha ideia é continuar pelos próximos três anos para continuarmos disputando os títulos, indo nas primeiras colocações", disse em entrevista exclusiva.

"A exposição incomoda qualquer pessoa que tenha uma exposição pública. Mas como eu encaro ser presidente do Fluminense como uma missão de vida, de poder ajudar a reconstruir o clube que eu amo, em momento nenhum eu repenso. Achar que não deveria ter feito ou não quero seguir. Acho que deveria ter feito, faria tudo de novo, quis justamente por ser jovem. Nunca repensei, nem me arrependi e por isso que quero ficar por mais três anos para continuarmos o que estamos fazendo", completou.

Presidente mais votado da história do Fluminense, Mário garante não ter tido problemas com amigos ao longo do período como mandatário. No entanto, avalia o cargo como "solitário".

"Amigo não perdi, até porque talvez 70% dos meus amigos torçam para o Fluminense e a gente tenha se conhecido na arquibancada. Obviamente que, como todo torcedor, as pessoas têm suas críticas e reclamações. Eu recebo até dos meus irmãos, que são tricolores, meu pai liga para reclamar. Mas são reclamações de torcedores, nenhum deles questiona ou critica o trabalho que a gente vem fazendo de reconstrução do clube. As críticas são com relação ao resultado, um jogador. Nada que tenha feito eu perder uma amizade", comentou.

"Mas perde-se muitas outras coisas. Privacidade, as filhas sofrem bastante na escola, nas redes sociais. Não estou falando só de mim, não, mas de todos os presidentes de clube. É um cargo de bastante solidão. Você acaba sendo responsável por tudo que acontece no final. Isso traz uma carga emocional grande, afeta bastante a saúde", completou.

Ondas de críticas

Cano comemora gol do Fluminense sobre o Atlético-GO em jogo do Campeonato Brasileiro - Isabela Azine/AGIF - Isabela Azine/AGIF
Cano comemora gol do Fluminense sobre o Atlético-GO, pelo Brasileirão
Imagem: Isabela Azine/AGIF

De estagiário em 1998 a presidente desde 2019, Mário viu o Flu se estabilizar na briga pelas primeiras posições na maioria das competições. Mas também teve turbulências. A eliminação na Libertadores e na Sul-Americana de 2022, vendas questionadas de garotos de Xerém, montagem de elencos com atletas mais velhos e o atual período de turbulência com as recentes derrotas no Campeonato Brasileiro. Mesmo assim, faz uma boa avaliação da gestão.

"Não podemos confundir planejamento com resultado. São duas coisas diferentes. O jogador de maior sucesso na temporada tem 34 anos [Germán Cano], veio da Segunda Divisão [estava no Vasco]. Trouxemos um centroavante que é o maior goleador do Brasil em todas as competições. Agora falam que é um grande acerto, mas apostamos em um jogador de 34 anos para ser o cara que iria substituir o Fred. O que é errar o planejamento? Fizemos uma avaliação ano passado que não fomos mais longe nas competições porque faltava experiência. Nosso time tinha muita juventude porque usamos muitos garotos de Xerém", analisou.

Presidente do Fluminense, Mário Bittencourt entrega camisa "01" da Flu Legends para Fred em sua despedida - Mailson Santana / Fluminense - Mailson Santana / Fluminense
Mário Bittencourt entrega camisa "01" da Flu Legends para Fred em sua despedida
Imagem: Mailson Santana / Fluminense

"Os resultados até agora são melhores do que em 2021. Voltamos a ser campeões, estamos entre os quatro melhores do Brasileiro [agora é o quinto colocado], retornamos a uma semifinal de Copa do Brasil. Os resultados poderiam ter sido melhores e vamos trabalhar para ser melhor em 2023. Mas acho que o planejamento foi bem feito. A opção por ter jogadores mais experientes foi porque entendemos que deixamos escapar o título carioca e não fomos tão longe na Copa do Brasil porque faltou maturidade, experiência no elenco. Os times que mais ganham têm muitos jogadores acima dos 30 anos. Não temos que avaliar o resultado do jogo, uma eliminação, mas o trabalho que estamos fazendo. Quem está dentro do futebol não faz a avaliação como as pessoas que estão fora. O que tem que olhar é a regularidade do trabalho."

SAF nos planos

Dentre as propostas de todos os opositores de Mário Bittencourt no pleito, previsto para a segunda quinzena de novembro, está tornar o Fluminense uma SAF. Já confirmaram a pré-candidatura Ademar Arrais, Marcelo Souto e agora Rafael Rolim, subprocurador-geral do Estado do Rio de Janeiro. Mário não descarta a possibilidade, mas, caso se realize, não quer modelos iguais aos já estabelecidos no futebol brasileiro. Para trazer o grande investidor previsto para o meio de 2023 ou começo de 2024, conta com a ajuda do BTG.

"Estamos fazendo um estudo para trazer um investidor e dentro disso há possibilidade, sim, de que o Fluminense no futuro constitua uma SAF dentro dos parâmetros que estamos avaliando com o banco. O que estamos fazendo de diferente dos outros é contratar uma empresa para fazer essa avaliação por nós e fazendo com muita calma, de maneira muito detalhada. Não sei se vai ser SAF ou não. Se tiver que ser, será. Pode ser com controle ou sem. É uma decisão que não cabe a mim. Eu posso achar que sim e o Conselho falar não. Dentre as possibilidades, o Fluminense deseja trazer um grande investidor a partir do ano que vem, 2023/2024, e existe a possibilidade de ser a SAF em um modelo diferente dos que existem hoje no Brasil", revelou.

Camisa do Fluminense para o Outubro Rosa - Divulgação/Fluminense - Divulgação/Fluminense
Camisa do Fluminense para o Outubro Rosa
Imagem: Divulgação/Fluminense

No estudo feito pelo BTG entraram todos os tipos de receita que envolvem o clube. Desde a venda de camisas, merchandising, placas publicitárias, escolinhas, saída de jogadores, sócio-torcedor, premiação, bilheteria, eventos na sede, entre outros. Além disso, a empresa também projetou resultados esportivos para os próximos anos, faturamento com premiação, venda de jovens da base, entre outros.

"Se alguém quiser investir, eles vão apresentar as formas. Essas conversas já começaram. Já estão com os números na rua mostrando que o Fluminense é viável a receber investimento. Como vai ser? É uma discussão que vai passar por feedback do mercado. Pode investir na base, no profissional, no clube, ser uma SAF com venda ou sem venda de controle. Pode ser um incremento semelhante ao do Palmeiras. As propostas voltam para nós e discutimos com o conselho diretor e posteriormente o deliberativo. Isso é necessariamente uma SAF? Não. O cara pode colocar dinheiro apenas para ter a receita de Xerém. O conselho pode dizer não. Depois que o BTG trouxer as possibilidades, eles voltam".

Polarização política

Faltando poucos dias para o segundo turno das eleições presidenciais, o Brasil está tomado pelo debate sobre os candidatos. No Fluminense, Felipe Melo já declarou diversas vezes que não só é eleitor de Jair Bolsonaro (PL) como também amigo pessoal do atual presidente. Mário Bittencourt garantiu que internamente não há qualquer recomendação para evitar posicionamentos.

"A gente tem um ambiente tão harmonioso e de paz internamente. Óbvio que falamos sobre política no clube, mas não há repreensão nem para uma corrente e nem para outra. A prova disso é que tínhamos o Igor Julião aqui que tinha um posicionamento político muito forte, continua tendo nas suas redes sociais, e hoje temos o Felipe [Melo], que tem o posicionamento externado. Não tivemos nenhum problema interno ou externo. Cada um faz as suas manifestações individuais e aí obviamente arca com as discussões."

"Não há nenhum tipo de controle nosso com relação a isso. Só há, por exemplo, orientações e recomendações com questões envolvidas com o clube. O clube não pode se posicionar para um lado ou outro. Tem torcedores de todas as correntes políticas. O Fluminense é maior do que tudo isso. Tenho certeza que não teremos problema. É um ambiente harmonioso. Deixamos os jogadores e funcionários livres para exercerem o voto, se expressarem como quiserem nas redes sociais. Assim como as questões religiosas. Somos praticamente 80 pessoas no Centro de Treinamento, temos pessoas de todas as religiões, alguns sem. Convivemos de maneira muito harmoniosa", completou.

Outros trechos da entrevista com Bittencourt:

UOL: O Fluminense tem pouco dinheiro para fazer investimentos em jogadores. Como você avalia as compras feitas na sua gestão?

Mário Bittencourt: Acho que contratamos alguns jogadores que deram certo, como o Michel Araújo, que é um jogador que pagamos um valor baixo e deu certo. Alguns outros acabaram saindo, como o Fernando Pacheco. Foi um investimento que acabou não dando certo, mas não significa que tenha sido errado, apenas não deu certo. O Arias é um que deu muito certo. Gastamos US$ 600 mil, US$ 700 mil e hoje valha talvez dez vezes mais. Olhamos o pacote da gestão como um todo e acho que com relação a contratações o saldo é positivo. Tem jogadores que fazem parte do elenco de hoje que ainda estamos avaliando. Só vamos saber se um dia ele sair daqui de graça ou for vendido. Somamos tudo e vamos saber o quanto investimos e o quanto recebemos. De repente a venda de um jogador paga a compra de todos. Só vamos saber quando se encerrar o ciclo do atleta. O Nonato veio emprestado com uma opção de compra muito alta. O clube búlgaro fez uma proposta com a opção menor do que a opção que a gente tinha. O jogador optou em ir. Se ele quisesse ficar, ficava.

UOL: E como avalia as vendas de jogadores de Xerém feitas pela sua gestão?

Luiz Henrique se despede da torcida do Fluminense - MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE FC - MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE FC
Luiz Henrique se despede da torcida do Fluminense
Imagem: MARCELO GONÇALVES / FLUMINENSE FC

Mário Bittencourt: Vendemos pelo que o mercado paga. As pessoas dizem que o Fluminense vende por menos do que deveria. O Flamengo acabou de vender o Lázaro e o Rodrigo Muniz por valores abaixo das vendas do Fluminense. Eles, em tese, precisam menos de dinheiro do que nós, mas vendem por um motivo diferente do nosso. O deles é que tem dinheiro para contratar jogadores caros e usa menos os da casa. A gente vende porque fabrica muito mais e utiliza muito mais, então as propostas chegam com mais frequência. Os jogadores da base estão sempre no time titular. As propostas são dentro dos valores de mercado que o Fluminense recebe. Vai ter um ou outro fora da curva. Vê a venda do Savinho, do Atlético-MG, que era a maior joia da base e foi por menos do que o Luiz Henrique. O Gabriel Veron, vendido na soma de performance e fixo por menos do que vendemos. Não é uma competição de quem faz melhor. Você vende de acordo com o mercado, como está de dinheiro, a pandemia interfere. Acho que a frase não é vender melhor, mas com o tempo poderemos vender melhor porque poderemos correr o risco de não vender. São duas coisas diferentes (...). Precisamos analisar as propostas com mais atenção e fazer as vendas porque essa venda ainda é 55% do faturamento do Fluminense e de vários outros clubes. Por isso queremos buscar o investidor para minimizar e aumentar o risco de não aceitar uma proposta.

UOL: Qual o planejamento caso seja reeleito?

Mário Bittencourt: O planejamento é seguir equacionando as dívidas, não equacionamos todas. Já fizemos com a cível e trabalhista, ainda lutamos porque tivemos questões abertas deixadas por gestões anteriores do Profut, então tentamos equacionar essa dívida fiscal. O planejamento é, através de um contrato da parceria com a BTG, trazer um investidor para o clube. Com investimento grande e importante do ponto de vista financeiro, que a gente continue pagando a dívida, mas acelere. Diminuir o tempo e também encorpar ainda mais o time de futebol. Queremos manter a austeridade, credibilidade, principalmente a estabilidade e trazer um grande investidor para acelerar o pagamento das dívidas, que é fundamental para o clube sobreviver, além de com parte do dinheiro investir no time. Mesmo sem o investimento, fizemos aumentos de 15, 20 e até 30% de folha para melhorar o futebol porque dá mais receita. Já temos o desenho feito pelo BTG mostrando que se continuarmos como estamos hoje, vamos resolver e equacionar o clube em um prazo médio. Trazer o investidor é tentar equacionar em um prazo mais rápido e poder ter mais investimento no futebol o quanto antes.

UOL: O Fluminense é um dos clubes que encabeçam o Forte Futebol. Qual o estágio da criação da Liga?

Mário Bittencourt: Um dos motivos da gente fazer um estudo com o BTG de médio prazo é porque a constituição da Liga é fundamental para o valuation do clube. Podemos valer muito mais se tiver a Liga, que é de todos. Fazemos parte do Forte Futebol, o Fluminense é um dos grandes que encabeçam o grupo. Lutamos por uma melhor divisão de receitas no futebol brasileiro. Deixando claro que estamos nos referindo aos direitos de transmissão e comerciais de uma liga de futebol. Quando falam em melhorar a divisão de receitas, se esquecem que 70% das receitas não tem como criar a regra, porque são individuais. A única receita que é capaz de ter uma autorregulação são os direitos de TV e comerciais. Corresponde a mais ou menos 30% da receita dos clubes mais poderosos e 50% dos com menor poder financeiro. O único lugar onde os menores podem melhorar é nessa receita. Alguns clubes faturam mais na venda de camisas, ingressos, sócio. Na receita de TV eles já faturam mais do que nós. Até onde a gente fatura mais eles ganham muito mais do que nós. A nossa proposta é diminuir a diferença e equiparar aos modelos europeus. As ligas onde tem a melhor divisão de receitas são as que mais faturam. A Premier League é a primeira e que tem menor diferença. O clube que faturou mais esse ano ganhou 1,6% mais do que o último. O que eles querem manter é uma discrepância criada pelas pesquisas de torcida de que são maiores e por isso tem que ganhar mais. E aí está errado. Nossa briga não é tomar dinheiro de ninguém, o contrato atual é até 2024. O primeiro investidor que se interessou queria melhorar a divisão no contrato de agora, mas já está assinado, não teria como. Mas dali em diante, a Liga tem um preço. Como deixa mais justo? Melhorando a divisão de receitas e não igualando. A proposta é começar com 3,5% e depois em um futuro distante chegar a 1,6%, que é a fórmula mágica.

UOL: Você chegou a dizer que conversaria com o Thiago Neves para 2023. Como está a situação?

Thiago Neves comemora um dos gols marcados pelo Fluminense na final da Libertadores de 2008 contra a LDU - REUTERS/Bruno Domingos - REUTERS/Bruno Domingos
Thiago Neves comemora um dos gols marcados pelo Fluminense na final da Libertadores de 2008
Imagem: REUTERS/Bruno Domingos

Mário Bittencourt: O Thiago Neves ao longo da temporada 2022 manifestou o interesse de voltar ao clube. Foi oferecido, mas explicamos que não contávamos com ele nesse momento. Depois foi conversada a possibilidade de fazer uma despedida em 2023. Ele tem o desejo de encerrar a carreira no clube. Não tem absolutamente nada definido sobre esse assunto, apenas conversas preliminares da possibilidade de ele encerrar a carreira em 2023 e fazer uma despedida no Fluminense como outros jogadores também manifestaram.

UOL: Ainda é possível ter voto online nessa eleição? Por que até hoje não teve um avanço positivo nesse sentido?

Mário Bittencourt: Um pré-candidato de oposição e alguns outros opositores entraram na Justiça. Já havíamos buscado um parecer técnico-jurídico, que apontou dificuldades. Aguardamos a decisão judicial para entender como seguir. A Justiça decidiu, na semana passada, pela impossibilidade da adoção do voto online sem que haja uma mudança no estatuto. Agora estamos encaminhando a questão internamente para ver como proceder.

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