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Ídolo do Santos 'segurou' Miguelito e impediu ida ao Palmeiras em 2018

Miguelito estreia com a camisa do Santos em partida diante do Juventude, pelo Campeonato Brasileiro. - Raul Baretta/Raul Baretta/AGIF
Miguelito estreia com a camisa do Santos em partida diante do Juventude, pelo Campeonato Brasileiro. Imagem: Raul Baretta/Raul Baretta/AGIF

Do UOL, em Santos (SP)

12/10/2022 04h00Atualizada em 12/10/2022 09h48

O ano era 2018. Numa tarde despretensiosa no CT Rei Pelé, o time sub-15 do Santos enfrentaria a seleção boliviana da categoria. Parte do elenco do Peixe estava em um torneio no exterior com o então técnico Emerson Ballio. Fabricio Monte, o auxiliar, foi o responsável pelo amistoso contra os estrangeiros. Naquele dia, alguém diferente apareceu.

Agora no comando do sub-13, Fabricio Monte esperava um jogo fácil e confirmou a previsão ao ver atletas de pouca qualidade no aquecimento, além de um goleiro bem baixo. No meio dos bolivianos, porém, um garoto "japonês" brilhava ao bater na bola: Miguelito, meia que estreou como jogador profissional do Santos nesta semana, contra o Juventude, quatro anos depois.

Nos primeiros instantes do jogo-treino, o canhoto Miguel recebeu, fez fila e acertou o canto: 1 a 0 para a Bolívia. O Santos virou para 6 a 1, com destaque para Marcos Leonardo, atual centroavante do Peixe, mas o camisa 10 adversário chamou a atenção em todos os minutos. Quando o árbitro apitou pela última vez, Fabricio Monte já estava convicto: precisava trazer o Miguelito, um garoto habilidoso e de olhos puxados, para o Peixe.

Paulo Roberto, o representante de Miguel, estava no CT. Fabricio buscou informações e soube que o mesmo amistoso havia ocorrido contra o Palmeiras e o rival do Santos estava interessado. O auxiliar foi falar com os funcionários da base e ouviu graça: "Boliviano não sabe jogar bola, cara". No meio dos espectadores, porém, havia um olhar especial: o de Lima, ídolo do Santos. O eterno "Curinga da Vila" participava da equipe de captação à época.

Quando Fabricio Monte foi comentar de Miguelito para Lima, o ídolo se antecipou: "Só deu o camisa 10 no jogo. Quem é ele?". Como Lima aprovou o jovem, os demais funcionários que estavam reticentes mudaram de opinião. E Fabricio ganhou respaldo para conseguir o que queria: contratar o "japonês".

"Eu não aguentei, falei para todo mundo sobre o japonês. Ele driblou o treino inteiro. Eu peguei meu carro, fui do CT para a Vila Belmiro e pedi para falar com o Marco Maturana, gerente da base na época. Falei que o Miguel era um absurdo e que o Santos não poderia perdê-lo. Era o início da gestão do Peres [José Carlos, ex-presidente] e a base não me conhecia tanto, mas falei do meu histórico de ajudar a revelar talentos e que o Miguel não perdia em nada para eles. E o Maturana topou", disse Fabricio Monte, ao UOL Esporte

"Alguns que trabalhavam no Santos, metidos a entendidos, falaram que só na minha cabeça um boliviano jogaria no Santos. Falaram para eu deixar pra lá, mas a sorte é que o seo Lima veio, concordou e aí todo mundo mudou a opinião. Lima é um baluarte. Se não fosse ele, talvez eu não conseguiria segurar o Miguel em Santos", completou.

Miguelito tinha voo marcado para a Bolívia, mas o Santos fez uma proposta para ele voltar, emitiu novas passagens e, após o esforço de Fabricio Monte e o aval do ídolo Lima, segurou o talento. O boliviano agora tem 18 anos e faz parte do elenco profissional do Peixe.

Miguelito ficou quatro anos na base do Santos - Pedro Azevedo/Santos FC - Pedro Azevedo/Santos FC
Miguelito ficou quatro anos na base do Santos
Imagem: Pedro Azevedo/Santos FC

Haja paciência

Miguel Angel Terceros tinha 14 anos quando foi contratado pelo Santos, mas a lei só permite o registro do acordo na CBF e na Fifa com a maioridade para atletas estrangeiros.

O Peixe, então, fez uma espécie de vínculo de prestação de serviço, ofereceu ajuda de custo e cedeu seu alojamento a Miguel. Com o passar do tempo, porém, ficou difícil "esconder" o meia-atacante.

Mesmo sem poder competir oficialmente pelo Santos, Miguelito chamou a atenção em amistosos no CT Rei Pelé e convocações para seleções de base da Bolívia. Aos poucos, o garoto passou a ser notícia no meio do futebol.

O Peixe, então, ficou preocupado e buscou formas de segurar a joia. O ex-gerente Jorge Andrade, atualmente no Sport, chamou família e estafe do Miguel para fazer uma espécie de pré-contrato. Nessa reunião, o dirigente ouviu uma promessa: Miguelito não sairia até agradecer pela oportunidade. E o juramento foi cumprido: ele nunca cogitou sair.

Miguel completou 18 anos em abril de 2022 e ainda precisou esperar julho, na reabertura da janela internacional de transferências, para poder assinar seu primeiro contrato profissional e estrear em competições pelo sub-20. Agora, em outubro, ele estreou pelo grupo principal.

Miguelito e seus pais na Vila Belmiro após assinar contrato com o Santos FC - Reprodução/Santos FC  - Reprodução/Santos FC
Miguelito e seus pais na Vila Belmiro após assinatura do contrato com o Santos
Imagem: Reprodução/Santos FC

Pacto pelo segredo

Em 2021, o ex-técnico Fernando Diniz viu Miguelito nos treinamentos do sub-20 e se encantou. O atual treinador do Fluminense ficou frustrado quando soube que não poderia utilizar o boliviano nos jogos, mas topou chamá-lo para atividades com o elenco profissional.

Para não dar holofote a Miguel antes da assinatura do contrato, o Santos fez um combinado: o garoto não poderia aparecer. O Peixe conversou com o atleta para não fazer publicações nas suas redes sociais, tirou fotos evitando mostrá-lo e não liberou qualquer entrevista à imprensa.

Miguelito, então, viveu como um "fantasma" a rotina de jogador profissional. Quando Diniz foi demitido, ele voltou para a base.

"Vivi uma experiência muito boa com o Fernando Diniz. Eu treinava com o elenco profissional quase toda semana. Me ajudava muito, conversava sempre comigo e tenho carinho especial por ele. Sempre me ajudava a progredir, me falava a todo momento sobre os erros a serem corrigidos", disse Miguel, em entrevista recente ao UOL Esporte.

Preparado

Miguelito precisou esperar quatro anos para assinar seu contrato profissional e estrear oficialmente pelo Santos. Esse período teve muita ansiedade e paciência, mas ajudou o garoto a se preparar.

Enquanto vários jovens vivem a expectativa diária de subir ao elenco principal, Miguel sabia que a primeira possibilidade só viria em julho de 2022. O foco, então, foi adquirir maturidade e evoluir nos treinamentos para estar pronto, não para ser promovido.

O Santos adota cautela e quer aumentar aos poucos a minutagem de Miguelito, mas sabe que o boliviano é diferenciado e sente que ele está preparado para corresponder às expectativas criadas desde 2018, quando o "japonês" deu seus primeiros dribles no CT Rei Pelé.

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