Ex-Flu, Nonato elogia Diniz e inicia sonho europeu: 'Fiz um gol no Roma!'
Foram 12 dias entre o último jogo pelo Fluminense e a estreia pelo Ludogorets, da Bulgária, com direito a gol na Roma em partida pela Liga Europa. "Tudo aconteceu muito rápido", admite o volante Nonato, que vive o começo do que considera a realização de um sonho. A mudança de rumo também trouxe hábitos que até então não imaginava, como voltar a pé do estádio após uma partida.
Destaque do time tricolor sob o comando de Fernando Diniz, o jogador ressalta a importância que o treinador teve no momento da carreira pela qual atravessa.
Feliz nas Laranjeiras, o jogador fazia planos, que sofreram uma alteração de rota na reta final da janela de transferência. Àquela altura, o Internacional, então detentor dos direitos, havia avisado ao Tricolor sobre a oferta. A diretoria carioca, que tinha a prioridade na compra, se movimentou pela manutenção, os búlgaros fizeram uma nova investida e, no fim, a vontade de Nonato pesou mais. A oferta salarial era considerada irrecusável por ele.
"O processo inteiro durou um pouco mais de uma semana. Foi muito rápido, de uma hora para outra. Estava fazendo planos no Fluminense, imaginava finalizar o ano bem. Apareceu, no final da janela, uma oportunidade que nós, eu, o Fluminense e o Inter, entramos em um consenso. Eu tinha objetivos e sonhos, e um deles era disputar um campeonato europeu. Os planos mudaram de uma hora para outra. Parecia que nem era de verdade tudo que estava acontecendo, e tratei da maneira mais transparente possível", disse, ao UOL Esporte.
"O Fernando Diniz foi um parceiro nesta etapa da minha vida. Agradeço muito a ele, que tentou muito me ajudar de todas as formas. Como disse, não só nesta parte dentro de campo, que as pessoas veem, mas no extracampo também, na negociação. Ele foi um fator importante nesta etapa da minha carreira em que pude evoluir e conseguir ter essa oportunidade de realizar um sonho. Vou poder dizer aos meus filhos que fiz um gol no Roma (risos), é algo que pouco mais de um mês atrás eu não fazia ideia que isso podia acontecer, e hoje estar vivendo isso é extraordinário", completou.
Já estabilizado na cidade de Razgrad, onde fica o Ludogorets, Nonato tem uma nova rotina após as partidas, quando volta andando, algo que o surpreendeu.
"Consegui um lugar próximo do estádio. É legal porque, depois do jogo, dá para vir a pé para casa, algo que é fora da realidade do Brasil (risos). Acaba o jogo e tem uns torcedores do lado de fora, que a gente atende. Depois já vem para casa andando mesmo. Caminhando não dá nem uns cinco minutos. Nunca tinha passado na minha cabeça algo assim", brinca.
Ele se despediu das Laranjeiras às vésperas do confronto com o Corinthians, pela semifinal da Copa do Brasil — o Tricolor empatou no Maracanã e acabou eliminado na Neo Química Arena após derrota por 3 a 0. Diniz fez testes até firmar Martinelli.
Em recente entrevista, o treinador do Flu lamentou o momento da temporada em que o adeus de Nonato aconteceu. E o jogador também. Foram pouco mais de dois meses como titular absoluto.
"Acredito que o momento que aconteceu foi o que mais me doeu. Fui me despedir deles, acho que todos entenderam meu lado, mas deixei bem claro que, talvez, aquele não era o momento ideal. Foi uma escolha muito difícil de tomar, minha e da minha família. Não foi nada fácil, mas até pelo fechamento da janela, era algo que precisava ser naquele momento. Nunca sabemos quando uma oportunidade como essa vai surgir na vida", salienta.
Nonato, inclusive, lembra de um encontro com Diniz antes mesmo de trabalharem juntos, em que o técnico "profetizou" o encontro que viria a acontecer meses depois, no Fluminense:
"Uma vez, encontrei com ele em um restaurante no Rio de Janeiro, ele treinava o Vasco à época, se não me engano. Fui cumprimentá-lo porque admirava o trabalho e ele disse que já tinha tentado me levar para dois ou três times, e que achava que um dia a gente ainda ia trabalhar junto. Mas morreu ali. Até tirei uma foto com os filhos deles, que acho que são tricolores. Acabou acontecendo, por ironia do destino, de, menos de um ano depois, a gente trabalhar junto. No começo, foi meio conturbado porque tive aqueles episódios das expulsões. Logo que ele chegou, não consegui ter uma sequência, mas ele me deu confiança, falou muito comigo sobre o que achava do meu jogo, do que encaixava com a ideia dele. Foi muito importante essa etapa dentro do Fluminense, em que ele me deu essa confiança para que eu pudesse jogar o melhor futebol, talvez, na minha carreira", afirmou.
"Na negociação, ele era quase que o intermediário entre mim, o presidente Mário e Paulo Angioni. Ele é o homem de confiança da diretoria. Só que todos nós sabemos da realidade financeira do Fluminense, que passa por dificuldades. Isso é uma realidade e era bem explícito em nossas conversas. E o Diniz foi um cara que tentou me valorizar de uma forma que ele pensava e acreditava, e sou muito grato a ele por isso".
Você citou ser um sonho estar no futebol europeu. O que passa em sua cabeça?
"Tenho três jogos na Liga Europa, consegui levar meu pai para Sevilla [Espanha] para o jogo que joguei contra o Betis. Meu pai até comentou que, no meio da torcida, estava na área vip, onde ficam os convidados do clube, pegou o cachecol do Ludogorets e começou a girar. E aí, falaram que não podia fazer (risos). Daqui a alguns anos ver que a mesma pessoa que em 2016 foi de São Paulo para Monte Azul Paulista, que fica seis horas da capital, para ver minha estreia como profissional e hoje assiste a um jogo na Espanha, contra um gigante Europeu..."
Como foi o encontro com o Luiz Henrique?
"Só fiquei bolado porque ele fez o primeiro gol pelo Betis contra a gente. Ele é um menino que merece para caramba e tem tudo para alçar voos ainda maiores ate aqui na própria Europa".
Já pode perceber diferenças mais gritantes entre o futebol europeu e brasileiro?
"Acho que, em relação ao futebol, é um jogo mais tático que o Brasil. Eles priorizam muito essa parte, os próprios treinamentos são muito voltados para isso. No Brasil, claro que tem a tática, mas, às vezes, acaba sendo mais dependente da qualidade individual do jogador. Aqui, eles gostam do mecanismo, da equipe jogando no conceito que o treinador quer, e isso é treinado exaustivamente durante a semana. O próprio respeito que existe entre o interno e o externo é grande. No Brasil, às vezes, acaba confundindo essa questão da paixão, do fanatismo... É legal, mas às vezes ultrapassa o limite do aceitável. Ainda não estou vivendo 100% porque é muito começo, mas acredito que é isso"
De alguma forma, a Bulgária sente os impactos do conflito entre Rússia e Ucrânia?
"Minha mãe falou isso [a guerra] mil vezes (risos). Poucas vezes foi comentado aqui onde estou. Era uma preocupação que minha família tinha, até natural, mas nunca... Às vezes, a gente vê uma notícia na TV ou outra, mas nada que influenciasse uma rotina no clube ou que o governo avisasse algo. Até agora, não foi uma preocupação que tivemos e espero que continue assim.
Inclusive, o nosso zagueiro é ucraniano e é muito triste ele comentar sobre a família dele que está lá. É muito triste. Ele não pode voltar, até por ter esposa e filhos aqui, então ele fica de mãos atadas nesta história. É um sentimento de tristeza bem grande a forma que ele trata desse assunto".
E quanto à sua função?
"Em relação à função, principalmente no estilo do Diniz, ao qual estávamos acostumados, é um jogo que não guarda muita posição, tem liberdade maior de circular pelo campo, atacar espaços. Aqui eles gostam, como chamam atualmente, do 'box to box', mas tem de guardar mais posição, em relação ao último trabalho. É um pouco difícil de adaptar, mas acho que já estou pegando"
Algum episódio que tenha te marcado até aqui?
"Teve um, acho que no próprio jogo da Roma, tirando essa parte do gol. Lembro de estar todo mundo bem ansioso para a partida, porque, querendo ou não, é um jogo contra um grande time da Europa. Como iniciei no banco, às vezes, via que o bandeira tinha errado, dado lateral para o outro lado, contra a gente, e já me preparava para levantar, olhava e ninguém fazia nada. Pensei: 'Será que ninguém vai falar nada?'. No Brasil, isso é muito comum. Ficava meio que agoniado, olhando para o lado para ver se ninguém ia reclamar (risos). Aqui a galera é outro pensamento".
Aí já se vive o clima de Copa do Mundo?
"Como a própria Bulgária não vai estar, não é um assunto do dia a dia, mas com tem muito jogador estrangeiro e que são convocados para a seleção nacional, é mais comentário interno. No geral, no extracampo, não se ouve muito não"
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