Para falar de futebol, brasileiro prefere Galvão Bueno a influenciadores
Classificação e Jogos
Um estudo inédito do UOL mostrou que as novas formas de conteúdo estão longe de ameaçar o alcance da TV aberta na Copa do Mundo do Qatar, a partir do dia 20 do mês que vem.
Segundo a pesquisa feita em parceria com o Instituto Mind Miners no início do ano, 76% dos torcedores continuam optando pelos canais abertos para acompanhar partidas de futebol. Sites de vídeos como o YouTube (32%), ou outras formas de streaming (27%) permanecem com fatias menores do mercado. Na Copa do Mundo, maior evento dos gramados, os direitos pertencem à Globo, que transmitirá o Mundial com exclusividade na televisão aberta e fechada (SporTV).
O levantamento do UOL foi online, com 1.800 pessoas das classes A, B e C de todas as regiões do país, separando também a influência das gerações (Z, 'millenials' ou 'boomers') nas escolhas.
Os números completos estão abaixo.
Se é Globo, é Galvão
O histórico de forte presença da Globo na futebol na TV Aberta encaminha ao principal narrador da emissora, Galvão Bueno, a preferência do público na pesquisa do UOL.
Com a pergunta "Quem são seus narradores preferidos?", e com a opção de assinalar até três nomes, Galvão apareceu em 35% das respostas. A opção a seguir, com 33%, foi "Não tenho narrador favorito". A Copa do Mundo do Qatar será o adeus de Galvão às narrações, e a pesquisa deixa claro o vazio que marca o segmento depois da sua aposentadoria.
"Eu vivo de juntar palavras. E se elas já começaram a me faltar aqui, imagine no meu último jogo? Não sei o que vou dizer", contou Galvão no evento de apresentação da Globo para a transmissão da Copa do Mundo, no mês passado.
Os 33% da pesquisa do UOL que dizem que não ter um narrador favorito do futebol na TV - um terço exato das escolhas — significam uma quantidade pequena em comparação aos 68% que afirmam não ter nenhum influenciador preferido de futebol.
Entre os influenciadores, o predileto até aqui é Casimiro, com 10% das escolhas no levantamento. A Copa do Mundo que começa em novembro será a primeira depois da pandemia de covid-19, refletindo toda a mudança de consumo de conteúdo trazida pelo isolamento.
TV forte no mundo todo
Há, por parte do público e dos especialistas, grande curiosidade para conferir como serão as negociações de direitos de transmissão a partir de agora — e como tal pluralização vai impactar os modelos de negócios das competições e das emissoras.
"Acho que a pesquisa reforça algo que está cada vez mais claro, e não apenas no Brasil: a força da TV aberta na transmissão de eventos esportivos ao vivo", analisa Mauricio Stycer, crítico de TV e colunista do UOL e da "Folha".
"Acho saudável a maior variedade de mídias transmitindo partidas de futebol, mas a TV aberta permanece como a opção mais fácil e acessível, e democrática, porque é sem custos para o espectador."
Juntar a família na frente da TV, porém, pode ser um hábito de menor peso nas Copas futuras, por conta da chegada do sinal 5G ao Brasil e da proliferação dos influenciadores.
"Esse quadro [da TV aberta] pode mudar no futuro com a melhora da situação econômica, que permitirá a mais espectadores terem acesso a banda larga de qualidade", conclui Stycer.
Sinal dos novos tempos, a Globo perdeu a exclusividade da Copa do Mundo para o digital (internet e mobile) na renegociação de uma dívida adquirida com a Fifa durante a pandemia. A Fifa, portanto, pode negociar o streaming diretamente com empresas como Netflix, Warner (com a HBO Max) e Amazon (Prime Vídeo), além de redes sociais como Facebook e Twitch.
Não houve acordos até aqui, mas tal mudança de formato para os próximos Mundiais sugere que está por vir uma nova era na maneira de se ver esporte, com transmissão ao vivo em outras plataformas, embora seja prematuro decretar que a TV será desbancada.
"Nos surpreendeu"
Jeffrey Cole, diretor do Center for The Digital Future, da escola de comunicação norte-americana USC, também imagina que o peso da TV no cotidiano do público não está ameaçado frente às plataformas de streaming como o Netflix e a Disney.
"As plataformas, atualmente, possuem as maiores estrelas e os melhores roteiros. Isso afeta os cinemas, mas não os canais da TV aberta", resume.
"A audiência da TV tradicional em todo o mundo subiu nos últimos anos quase a mesma coisa do que a do streaming. Isso nos surpreendeu. Para buscar informações sobre a covid-19, as pessoas retornaram à televisão, e não aos jornais, para conseguir informações confiáveis, para conferir se os fatos eram verdadeiros."
"Acabou! É Hexa"?
O grande assunto da TV brasileira na próxima Copa do Mundo será, inevitavelmente, o adeus de Galvão Bueno às narrações — e "por cima", como deixa clara a preferência do público na pesquisa do UOL.
"Narração não faço mais, a última será em 18 de dezembro, na final da Copa do Mundo. Mas outras coisas, quem sabe. Não farei mais nada em televisão se não for na Globo", afirma o narrador, que já conduz um podcast que mistura TV e Instagram, o "PodFalar, Galvão".
"Estamos conversando sobre algumas participações pontuais. Não existe contrato ainda, mas quem sabe convites para falar algumas bobagens em alguns programas."
Galvão transmitiu sua primeira Copa do Mundo em 1974, se encarregando das transmissões da Globo a partir de 1986, no México.
Sua despedida indica um tom ainda mais sentimental nas transmissões de TV dos jogos do Brasil: "O único presente que eu gostaria de ter é a seleção brasileira ao meu lado na final dessa Copa do Mundo. Vai ser um momento muito forte na minha vida".
Famoso pelo esganiçado "Acabou! É tetra!" na Copa de 1994, Galvão e seus muitos fãs torcem desde já pelo enlouquecido "Acabou! É hexa!" que encerraria sua vida nas transmissões.
E depois de Galvão, o que virá? Mais espaço às mulheres, segundo a Globo. "A vitória das nossas narradoras e comentaristas é muito importante. Já deveria ter acontecido antes, e talvez alguns de nós sejamos culpados por essa demora", finalizou Bueno.
Influenciadores disputam Copa à parte
Uma das grandes curiosidades para esta Copa do Mundo será conferir como ex-atletas vão se sair no papel de influenciadores digitais. Um dos grandes exemplos é o do argentino Sergio Agüero, de 34 anos, que se aposentou do futebol em dezembro por um problema cardíaco.
"Não tenho nenhuma meta específica nesta Copa", comentou Agüero, despojado como sempre. Ele garante que não pretende concorrer com as emissoras ou obtendo informações exclusivas. "Minha única missão será ocupar bem o tempo fazendo uma coisa que me dá prazer e que de certa maneira preenche minha rotina, agora que estou fora do futebol."
Uma prévia do seu trabalho veio nas Eliminatórias e nos jogos da Liga dos Campeões, quando apareceu na ESPN argentina e teve acesso a vários colegas de seleção argentina e ex-jogadores, como o capitão Óscar Ruggeri. Suas "lives" intermináveis vararam a madrugada em meio a desafios de games com os seguidores.
Entre influenciadores que não são ex-atletas, destaque ao espanhol Ibai Llanos, amigo de várias estrelas do futebol, atuando praticamente como porta-voz informal de craques como Lionel Messi e Gerard Piqué. De olho em tais profissionais, veículos tradicionais de Argentina e Espanha abrem espaço crescente a seus trabalhos por meio de parcerias.
No Brasil, jovens saídos do anonimato, como Luva de Pedreiro, têm, com a Copa, a melhor das oportunidades para despontar.
"Eles vão se deparar com um mercado profissional e publicitário que é muito diferente daquele uso divertido das redes sociais", aponta Issaaf Karhawi, autora do livro "De blogueira a influenciadora".
"Muitos influenciadores precisam lidar com discurso de ódio, precisam lidar com tanto 'hater', com o risco de cancelamento, então tem várias questões de saúde mental. Esta não é uma profissão de 15 minutos de fama, é uma carreira. O Luva de Pedreiro deu pistas para a gente de que tem coisas muito mais complexas do que ter milhões de seguidores nas redes", finaliza.
Os números completos da pesquisa
Onde você costuma assistir aos jogos de futebol?
TV aberta (76%), TV paga (46%), sites de vídeos como o YouTube (32%), streaming (27%)
Narrador preferido
Galvão Bueno (35%), não tenho (33%), Cléber Machado (22%), Luis Roberto (12%), Milton Leite (11%), Silvio Luiz (10%), Téo José (8%), Renata Silveira (6%), André Henning (5%) e Nivaldo Prieto (5%)
Influenciador preferido
Não tenho (68%), Casimiro (10%), Tiago Leifert (8%), Luva de Pedreiro (6%), Cartolouco (4%), Desimpedidos (4%), Fred, dos Desempedidos (4%), Igão e Mítico, do Podpah (4%)
* Soma das gerações Z (nascidos entre 1997 e 2012), 'millenials' (entre 1981 e 1996) e 'boomers' (1946 a 1964), com três opções assinaladas para cada questão
A pesquisa
Para compreender os hábitos do torcedor brasileiro durante a Copa do Mundo, o UOL realizou a pesquisa "A Torcida Brasileira", mapeando os interesses do público e os planos para assistir aos jogos, dentre outros cenários.
A pesquisa quantitativa coletou respostas online de usuários da plataforma MeSeems, da MindMiners. Ao todo, foram 1.800 entrevistas em maio deste ano. Foram ouvidos homens e mulheres acima de 16 anos, das classes A, B e C, pertencentes a todas as regiões do Brasil e conectados à internet.
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